As pessoas num presente futurista
Num mundo confrontado com o já tão debatido “choque tecnológico”, assistimos ao aumento da pressão competitiva entre as empresas. Mas também se abre todo um mundo de novas possibilidades.
Por Paula Oliveira, senior partner da SDO Consulting
Para além da transformação digital, também novos mercados, novas culturas e novas formas de transaccionar e consumir condicionam a forma de gerir e trabalhar nas organizações. Este cenário encontra-se cheio de possibilidades e caminhos possíveis. A organização do futuro já está a emergir, logo a agilidade da transformação vai ser decisiva. Por isso mesmo, destacamos algumas tendências:
– Carreiras e aprendizagem em tempo real: cada vez mais, a aprendizagem tenderá a ser feita via multicanal, por combinações entre trocas informais de conhecimento, playlists digitais de conteúdos e fortes experiências de aprendizagem em formato blended, baseadas na cocriação e na produção de resultados relevantes. Aprendizagem rápida, potente e significativa, como pedem os millennials, mas também as outras gerações. As carreiras, por seu lado, serão definidas por projectos e pela capacidade de criar valor através da inovação permanente, em que combinamos saberes diferentes para gerar resultados cada vez mais diversificados, em equipas multidisciplinares, em que as nossas responsabilidades vão variando ao longo do ciclo produtivo. Este tenderá a ser o novo normal.
– Uma nova ordem de competências: a revolução digital requer muito mais skills de adaptabilidade, aprendizagem e mudança do que conhecimento tecnológico: a pirâmide de prioridades vai-se assim inverter. O movimento STEAM advoga a necessidade de combinar Science, Technology, Engineering, Arts e Mathematics. O espírito renascentista renasce assim com a quarta revolução digital.
– Uma nova cultura: o erro como fonte de aprendizagem, o risco como parte do negócio e da inovação, as competências e o conhecimento como um fluxo permanente que tem de ser gerido por tendências e não por desenho individual, dando espaço à liberdade de cada colaborador aprender o que necessita e desenvolver a sua carreira de forma mais ágil e potente. Para corporizar esta cultura, vamos necessitar de estruturas ágeis, plásticas e por objectos de cocriação; Tal como o Spotify já faz, o futuro é das “brigadas” – pequenas equipas de projecto que se criam e desfazem à velocidade com que entregam resultados;
– Performance baseada em feedback permanente: através, cada vez mais, de modelos mais simples e soluções digitais que permitem inclusive “gamificar” a performance de forma mobilizadora. Comunicação é a palavra do momento;
– O primado da participação multiespacial: a tecnologia vai potenciar um estilo de trabalho cada vez mais colaborativo. Isso vai ser resultado natural da inevitável desmaterialização progressiva dos postos de trabalho e dos horários de trabalho em favor de uma cultura de resultados. Para tal, contribuirá também o crescimento dos agentes livres do trabalho e o decréscimo dos “empregados tradicionais”, com vínculos estáveis e exclusivos.
– A liderança reinventada – os profissionais vão ser expostos a vários líderes ao longo do ano, que passam a ser os seus clientes. As relações hierárquicas vão ficar esbatidas por vínculos menos fortes e uma mobilidade acelerada, que fazem dos novos líderes inspiradores de equipas e mentores dos seus colaboradores, tendo de ser os guardiões da visão de conjunto do feedback constante de múltiplos beneficiários do trabalho dos membros da sua equipa. Um trabalho de atenção permanente que tenderá a ser agilizado pela tecnologia.
– People analytics – cada vez mais informação a fluir gerará volumes de dados cada vez maiores. A capacidade de os processar e interpretar vai tornar o trabalho dos gestores e dos profissionais de Recursos Humanos algo de muito mais interessante, menos operativo e mecânico, e mais interpretativo, fundamentado, certeiro e ágil. O analytics surgirá assim a suportar uma cultura de justiça percebida e de decisões cada vez mais fundamentadas.
– O desafio da diversidade e da inclusão – se a tecnologia pode facilitar a diversidade e a inclusão por via da aproximação de diferentes geografias e da capacitação de pessoas diferentes nas suas características psico-motoras, a aceleração tecnológica vai, por outro lado, acelerar o gap entre os mais capazes e os menos capazes. Há todo um mundo novo para legislar que evite que um cyborgue possa ter uma melhor recompensa porque o seu desempenho aumenta devido às suas próteses artificiais. Ou não… e quereremos todos ser entidades semi-cibernéticas.