A produtividade em Portugal é baixa. Porquê?

A produtividade é baixa, a principal causa é a falta de “cultura de trabalho”/má gestão do tempo dos profissionais, mas os responsáveis são os líderes (de topo e chefias intermédias), não os directores de Recursos Humanos. As competências são (muito) mais valorizadas do que a formação, pelas empresas. E o seu foco continua a estar no desenvolvimento das suas pessoas e não na contenção de custos. São algumas conclusões da 49.ª edição do Barómetro Human Resources.

 

Por Ana Leonor Martins

 

Há uns anos que o foco nas conversas no meio empresarial e nas agendas, inclusive dos CEO, são as pessoas. Pré- -pandemia, era a escassez de talento que dominava os debates; pós-pandemia surgiu reforçado o tema do bem-estar. O foco parece continuar, assegurando os responsáveis de que são as pessoas a sua primeira prioridade, mas a verdade, é que – ainda que por vezes um pouco em surdina – começa a ouvir-se falar dos custos. No ano passado, algumas empresas fizeram um esforço considerável para aumentar salários, para ajudar a suas pessoas a fazer face à inflação e aumento do custo de vida; por outro lado, para conseguir fazer face à falta de profissionais (com determinadas competências) e cada vez maior competitividade, para atrair e reter talento, muitas vezes, o salário é o que determina. Mas o contexto, que continua a ser de inflação e de guerra na Europa, tem trazido desafios complexos às empresas, e há uma preocupação crescente com os custos. Qual o verdadeiro foco das empresas, actualmente? É uma das perguntas que fazemos na 49.ª edição do Barómetro Human Resources.

Ligado a este tema está o da produtividade, que já abordámos no início deste ano. Vamos comparar resultados para perceber se houve mudanças na percepção sobre o tema e as suas causas. E quem se pode “culpar” pela baixa produtividade crónica em Portugal? Por outro lado, as competências e funções dos profissionais estão adequadas às necessidades das empresas? O que é mais valorizado hoje na hora de recrutar? Importante também será perceber se as equipas estão motivadas. Conceitos como “great resignation”, “quiet quitting” e, mais recentemente, “loud quitting” surgiram no léxico. Já chegaram a Portugal?

Relacionado com os temas da actualidade, temos o Orçamento do Estado para 2024. Ressalvando que à data da realização deste inquérito ainda não estava aprovado (nem sequer em discussão), pelo que foi sendo anunciando, servirá sobretudo os interesses de quem? E a subida do salário mínimo, como a vêem os responsáveis das empresas?

Foi a estes perguntas que os especialistas responderam, e é a análise aos resultados deste XLIX Barómetro Human Resources que apresentamos. A produtividade é baixa. De quem é a culpa? Quando questionados sobre em que é que, nesta fase, a respectiva empresa estava mais focada, se na contenção de custos se no desenvolvimento das pessoas, a maioria (45%) optou pela resposta mais politicamente correcta: nos dois, de igual forma (de ressalvar, no entanto, que o questionário é anónimo). Mas se excluirmos esta variável, destaca- se claramente o desenvolvimento das pessoas, com 39% das respostas, “contra” 14%, que admitiram que, actualmente, o foco da sua empresa está nos custos.

Regressando ao tema da produtividade – que foi foco na 45.ª edição do Barómetro, de Fevereiro de 2023 –, a percepção do painel de especialistas confirma o que dizem os estudos e ranking europeus de produtividade, nos quais Portugal surge invariavelmente mal classificado. E, com base na sua experiência e conhecimento, é o que corroboram 61% dos inquiridos, afirmando que é baixa (50%) ou muito baixa (11%). Para 37%, a produtividade em Portugal é aceitável, mas apenas 2% consideram que é alta e não há ninguém que acredite que é muito alta.

Tentando perceber as causas para esta baixa produtividade, constata-se que a grande responsável é, para a maioria dos especialistas (57%), a (falta de) “cultura de trabalho”/má gestão de tempo dos profissionais, seguindo as (más) chefias/lideranças (43%) e, em terceiro (41%), os (desadequados) processos e métodos (de referir que o painel podia escolher até duas hipóteses, por isso o resultado é superior a 100%). Será curioso notar que, em oito meses, a percepção mudou, já que, em Fevereiro, os processos e métodos foram a principal justificação apontada para a baixa produtividade (52%, mais 11 pontos percentuais), só depois surgindo a cultura do trabalho (48%, menos nove p.p.), com as chefias/liderança em terceiro (com 39%, menos 4 p.p.). A falta de qualificações e falta de motivação dos profissionais são as causas menos referidas, ambos com apenas 9% das respostas.

Curioso também é o facto de, apesar de o “ónus” ter sido colocado sobretudo nos profissionais, quando a pergunta é “tendo em conta a resposta anterior, quem é o principal “responsável” (podendo novamente ser escolhidas duas hipóteses), a resposta surge inequívoca: 96% afirmam que a “culpa” é das lideranças – com responsabilidades quase divididas entre as lideranças de topo (50%) e as lideranças intermédias (46%). Só 14% acreditam que a responsabilidade principal é dos profissionais (ainda que na resposta anterior, tenham referido que é a sua falta de cultura de trabalho que provoca a baixa produtividade), ainda assim uma percentagem significativamente superior a quem considera que a “culpa” é essencialmente dos directores de Recursos Humanos. E para 11%, a baixa produtividade tem explicação sobretudo em factores externos à empresa (como a economia ou a lei).

 

Fique a conhecer todos os resultados do XLIX Barómetro Human Resources na edição de Agosto (nº.152) da Human Resources, nas bancas (se preferir comprar online, tem disponível a versão em papel ou a versão digital).

E tem também o comentário dos especialistas:

– Carla Marques, CEO da Intelcia Portugal

– Elsa Carvalho, head of Business Development na WTW – Willis Towers Watson

– Joana Pita Negrão, People & Culture Executive director da Nova SBE

– Ana Porfírio, directora de Recursos Humanos da Jaba Recordati

– Susana Silva, directora de Pessoas do El Corte Inglés Portugal

– Pedro Ribeiro, director de Pessoas do Super Bock Group

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