A revolução do trabalho remoto está em risco? Estudo revela que os trabalhadores são menos produtivos em casa
Trabalhar remotamente tem as suas vantagens, mas há cada vez mais provas que apoiam o que vários gestores já suspeitam há algum tempo: colaboradores em modo remoto são menos produtivos, avança o Insider.
Um relatório de Julho publicado pelo National Bureau of Economic Research, que estudou trabalhadores de data-entry na Índia, descobriu que os profissionais escolhidos aleatoriamente para trabalhar a partir de casa eram 18% menos produtivos do que os que estavam no escritório.
Igualmente, uma análise recente de vários estudos efectuada por Nick Bloom, economista de Stanford e especialista em trabalho remoto, revelou que os trabalhadores totalmente remotos eram 10% a 20% menos produtivos do que os seus homólogos no escritório. Estas conclusões surgem num momento em que a produtividade laboral dos EUA – medida pelo Bureau of Labor Statistics – abrandou nos últimos trimestres.
A pesquisa vem apoiar opiniões de algumas empresas. O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, por exemplo, disse no início do ano que os engenheiros em início de carreira tendem a ter melhor desempenho quando estão no escritório pelo menos três dias por semana, enquanto o CEO da Salesforce, Marc Benioff, afirmou que os funcionários remotos são menos produtivos.
Claro que muitas pessoas podem ser mais produtivas em casa. Mas a investigação revelou que, em média, aqueles que trabalham no escritório, pelo menos parte do tempo, são mais produtivos. Isso fortalece o pedido de regresso ao escritório, como fizeram a Salesforce e a Meta. Até a Zoom, sinónimo de trabalho remoto, recentemente chamou alguns funcionários de volta ao escritório pelo menos dois dias por semana.
Ir para o escritório pode evitar “distracções domésticas”
Não são apenas os investigadores e as chefias a chegar a estas conclusões. Algumas pessoas estão a optar por regressar ao escritório.
Jeff Moriarty, um profissional de marketing de 44 anos que vive na área de Chicago, revelou ao Insider que a sua empresa permitiu que continuasse a trabalhar remotamente no pós-pandemia e assim fez até Junho do ano passado, mas depois decidiu mudar.
«Embora trabalhar em casa fosse excelente do ponto de vista da liberdade, não me sentia produtivo o suficiente. Gosto de debater ideias cara a cara e descobri que a melhor maneira de ter sucesso na minha função e de levar a empresa para o próximo nível era regressar ao escritório.»
Hoje, Moriarty vai ao escritório cinco dias por semana. Trabalhar remotamente, recorda, significava lidar com muitas “distracções domésticas”. «Antes, tinha a TV como barulho de fundo e a minha esposa também trabalhava em casa. Gosto de ter a minha vida doméstica e profissional separadas e trabalhar em casa misturava demasiado as duas.»
Conexões pessoais e separação entre vida pessoal e profissional podem aumentar a produtividade
Kate Ecke, assistente social clínica em New Jersey, começou a disponibilizar terapia de telessaúde em Agosto de 2020, mas revela que, com o passar do tempo, ficou frustrada.
«Achei difícil concentrar-me nas sessões e não sentia que estava a estabelecer a ligação que pretendia com os meus clientes», disse ao Insider. Em Fevereiro, decidiu alugar um escritório e atender os clientes presencialmente.
Embora esteja grata pelo facto de a telessaúde ter proporcionado maior acesso aos cuidados de saúde mental, afirma que trabalhar presencialmente beneficiou o negócio e a sua saúde mental. Não precisa de planear tanto as sessões e é menos propensa a procrastinar as anotações pós-sessão. Uma maior separação entre trabalho e casa também tem ajudado a descomprimir após conversas difíceis com clientes.
O trabalho híbrido pode ser uma situação “win-win”
Embora existam exemplos de empresas que estão a exigir o regresso ao escritório, em Julho cerca de 25% dos dias de trabalho nos EUA eram remotos e há sinais de que o número está a estabilizar.
Esta estatística aponta para uma terceira opção. Ainda que os trabalhadores totalmente presenciais possam ser mais produtivos do que os colegas em modo remoto, o modelo híbrido, onde os trabalhadores passam, por exemplo, três dias por semana no escritório pode ser o melhor dos dois mundos.
No mês passado, Raj Choudhury, professor associado da Harvard Business School e especialista em trabalho remoto, revelou ao Insider que a sua pesquisa com dois estudos sobre produtividade no trabalho híbrido mostrou que os colaboradores que trabalhavam 25% do tempo em modo presencial eram mais produtivos do que os que trabalhavam mais ou menos dias no escritório.
Enquanto isso, Nick Bloom descobriu que o trabalho híbrido teve um efeito «nulo ou ligeiramente positivo» na produtividade do trabalhador em comparação com o trabalho no escritório. Também melhorou o recrutamento e a fidelização de funcionários – e foi geralmente menos dispendioso para as empresas, concluiu a pesquisa.
Segundo dados recentes de Bloom, 60% dos americanos trabalham em modo presencial, 30% no escritório entre um e quatro dias por semana, e 10% trabalham totalmente em modo remoto. Em Março, Bloom previu que, no longo prazo, à medida que os modelos e tecnologias de trabalho remoto melhorarem, cerca de 40% dos empregos serão presenciais, 50% híbridos e o contingente totalmente remoto permanecerá em 10%.
«Se for bem organizado, o modelo híbrido é uma situação em que todos ganham», conclui.