
Miguel Tolentino, Grupo Sonae: Criar pontes, fomentar a aprendizagem e procurar soluções
Entrou na Sonae como trainee há cerca de três décadas, passou por muitas empresas e funções, e é hoje head of People & Leadership do Grupo. Miguel Tolentino garante que é uma área verdadeiramente estratégica para o negócio (ou, “nativo” de Marketing, não se teria sentido cativado), passando a sua função por criar pontes, fomentar a aprendizagem e procurar soluções para as necessidades distintas, garantindo uma cultura forte e alinhada com os valores e o propósito da Sonae.
Por Ana Leonor Martins | Fotos Nuno Carrancho
Actuando em vários sectores, do retalho alimentar (Continente, Wells, Note ou ZU), à electrónica de consumo (Worten e iServices), passando pelo imobiliário (Sierra), entre outros, o Grupo Sonae integra 56 mil pessoas, sendo o maior empregador privado em Portugal. E é a Miguel Tolentino que cabe liderar a área de “Pessoas e Liderança” e também de “Melhoria Contínua”. Com empresas com âmbitos de actuação, dimensão e estados de maturidade muito diferentes, há desafios comuns: atracção e desenvolvimento de talento, lideranças, adaptação à transformação tecnológica e garantir culturas fortes. Aquela que é uma das maiores vantagens do Grupo Sonae – a enorme diversidade –, é também o que traz grande complexidade à sua função, complexidade essa que aumenta pela rapidez da mudança, que exige novos perfis de liderança (mais empáticos, colaborativos e humildes) e de profissionais (perfil “canivete suíço”).
Entrou na Sonae em 1996, como trainee, no Continente. Recorda o que mais o aliciou e as primeiras impressões?
Lembro-me bem do que mais me aliciou: conhecer em primeira mão e poder entrar num grupo como a Sonae. O Programa Contacto não atribuía uma função específica à partida, dava a oportunidade de conhecer todo o Grupo, perceber as várias oportunidades e, só depois, escolher o caminho que fizesse mais sentido para cada um.
Recordo-me de ficar surpreendido e impressionado com a oportunidade de ter contacto directo com as pessoas e os líderes da Sonae e de conhecer os negócios por dentro. Ainda antes de sermos escolhidos para trainees, tive o privilégio de ouvir pessoas como o engenheiro Belmiro de Azevedo ou a Cláudia Azevedo a partilhar connosco, estudantes, a estratégia da Sonae, o seu portefólio, os resultados, as decisões que iam tomar, que tipo de pessoas procuravam…
Na altura, a informação não era tão disponível e poder ouvir tudo isto em primeira mão, na Sonae, em contacto directo com estas pessoas, deu-me uma enorme sensação de privilégio.
A experiência de um jovem que, hoje, integre a Sonae é completamente diferente?
Na essência, a experiência continua muito semelhante. A lógica mantém-se: quem entra, não entra apenas para uma função específica ou para uma empresa em particular; entra para o Grupo, com toda a multiplicidade de oportunidades que uma carreira dentro da Sonae pode proporcionar. E a proposta de valor é intocável – a oportunidade de cada um ir construindo o seu percurso, de acordo com as suas motivações, competências e vontade de aprender.
Existem, claro, diferenças, da estrutura do programa às técnicas de recrutamento e selecção. Mudou a forma de fazer, mas a essência mantém-se: procuramos jovens de elevado potencial, com vontade de fazer a diferença, de deixar a sua marca.
E ao nível dos temas de Gestão de Pessoas, que diferenças e semelhanças?
A minha carreira não começou na Gestão de Pessoas, é uma área mais recente no meu percurso. Ainda assim, entre as diferenças, destaco vivermos praticamente em pleno emprego e termos um mercado de trabalho globalizado, onde muitas funções podem ser desempenhadas remotamente. Quando entrei, o leque de oportunidades era muito menor.
Mas há temas que se mantêm, como a forte preocupação com o propósito: a clareza sobre porque estamos aqui, qual a visão que queremos concretizar, qual a missão que procuramos cumprir, que coloca ao mesmo nível a criação de valor económico e de valor social de longo prazo. E a necessidade de atrair pessoas que se identificassem com esse propósito já era muito evidente.
Também a importância dos valores se mantém. Tal como de uma cultura forte e diferenciadora. E o foco no desenvolvimento e reconhecimento das pessoas, e assumir-se como escola de liderança. Já era core na Gestão de Pessoas. E continua a ser.
A dimensão e enorme diversidade do Grupo é uma grande vantagem, mas também um dos seus maiores desafios da sua função?
É verdade que, num mercado onde a retenção de talento é cada vez mais desafiante, a diversidade de caminhos possíveis pode ser uma vantagem. Aliás, temos vindo, progressivamente, a deixar de falar de “retenção” e a falar cada vez mais de “mobilidade”. Se as pessoas estiverem desafiadas, motivadas, realizadas, e se encontrarem novos projectos e oportunidades de crescimento, é muito mais provável que queiram continuar no Grupo.
É igualmente verdade que a nossa dimensão e a diversidade trazem complexidade. Mas o nosso modelo de governo está desenhado para funcionar desta forma: altamente descentralizado e com muita autonomia em cada unidade de negócio, com estruturas verticais, especializadas, profundamente conhecedoras do seu sector e da sua realidade. Isso garante agilidade, flexibilidade e proximidade às especificidades de cada empresa.
Em paralelo, mantemos estruturas, processos e práticas que permitem que todas estas unidades beneficiem das vantagens de fazer parte de um Grupo como o nosso.
Portanto, sim, acrescenta complexidade – não apenas à minha função, mas a todas as que trabalham ao nível transversal –, mas acrescenta também muito valor, muita oportunidade de diferenciação e de aprendizagem.
Assumiu as funções actuais em Setembro de 2023. O que lhe foi pedido?
Quando entrei na Sonae SGPS, existia sobretudo a necessidade de reafirmar temas transversais, assegurar a presença consistente do Grupo em áreas estratégicas e reforçar a articulação entre empresas. E isso continua a ser central na minha função: criar pontes, manter contacto com todas as áreas, fomentar a aprendizagem conjunta, perceber as necessidades de cada negócio e procurar soluções que respondam a essas necessidades, preservando ao mesmo tempo aquilo que é o “core” comum do Grupo.
Leia a entrevista na íntegra na edição de Novembro (nº. 179) da Human Resources
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