A eficiência do bem-estar

A qualidade de vida dos cidadãos depende muito da qualidade da sociedade em que vivem, incluindo aspectos como a corrupção, a liberdade de escolha individual e colectiva, ou o respeito pelos direitos humanos. E tal também se pode traduzir na capacidade de transformar, de forma eficiente, os recursos em bem-estar.

Por Miguel Pereira Lopes, professor universitário e presidente da AG do INTEC

 

Um dos conceitos abordados na conferência anual da Sociedade Internacional para o Estudo da Qualidade de Vida, que teve lugar em Amesterdão, foi o de “eficiência do bem-estar”, que mostra que os níveis de qualidade de vida e bem-estar de um povo estão muito além do seu PIB. Alguns países com PIB relativamente elevado têm níveis de qualidade de vida mais baixos do que outros países com um PIB menos elevado, mostrando diferenças muito significativas na forma como transformam os seus recursos materiais em bem-estar colectivo.

Daí se poder identificar e medir o grau em que uma sociedade está a conseguir ser mais ou menos “eficiente” em usar os seus recursos para “produzir” maiores níveis de bem-estar. Este é agora o objectivo de alguns países, como a Noruega ou a Finlândia que, estando normalmente no topo dos rankings de qualidade de vida, identificaram muito potencial de melhoria na forma como criam bem-estar de forma mais eficiente.

Por outro lado, o foco na eficiência do bem-estar retira o exclusivo da comparação entre países nos barómetros de qualidade de vida, colocando a tónica na evolução de cada país por si mesmo. As nações são muito diferentes entre si, pelo que comparações genéricas podem deixar de lado o mais importante para cada uma delas. Medir a eficiência com que transformam recursos materiais em bem-estar colectivo permite avaliar o processo, mais do que o resultado em absoluto. Por isso, alguns governos e economistas estão já a quantificar essa eficiência.

A experiência da iniciativa “Os Melhores Municípios para Viver” desenvolvida pelo INTEC desde 2008 mostrou algo semelhante. Entre os municípios portugueses, existe uma grande variedade e realidades muito distintas, pelo que comparações genéricas podem ser mal interpretadas e infrutíferas. O mais relevante é analisar o processo de melhoria das condições de vida, como evolui o bem-estar dos cidadãos e com que eficiência os autarcas estão a conseguir transformar os recursos dos seus municípios em melhores condições e qualidade de vida.

É, por isso, necessário reunir esforços para debater e melhorar a qualidade de vida em Portugal. Alguns municípios estão já a dar o primeiro passo e é fundamental a criação de uma “Estratégia Nacional de Qualidade de Vida” para Portugal. O bem-estar dos cidadãos está directamente ligado à sua qualidade de vida e ainda há muito que o nosso país pode fazer neste aspecto.

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