A importância do sentido de causa no trabalho

O Fórum Económico Mundial elegeu o “sentido de causa” como um dos elementos fulcrais a desenvolver no “trabalho do futuro”.

 

Por Patrícia Jardim da Palma, professora associada do ISCSP, investigadora do CAPP e coordenadora da Escola de Liderança e Inovação

 

Num estudo recente que publiquei no “Journal of Entrepreneurship” sobre a influência da “visão dos empreendedores acerca do seu negócio” na obtenção de financiamento e outros recursos, deparei-me com resultados deveras interessantes. O estudo sugeriu que os empreendedores nascentes (ou seja, empreendedores que se encontram na fase inicial do desenvolvimento do seu negócio), que viam o seu negócio como uma mera “fonte de rendimento” – como um meio para ganhar dinheiro –, não conseguiam obter os recursos de necessitavam junto das entidades para desenvolver a sua ideia empreendedora. Pelo contrário, os empreendedores nascentes que concebiam o seu negócio como a “causa da sua vida” – e que por isso estavam fascinados com o impacto que a sua ideia iria produzir –, obtinham mais facilmente os recursos de necessitavam. Mais ainda, estes empreendedores eram procurados por outras entidades para fazer parcerias, cross selling e até processos de recrutamento e selecção de talentos. E estes resultados não envolveram apenas ideias empreendedoras do terceiro sector, dado que estas constituíam uma minoria.

A justificação para estes resultados, tal como sugerido no estudo, assentou na “confiança” e na “inspiração” que os empreendedores geravam nos seus interlocutores: as entidades que contactavam directa ou indirectamente estes empreendedores, confiavam mais facilmente no seu pitch de apresentação da ideia de negócio, acreditavam que esta ideia iria prosperar, pelo que sentiam vontade em ajudar e contribuir para esse crescimento.

Transpondo estes resultados para a Gestão de Recursos Humanos, será que este sentido de “causa” poderá desenvolver a confiança e a inspiração necessárias aos stakeholders para gerar o impacto tão desejado?

Já são alguns os estudos que mostram que os colaboradores que percepcionam o seu trabalho como uma “causa” têm melhores performances e são mais felizes, por comparação com as pessoas que executam o seu trabalho meramente por questões financeiras. Esta visão do trabalho, para além das inúmeras vantagens para os colaboradores, apresenta benefícios para a própria organização, principalmente em termos dos resultados finais.

Atendendo aos grandes desafios que a actual pandemia social veio introduzir no trabalho e organizações – entre os quais se destaca o “teletrabalho” –, a comunicação e o networking (à distância) passaram a assumir uma importância crucial. A rapidez na identificação das necessidades do cliente e na resolução dos problemas, mas principalmente na proposta de soluções inovadoras e disruptivas, é fundamental, pelo que a confiança e a inspiração geradas na interacção são claramente um factor facilitador, não apenas dos bons resultados organizacionais, como do impacto societal.

Mais, a confiança tende a reforçar os laços sociais entre as pessoas, pelo que o clima positivo e a vontade de permanecer na organização são incrementados. Este resultado apresenta implicações substanciais para as organizações ao nível da retenção dos colaboradores: dos profissionais em teletrabalho, dos talentos e dos millennials.

Este cenário vem, pois, levantar uma questão essencial: não será um objectivo dos gestores de Recursos Humanos e dos gestores de equipa criar as condições para que as pessoas desenvolvam um “sentido de causa” no seu trabalho? Claro que são muitos os constrangimentos que se colocam, em termos financeiros, de operacionalização e até do foro ético. No entanto, vale a pena não esquecer que as “recompensas financeiras” estão longe de constituir o elemento central da motivação e retenção dos colaboradores, pelo que é fundamental diagnosticar “o que é que as pessoas realmente valorizam” e assim facilitar a construção de “trabalhos com sentido de causa”.

 

Este artigo foi publicado na edição de Novembro (nº 119) da Human Resources.

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