A urgência de desconstruir a linearidade da ideia de líder!

Por Carla Caracol, Directora de Recursos Humanos do Grupo Renascença Multimédia, Professora Universitária, membro da Direcção Nacional da APG e da DCH Portugal

 

Quando se consegue alcançar funções de liderança, de maior responsabilidade e com maior visibilidade, quem observa, não raras vezes, desconhece e não reflecte sobre o percurso trilhado para que isso fosse possível. É uma espécie de assumpção de que aquela pessoa nasceu na e para aquela posição! Quando, na verdade, a grande maioria dos líderes tiveram caminhos sinuosos de desenvolvimento e concretizações, mas também de algumas inseguranças e frustrações, que, em conjunto, permitiram mobilizar todo o seu potencial, conseguindo demonstrar o quão acertada foi a oportunidade que lhes foi dada.

Acredito que é efectivamente importante desconstruir este pensamento comum, sendo para isso crucial que os líderes partilhem o seu percurso, na versão não romanceada, para que as pessoas percebam que “não acontece só aos outros” e que, com trabalho, dedicação, determinação e espírito de sacrifício, é possível!

Creio que temos esse dever de poder ser exemplo vivo da meritocracia que tanto apregoamos, mas devemos ter igualmente a obrigação moral de suportar a desconstrução da linearidade dos limites, face às circunstâncias à nascença ou aos contextos de vida.

Os actuais líderes tiveram também certamente alguém, ao longo do seu trajecto, que os incentivaram, que os desafiaram a fazer mais e melhor, que acreditaram neles e que lhes deram a mão… por isso, acredito seriamente que têm o dever de retribuir!

Eu, a título pessoal, sinto que tenho o dever de contribuir para a desconstrução das convenções sociais e dos limites auto-impostos, porque sou resultado dessa acção. Procuro fazer isso sempre que tenho oportunidade de partilhar um pouco do meu percurso profissional. Sinto que tenho essa Missão na qualidade de líder, mas também no papel de profissional de Recursos Humanos!

Faço sempre questão de frisar que, mesmo já depois de ter concluído a licenciatura e de ter tido algumas experiências no mercado de trabalho, inclusive na área de Recursos Humanos, aceitei a oportunidade de ingressar num grande grupo económico a atender o número de telefone geral da empresa. Aprendi imenso com essa experiência! E, foi a partir dela, do contacto com diferentes temáticas, áreas de negócio e pessoas que consegui ir gerando oportunidades internas para mostrar potencial, na esperança que isso fosse notado e valorizado! E, felizmente, foi! Os desafios foram aparecendo, cada vez em maior grau e as mangas foram arregaçadas, o entusiasmo cresceu, a paixão desenvolveu-se e sou muito grata por terem tido a coragem de apostarem e acreditarem em mim, desafiando-me a ser a melhor versão de mim mesma!

Liderar também é cuidar! O verdadeiro poder da liderança é o serviço! As decisões tomadas, ou a sua inércia, têm impacto em vidas reais, em pessoas/profissionais, também elas com necessidades, expectativas, ambições, com vontade e capacidade de entregar mais do que apenas o que lhes é exigido. E nós, Gestores de Pessoas, temos que ser os facilitadores deste processo. Para isso é importante que deixemos de apenas identificar/valorizar os perfis “clean” do Linkedin, as respostas certas nas entrevistas, os resultados obtidos nos assessments previsíveis. O Talento está em qualquer lado da organização… assim tenhamos conseguido preparar as nossas lideranças para o conseguirem identificar e desafiar, relembrando e revivendo todas as vicissitudes sentidas.

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