Flash Talk: «Para recrutar os melhores, não basta ser uma empresa de renome»
Os estágios de Verão são a primeira experiência no mercado de trabalho para muitos talentos. Mas numa área competitiva como a Tecnológica, o que é preciso para seleccionar e, acima de tudo reter, os bons colaboradores?
Por Diana Pedro Tavares
Sejam eventos de grande escala como a Web Summit, feiras de emprego para organizações estrangeiras como o Landing Jobs, ou a abertura de Centros de Excelência de gigantes como a Google, o que é certo é que Portugal é um país onde o talento tecnológico chama a atenção internacional.
Tal gera competição para a atracção de talento. Qual será o segredo para entusiasmar estes colaboradores, especialmente os que saem das universidades, em início de carreira? Marco Costa, director-geral da Talkdesk para a região EMEA, explica, em entrevista à Human Resources Portugal, como a empresa que mais rapidamente tem crescido no sector de centros de contacto se prepara para receber os estagiários, o que faz para os manter motivados e como vê o futuro do mercado.
O estágio de Verão é, muitas vezes, o primeiro contacto que estes jovens e estudantes têm com o mercado de trabalho. Como é que os profissionais da Talkdesk preparam estes talentos? Focam-se em algo em particular?
Este ano lançámos a 1.ª edição do Tech Summer, o estágio que pretende dar a conhecer como é trabalhar na área que estudam e dar a conhecer a Talkdesk como uma escola de engenharia. Os colaboradores mais seniores dão aos participantes um acompanhamento regular e próximo e colocam-nos no centro de acção, como parte integrante da equipa.
Assim, nos primeiros dias, apresentamos a empresa, os valores e os desafios, e depois arrancamos os trabalhos com um hackathon (48 horas seguidas de programação – que parece muito, mas eles adoram!). Deste são escolhidos os três melhores projectos, os quais estão realmente a ser desenvolvidos pelos participantes com a orientação e a formação dos nossos especialistas.
Queremos que este programa seja mais do que um estágio. Fazemos questão que se sintam em casa e parte da equipa e, além de aprenderem connosco, que estão a contribuir para novas aplicações e soluções. Exige mais tempo e mais atenção por parte dos nossos engenheiros mais experientes, mas sabemos que este é um investimento no futuro, em formação e da nossa própria equipa, pois acreditamos que estaremos entre as empresas a considerar quando terminarem a sua formação.
O que é que um bom estágio de Verão tem de ter, para captar o melhor talento tecnológico?
Acredito que um bom estágio integra os participantes em equipas que estão a trabalhar em projectos relevantes e que disponibiliza os melhores especialistas para os acompanhar. Só assim conseguiremos captar e reter a atenção destes jovens e deixá-los com vontade de integrar a equipa Talkdesk quando terminarem as suas formações.
E vocês, o que procuram nestes candidatos?
Somos bastante exigentes. Não é fácil recrutar nesta área, não apenas pelo grande número de tecnológicas que estão a abrir vagas, mas porque consideramos que para construir uma boa equipa temos de ter alguns requisitos. Procuramos os melhores alunos das melhores universidades do País, pessoas com paixão por esta área, que queiram ajudar a construir uma empresa que cresce a cada minuto.
Para quem não conhece o método do hackathon, em que consiste e que mais-valias traz?
O hackathon é uma iniciativa que reúne apaixonados por programação, especialistas ou não, durante 48 horas seguidas. A ideia é que os participantes se juntem em grupos e desenvolvam projectos e testem ideias disruptivas. No fim, os melhores projectos são premiados podem daí resultar novas ideias para o produto.
Esta iniciativa é recorrente na comunidade de engenheiros informáticos e programadores, mas no nosso caso em particular permitiu-nos dar oportunidade aos participantes de projectarem soluções que pudessem realmente ser implementadas na Talkdesk e, posteriormente, desenvolvê-las com os nossos melhores especialistas.
O que é preciso para que se tornem potenciais futuros colaboradores?
Bem, em primeiro lugar, têm que terminar o curso. Procuramos jovens formados em Engenharia Informática, Matemática e Data Science para os cargos que envolvem programação, mas também formados em Design para complementar o trabalho desenvolvido pelas nossas equipas. Este programa de estágio permite-nos começar a avaliar a dedicação e vocação dos participantes para esta área.
Felizmente, temos um grupo de participantes muito interessado e cheio de vontade de desenvolver novas soluções para integrar no nosso produto, e isso é muito importante. A estes factores acresce ainda a vontade de continuar a aprender, o orgulho, e a iniciativa para ultrapassar os desafios constantes para ser um “Talkdesker”.
Recrutam muitos novos profissionais com estes estágios? Qual a taxa de “retenção”?
Segundo a Frost&Sullivan, a Talkdesk é a empresa que mais rapidamente cresce no sector de centros de contacto, com mais de 1400 clientes em todo o mundo. Para acompanhar este crescimento, este ano estabelecemos o objectivo de alcançar os mil colaboradores em 2020 e, por isso, estamos a definir a nossa estratégia de Recursos Humanos e a reforçar programas de estágios e de integração.
Além disso, estamos ainda a expandir os nossos escritórios em Lisboa e no Porto, para podermos melhor receber e dar as melhores condições de trabalho às nossas equipas. Como iniciámos recentemente estes programas ainda não temos dados de retenção.
Portugal está cada vez mais na mira das tecnológicas. Somos os anfitriões da Web Summit, vários centros de excelência abrem, ao longo do ano, em várias regiões do nosso país. Como vê, pela sua experiência, esta realidade? O que significa isto para o nosso mercado de trabalho?
Este investimento de empresas estrangeiras em Portugal é óptimo para o mercado de trabalho e cria muitas oportunidades de emprego. Para nós, enquanto empresa, cria-nos o desafio de nos destacarmos entre a concorrência e posicionar-nos como aquilo que somos: uma escola de Engenharia com desafios constantes e cativantes para os engenheiros.
Esta nova realidade também precisa de uma evolução por parte das empresas, na hora de organizar os seus estágios ou de captar talento jovem?
Sem dúvida. O mercado está cada vez mais competitivo. Para recrutar os melhores, não basta ser uma empresa de renome. A visibilidade da empresa ajuda a atrair os candidatos, mas para os reter é necessário dar-lhes boas condições, não só em termos de remuneração, mas também noutros aspectos como o equilíbrio entre vida pessoal e profissional e os próprios desafios na área de trabalho.
Acreditamos que na Talkdesk respondemos a estas três vertentes. Além de sermos uma das empresas que mais rapidamente cresce entre as tecnológicas de serviços, procuramos dar as melhores condições aos especialistas e temos um software baseado em cloud que está em constante desenvolvimento e que constitui um grande desafio para os nossos engenheiros, ou seja, não existe o sentimento de estagnação.
Isto também significa concorrência. Como procuram distinguir-se dos rivais na procura pelo melhor talento?
Na Talkdesk desenvolvemos software enquanto serviço, portanto, ao contrário de empresas de projectos, nós estamos em constante criação de novas soluções e optimização das anteriores. Aqui apresentamos sempre o desafio de crescer, ou seja, de escalabilidade. Começámos por disponibilizar um serviço que apoiava centros de contacto com apenas algumas dezenas de operadores telefónicos – o que chamamos de “agentes” – e a gerir em tempo real centenas de chamadas.
Actualmente, chegamos a empresas com milhares de agentes e gerimos em tempo real milhares de chamadas, disponibilizando cada vez mais informação e mais relevante para apoiar o agente na sua interacção com a pessoa que está a contactar e a garantir de tal forma a sua satisfação que a taxa de retenção aumenta.
Trabalha com a região Europa, África e Médio Oriente. Há diferenças significativas entre Portugal e os outros países em que trabalha, nestes aspectos?
Apesar de operarmos nesses países, os nossos escritórios estão em Portugal (Lisboa e Porto) e nos EUA (São Francisco e Salt Lake City). Comparando os dois países, é possível identificar algumas diferenças – São Francisco é um dos centros de inovação mundial, onde é possível encontrar muito talento e experiência em empresas de produto e SaaS, ainda menos presente em Portugal.
Complementamos esse talento com um enorme talento tecnológico que podemos encontrar em Portugal tirando assim o melhor partido do talento que existe nas duas regiões e dados possibilidade a uma troca de experiências que enriquece, e um grande potencial de crescimento para todos.
Nomeadamente na área tecnológica, como acredita que o mercado de trabalho vai evoluir nos próximos cinco anos?
O mercado em Portugal está muito feroz. As tecnológicas portuguesas estão a crescer e Portugal tem vindo a tornar-se num país muito atractivo para grandes empresas multinacionais que têm alguma vantagem na hora de recrutar, pela reputação que construíram.
Acreditamos que esta ferocidade trará vantagens para todos os players, pois irá desafiar os jovens estudantes a quererem ser cada vez melhores para estarem na linha da frente do recrutamento.
Leia também estas entrevistas.