Quem trabalha mais: os homens ou as mulheres?

Realiza-se durante o dia desta terça-feira, dia 28 de Junho de 2016, no Hotel Tivoli Oriente (Lisboa), a conferência final do projecto INUT – Inquérito Nacional aos Usos do Tempo de Homens e de Mulheres. A conclusão a que se chegou foi que, no total de horas de trabalho pago e não pago, são as mulheres que trabalham mais. Mas sete em cada dez dizem que é justo.

 

Foram assim apresentados e discutidos os resultados da pesquisa levada a cabo desde Outubro de 2014 por uma equipa do CESIS – Centro de Estudos para a Intervenção Social em parceria com a CITE – Comissão para a Igualdade no Trabalho e no Emprego. Este projecto conta com o apoio do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu, EEA Grants, Área de Programa PT07 – Integração da Igualdade de Género e Promoção do Equilíbrio entre o Trabalho e a Vida Privada.

O trabalho de investigação, coordenado pela Doutora Heloísa Perista, incluiu um inquérito nacional aos usos do tempo dirigido a uma amostra estatisticamente representativa da população residente em Portugal com idade igual ou superior a 15 anos, num total de 10146 pessoas respondentes, bem como um conjunto de 50 entrevistas em profundidade a mulheres e homens que, vivendo em situação de conjugalidade ou monoparentalidade, articulam na sua vida quotidiana uma atividade profissional e os cuidados a filhas ou filhos com idade igual ou inferior a 15 anos.

Aqui ficam algumas das conclusões mais importantes do estudo:

1. Horários longos: 34,4% dos homens e 25,6% das mulheres declaram dedicar normalmente mais de 40 horas por semana ao seu principal trabalho remunerado. Cerca de uma em cada três pessoas, nos últimos 12 meses, trabalharam durante o seu tempo livre para dar resposta a solicitações profissionais.

2. Homens, mulheres e trabalho pago: em média, o tempo de trabalho pago (incluindo actividade profissional e deslocações entre casa e local de trabalho) é de 9h02m para os homens e de 8h35m para as mulheres.

3. Homens, mulheres e trabalho não pago: o trabalho não pago (tarefas domésticas e trabalho de prestação de cuidados a crianças, a jovens e/ou a pessoas adultas em situação de dependência ou incapacidade) implica para as mulheres, em média, uma afectação de tempo diária de 4h23m, enquanto para os homens implica apenas 2h38m. Considerando, apenas, as pessoas com actividade profissional, o trabalho não pago ocupa, em média, 4h17m às mulheres e 2h37m aos homens.

4. Somando trabalho pago e não pago conclui-se, relativamente às pessoas com actividade profissional, que, em média, as mulheres trabalham em cada dia útil mais 1h13m que os homens.

5. Em todos os grupos etários são as mulheres que mais tempo dedicam às tarefas inerentes ao trabalho de cuidado e às lidas domésticas. As disparidades de género, em relação ao tempo médio afecto ao trabalho não pago, persistem no grupo etário mais jovem (15-24 anos), com as jovens a registar mais 1h21m por dia que os jovens.

6. A participação dos homens é mais evidente no trabalho de cuidado, nomeadamente no que respeita ao exercício da sua paternidade, i.e. à prestação de cuidados a filhos ou filhas. Em contrapartida, a participação masculina é mais reduzida nas tarefas domésticas, nomeadamente naquelas que têm uma natureza mais rotineira (e em particular em relação ao cuidado da roupa: lavar, passar a ferro, etc.).

7. Também feminizadas são as redes de apoio: as pessoas com quem maioritariamente se partilha as tarefas domésticas, exceptuando a partilha entre cônjuges, são as filhas e/ou as mães.

8. Apesar destas assimetrias, cerca de sete em cada dez mulheres expressam a opinião de que a parte das tarefas domésticas realizada por si corresponde ao que é justo. Pouco mais que duas em cada dez consideram fazer mais do que é justo. Entre os homens, menos de um em cada cinco assume ter consciência de que faz menos do que é justo.

9. Mais de uma em cada três mulheres – face a um em cada quatro homens – declara sentir com alguma frequência dificuldades em concentrar-se no trabalho pago devido às suas responsabilidades familiares.

10. Verifica-se que a duração e a desigual distribuição das licenças por maternidade e paternidade constituem motivos comuns de insatisfação, desde logo por implicarem uma sobrecarga das mulheres no que diz respeito aos cuidados a crianças, independentemente do maior ou menor grau de acordo manifestado relativamente à distinção dos papéis e das responsabilidades entre mães e pais.

11. A Área Metropolitana de Lisboa destaca-se como o território onde uma maior proporção de pessoas sente dificuldades na relação entre as ocupações diárias (emprego, tarefas domésticas, cuidados às crianças, etc.) e os horários do contexto envolvente, desde logo o horário de trabalho da/o cônjuge / companheira/o, mas também o horário de serviços administrativos, escolas e outros equipamentos de apoio à infância, etc.

12. 45,4% das mulheres e 36,6% dos homem sentem que andam apressadas/os todos os dias ou com frequência. E 39,4% das mulheres – face a 30,2% dos homens – consideram que, no seu dia-a-dia, raramente têm tempo para fazerem as coisas de que realmente gostam.

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