Bem-estar: Capital holístico nas organizações

A ideia do bem-estar a partir de um modelo sistémico e integral é algo que começa já a chamar a atenção de muitos lideres empresariais.

Por Paulo Vieira de Castro, director do departamento de Bem-Estar nas Organizações do I-ACT – Institute of Applied Consciousness Technologies (EUA)

Aquele que considero ser o homem que deu o alicerce moderno para estas formas holística de pensar as organizações chamava-se Rudolf Steiner (faleceu em 1925). Criou o modelo da Antroposofia, ainda a Pedagogia Waldorf e, não menos importante, a agricultura biodinâmica, a Euritimia, isto de entre tantas outras propostas orientadas para uma vivência integral e holística do ser humano.

A respeito desta nobel visão, gostaria de referir Jair Moggi. Ele foi o primeiro autor de língua portuguesa a dar valor às questões da intuição nas organizações. Esse era, aliás, o sub-título do livro que então fez questão de me oferecer há uns 10 anos: “A importância da gestão intuitiva nos negócios”. Autor de diversos obras orientadas para o mundo das empresas, tem vindo a reflectir – desde então – sobre como incorporar a espiritualidade nas empresas, tendo mesmo chegado, conjuntamente com Daniel Burkhard, ao inovador conceito “Capital Espiritual da Empresa” (editada pela Elsevier).

Para ele, soluções realmente criativas e eficazes para os problemas actuais das organizações, só poderão ocorrer a partir de um pensamento diferenciado daquele que criou esses mesmos constrangimentos. Esse é o pensamento intuitivo; aquele que nos leva além da inovação, indo até à pura criatividade. Alerta-nos, ainda, que conhecimento e técnicas podem ser compradas ou acedidas hoje muito facilmente por qualquer um, porém a essência a propósito disso tudo está ancorada em vivências práticas e numa sabedoria primordial que é eterna e arquetípica. A integração dessas várias dimensões no dia-a-dia da cultura empresarial através dos exemplos daqueles que as lideram, precisa ser cada vez mais incentivada e implementada de forma consciente.

Relembro uma história contada por Jair que lhe foi transmitida por um empresário, isto, a propósito do que é partir – verdadeiramente – das pessoas nas organizações: “À tarde, no final do expediente, todos os dias a alma da minha empresa vai-se embora com os funcionários. Fica somente o que é morto, o que não serve para nada, aquela parte da empresa que se deteriora com o tempo e desaparece.” E isso não poderia ser mais verdade. Então, por que não nos abrimos mais a uma visão holística nas organizações?

Jair parece ter a resposta para essa pergunta. Para ele, o nosso processo civilizatório tem dado maior ênfase aos aspectos quantitativos em detrimento dos qualitativos. Quando temos desequilíbrio entre esses dois componentes, matéria (crescimento) e espírito (desenvolvimento), causamos mal estar em qualquer dimensão da organização. Isso também vale para o individuo quando ele se defronta com a crise existencial entre o “ser” e o “ter”.

Pessoalmente, acredito, há muitos anos, que só uma organização que atende de forma holística a todos os seus desafios consegue a necessária autonomia, tornando-se por esta via mais criativa. Aliás, tenho por hábito afirmar, a tal respeito, que ser criativo é ter já um pé do lado de deus. Daí a importância da criatividade e da intuição no processo de gestão do capital holístico.

Concluindo, não posso deixar de concordar em tudo com o meu velho amigo. Em especial, quando ele afirma ser cada vez mais evidente que uma liderança apoiada apenas nos conhecimentos técnicos, no pensamento racional e lógico, se está a tornar cada vez menos diferenciadora e adaptada às exigências contemporâneas.

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