A tecnologia como driver essencial e a flexibilidade como palavra-chave

«As empresas vão ter de ser mais proactivas e esforçar-se mais para captar e reter talento.»

 

Por Pedro Fontes Falcão, gestor e professor universitário

 

«O mundo mudou muito nos últimos 10 anos, e a Gestão de Pessoas também, sendo que a evolução do termo “recursos humanos” para “pessoas” ou “talento” reflecte essa mudança.

Em relação ao que mudou nos últimos 10 anos e ao que continuará a marcar os próximos anos, creio que um factor-chave é a evolução da tecnologia, que tem sido o driver mais importante na evolução da generalidade das áreas, e também da Gestão de Pessoas.

Um exemplo são as redes sociais, que inicialmente eram vistas como algo negativo para a produtividade, sendo uma perda de tempo dos colaboradores, que estavam a desperdiçar o seu tempo de trabalho a ver fotos dos amigos, e que agora passaram também a ser vistas como meio de comunicação e de obtenção de informação e de conhecimentos, assim como de desenvolvimento de redes de contactos.

Em relação ao que vai definitivamente mudar no mundo do trabalho, a resposta teria sido algo diferente em Fevereiro deste ano, nos tempos anteriores à crise actual. Mas creio que se mantém a palavra-chave do que vai marcar o futuro, e que é “flexibilidade”.

Uma parte das pessoas passará, no médio-longo prazo, a ser “profissional liberal”, sendo que essas pessoas procurarão desenvolver as suas competências e conhecimentos de modo a gerirem a sua carreira profissional de forma mais flexível, deixando de ser os tradicionais “empregados fixos”, mas tendo relações profissionais com organizações de forma mais fluida, mudando com mais facilidade de funções e olhando para os seus trabalhos como projectos e não como cargos. Alguns terão vários “empregadores” em simultâneo.

Por outro lado, as empresas vão ter de ser mais proactivas e esforçar-se mais para captar e reter talento. Por exemplo, os benefícios extrassalariais serão uma ferramenta chave para reter pessoas, sendo que as legislações laborais e os sindicatos poderão ser um agente facilitador ou um obstáculo a essa ferramenta.

O teletrabalho, total ou parcial, terá um aumento significativo. Há um segmento de pessoas que, depois de se aperceber das vantagens do teletrabalho, vão considerar essa possibilidade como um critério relevante de escolha de emprego. Neste contexto, a Gestão de Pessoas torna-se muito relevante e ganha peso nas estruturas das organizações.

Para além disto, os avanços tecnológicos, especialmente na área da inteligência artificial e robotização, terão um impacto forte no mercado de trabalho, que infelizmente creio será claramente negativo, ao contrário de outras revoluções. No passado, primeiro as máquinas substituíram as capacidades físicas dos seres humanos. Depois, começaram a substituir capacidades cognitivas mais básicas. Agora vão substituir capacidades cognitivas mais evoluídas, incluindo de criatividade e emocionais, deixando pouco espaço para uma franja da população.

Tendo em conta a generalidade destas evoluções, será necessário também assegurar que os mais desfavorecidos tenham um apoio que lhes permita viver com dignidade e proporcionar-lhes oportunidades de emprego e de desenvolvimento pessoal e apoio financeiro. O papel do Estado e da sociedade serão muito relevantes.

Assim, gostaria, e espero que, embora exigindo o forte empenho de todos, o futuro da Gestão das Pessoas permita uma melhoria da vida significativa dos colaboradores e que o tão badalado worklife balance se torne uma realidade para a generalidade das pessoas, e que estas sejam mais felizes.»

Este artigo faz parte do tema de capa da edição de Julho (n.º 115) da Human Resources.

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