Práticas de sustentabilidade enganosas afectam ambiente de trabalho

O facto de as empresas adoptarem práticas de sustentabilidade superficiais ou enganosas afecta negativamente o ambiente de trabalho, reduzindo a motivação e a produtividade dos seus colaboradores, concluiu um estudo do Instituto Superior Miguel Torga (ISMT), de Coimbra.

Célia Santos, investigadora que coordenou o estudo e docente do ISMT, disse à agência Lusa que o “greenwashing” (ecobranqueamento) «tem sido estudado na área do Marketing e da Cadeia de Logística, mas o efeito nos colaboradores tem ficado de lado».

«Essa foi uma lacuna que identificámos em estudos anteriores, daí a motivação para estudarmos o efeito destas práticas», que reduzem a satisfação dos colaboradores com a profissão e também o sentimento de pertença à empresa, acrescentou.

O estudo realizado em Portugal mostrou que, ao aperceberem-se dessas práticas, os colaboradores passam «a fazer exclusivamente o que lhes é pedido e que é inerente às suas funções», e as «acções voluntárias para promover práticas ambientais no local de trabalho, como economizar recursos», se tornam menos frequentes.

«O greenwashing é um sinal de hipocrisia corporativa e mina a confiança dos colaboradores nas suas empresas, criando um conflito entre os valores pessoais e as práticas empresariais detectadas», frisou Célia Santos.

Já as empresas que «adoptam práticas genuínas de responsabilidade ambiental conseguem fortalecer o vínculo com os seus colaboradores, que se sentem mais alinhados e comprometidos com a empresa», acrescentou.

Este estudo vem salientar a importância de evitar práticas de “greenwashing”, atendendo à ameaça que são para a reputação da empresa.

Célia Santos explicou que, «a partir do momento em que uma empresa que pratica greenwashing é descoberta», se verifica um “efeito boomerang”, porque a sua reputação é minada e a empresa fica «associada à mentira que decorreu de uma comunicação enganosa».

Neste âmbito, defendeu que as empresas devem apostar em «práticas ambientais autênticas e transparentes» que levarão à construção de «relações saudáveis e sustentáveis com todos os envolvidos na organização», sejam clientes ou colaboradores.

«As empresas que procuram construir um futuro sustentável devem priorizar estas práticas, investindo em estratégias ambientais reais e numa comunicação transparente que alinhe os valores institucionais que são publicitados, interna e externamente, com a realidade que os colaboradores assistem», referiu.

Segundo a investigadora, os comportamentos voluntários dos trabalhadores em prol da sustentabilidade são considerados essenciais para o desempenho ambiental das empresas, mas quando eles «percebem incoerências entre discurso e ações institucionais, esses esforços diminuem drasticamente».

«É urgente a existência de práticas empresariais responsáveis que preservem não só o ambiente, mas também a confiança e o compromisso dos seus recursos humanos», defendeu.

O Parlamento Europeu aprovou, no ano passado, uma directiva que classifica o greenwashing como uma prática empresarial desleal e exigiu maior transparência das empresas.

Esta legislação deve ser implementada até 2026, estabelecendo «medidas para prevenir práticas ambientais enganosas e reforçar a confiança dos consumidores e colaboradores nas iniciativas de sustentabilidade corporativa».

Célia Santos referiu à Lusa que, «infelizmente, as preocupações com questões ambientais são colocadas de lado» devido aos investimentos necessários para conseguir produtos ou formas de produção mais ecológicas.

«Esta directiva vem sensibilizar e obrigar os produtores e as empresas a terem mais cuidado com aquilo que dizem. Se não são amigas do ambiente, não digam que são amigas do ambiente», frisou.

Ler Mais