A nível de benefícios, as empresas estão dar aquilo de que as pessoas precisam e que querem na realidade? «Há um grande gap a nível das pensões»

Saber se “a voz dos colaboradores está realmente a ser ouvida” foi o desafio proposto a Elsa Carvalho, head of Business Development, e Ana Amado, directora na WTW, que subiram ao palco da XXVIII Conferência Human Resources, que aconteceu ontem no Museu do Oriente, em Lisboa. E para as responsáveis, não há dúvida de que existe «um grande gap a nível das pensões».

Elsa Carvalho começou por partilhar os resultados de um inquérito global da WTW realizado este ano, a nível internacional, e que inclui Portugal, que revela que, quando questionados sobre o que valorizam mais, os colaboradores valorizam segurança e flexibilidade.

Dentro da segurança e da flexibilidade, o estudo mostra que é valorizado o pagamento, que, segundo a head of Business Development da WTW «há-de ser um factor importante para todos, porque é a valorização do trabalho. Assim sendo, a componente da segurança e da flexibilidade acabam de ser as prioridades top daquilo que as pessoas se manifestaram.»

Salientando que, depois, «há uma componente muito importante, os benefícios, não só ao nível da atracção como a nível da retenção. E esta valorização e esta prioridade que é dada aos benefícios têm crescido ao longo do tempo.»

Questionados se os pacotes de benefícios vão ao encontro das suas necessidades, em Portugal, 44% dos inquiridos portugueses disseram que sim. Para Ana Amado, «isto é uma percentagem boa, mas ainda assim, comparando com o resultado da Europa em 2017, significa que Portugal ainda tem mais uns passos para dar no sentido de se aproximar mais da Europa».

Sobre o motivo deste aumento de satisfação com o nível de benefícios, a directora na WTW refere que se deve ao aumento de informação e à democratização da tecnologia – «as pessoas conseguem aceder à informação de forma muito mais facilitada e, por outro lado, as empresas também estão mais focadas em ir precisamente ao encontro daquilo que são as necessidades dos colaboradores».

Além disso, na questão da flexibilidade, refere que «a questão de haver muitos mais planos de benefícios flexíveis é também explicado pelo facto de o aumento do leque de benefícios ser hoje também maior e, portanto, atender mais necessidades de mais colaboradores».

O estudo mostra também que, face a 2017, há um crescimento no nível de satisfação na área da atracção e na retenção de cerca de 14%. «Os colaboradores, quando decidem ir para uma nova empresa ou ficar na empresa actual, têm muito mais em conta o pacote de benefícios existente. E precisamente, quando falamos do problema de turnover, de retenção e atracção de talento que hoje existe, as empresas também estão muito mais preocupadas em pôr à disposição dos colaboradores exactamente aquilo de que precisam, e por isso disponibilizam pacotes de benefícios muito mais diversificados, muito mais competitivos», destaca Ana Amado.

Relativamente à escolha dos benefícios, actualmente ela é muito mais generalizada. E a responsável não tem dúvidas de que «a Europa está em destaque face ao resto do mundo. De 2019 para 2024, houve um crescimento significativo na Europa daquilo que é a escolha dos benefícios. E por isso, mais uma vez, a questão da oferta de leque de benefícios muito maior faz com que as pessoas sintam que estão a ser remuneradas do ponto de vista individual, já não é aquele típico pacote de benefícios igual para todos, e as pessoas sentem um nível de engagement muito maior, porque sentem que têm um pacote individualizado de benefícios.»

Sobre esta questão, Elsa Carvalho destaca que «os colaboradores confiam que o pacote de benefícios que a empresa lhes está a oferecer constitui um bom negócio, portanto acaba por ser uma relação win-win. Agora a questão é que, e já vimos do ponto de vista global, há uma apreciação, há um maior conhecimento e também uma maior disponibilização dessa mesma informação.»

E faz uma pergunta: «Será que a nível de benefícios, as empresas estão dar aquilo de que as pessoas precisam e querem na realidade? É que, quando questionados, empregadores e colaboradores respondem de forma diferente. Os benefícios de saúde são importantíssimos, bem como a componente da saúde mental, e as já empresas estão a investir nestes temas. Contudo, há um grande gap a nível das pensões, entre aquilo que as empresas estão a dar, o investimento que está a ser feito em termos de pensões, e aquilo que as pessoas necessitam de facto em termos de pensões. Este gap é significativo, porque há claramente uma consciência da parte dos colaboradores, não só a nível Europeu como em Portugal, de que não estão a fazer as poupanças necessárias para gerir a sua reforma.»

O estudo da WTW mostra precisamente que 80% dos portugueses dizem que não pouparam o suficiente para a reforma, e Ana Amado salienta que essa «é uma percentagem muito significativa». Se nos desligarmos da poupança a longo prazo e olharmos para um horizonte temporal um pouco mais curto, «as perspectivas não são muito melhores, pois um em cada três portugueses afirma ter problemas financeiros a curto prazo, 40% afirmam não terem qualquer poupança, e também um em cada três pessoas sente que está pior este ano do que há um ano», frisa a responsável.

Do ponto de vista da empresa, sobre quais os benefícios que entendem ser mais importantes, o inquérito coloca em grande destaque os benefícios relacionados com a saúde, a tecnologia, a reforma, mais uma vez, e dias de férias adicionais.

Sobre quais os factores mais relevantes da estratégia de benefícios, Elsa Carvalho acredita que «se estamos a fazer um investimento significativo, convém que este esteja alinhado com o que as pessoas valorizam. E isto acaba por acontecer, diria que é a principal prioridade, haver uma correspondência e um alinhamento entre aquilo que as empresas dão e aquilo que as pessoas valorizam. As componentes de well-being passaram a assumir uma importância cada vez maior e a serem incluídas na oferta feita aos colaboradores. Também a componente do benchmark, porque ao tomar decisões de gestão, é importante ter dados e números sobre a voz dos colaboradores, mas também sobre as tendências de mercado. E, em quarto lugar, a componente da flexibilidade de escolha. Novamente, reforçando que a flexibilidade e a escolha acabam por ser críticas e fundamentais.»

A head of Business Development destacou ainda, em último lugar, os custos: «Investimos, e convém que estes investimentos sejam correctos e sustentáveis no tempo e que esta deva ser uma prática incorporada na gestão.»

Em jeito de conclusão, Elsa Carvalho considera que a flexibilidade e escolha são fundamentais, bem como a tecnologia e a personalização: «Quando olhamos para o pacote de benefícios, a personalização é fundamental.» E deixa uma consideração para o público: «Pensem se as escolhas que estão a dar aos vossos colaboradores são as escolhas que fazem sentido e são as escolhas que eles mais valorizam.»

Ler Mais