Adaptabilidade: do indivíduo à organização

Por Carlos Sezões, Managing Partner da Darefy – Leadership & Change Builders

 

Adaptabilidade é, na minha óptica, a “meta-competência” mais importante neste novo e desafiante mundo do trabalho. Podemos defini-la como um conjunto consolidado de competências, traços e características que nos permite lidar com a mudança – nas nossas vidas, no trabalho que individualmente fazemos e nas interacções nas nossas organizações. Consiste em compreender um novo contexto e assumir novas atitudes e comportamentos que garantam eficácia no alcance de nossos objetivos.

As “fontes” ou “raízes” da adaptabilidade de cada um de nós serão muitas e diversificadas. Desde os nossos traços de personalidade, valores e princípios de vida à nossa educação e formação, do grau de versatilidade da nossa carreira profissional (funções e responsabilidades diversas) à nossa curiosidade, abertura à mudança, espírito crítico e criatividade. E, factores não menos importantes, a nossa mundividência e hábitos de aprendizagem.

Neste novo mundo do trabalho, abalado continuamente pela mudança tecnológica, organizacional, com novos modelos de negócio, processos, produtos e profissões, a nossa adaptabilidade é essencial. Permitir-nos-á, em cada momento, ajustar as nossas crenças e competências para responder efetivamente à incerteza e à alteração contínua de variáveis que dávamos por adquiridas e estáveis. Exemplos? A mudança de modelos de trabalho presenciais para modelos remotos, que exigem colaboração virtual, a gestão da incerteza nas supply chains globais (que exigiu competências de reforecasting e planeamento de cenários) ou a necessidade absoluta de mudarmos vários hábitos e vida na busca da sustentabilidade ambiental são apenas 3 exemplos simples que deixo para ilustrar como a adaptabilidade é factor chave para as evoluções cada vez mais rápidas e disruptivas nas nossas sociedades.

Mas a adaptabilidade não é apenas um traço individual. Será a adaptabilidade colectiva (das equipas e, de forma mais holística, das organizações) que permitirá assegurar alinhamento, coesão, colaboração e inovação. Esta adaptabilidade mais “grupal” construir-se-á com empatia e conhecimento mútuo, diversidade de talento (para assegurar espírito crítico e multiplicidade de perspectivas) e mecanismos comuns de aprendizagem, experimentação e inovação. São estas dinâmicas que determinarão o sucesso ou insucesso de uma equipa.

Na pesquisa que, de modo continuado, desenvolvi nos últimos meses, aprendi que a adaptabilidade pode ser medida, analisada e desenvolvida. Existem vários modelos por esse mundo fora, baseados nas mais recentes conclusões das neurociências. Deixo como exemplo o ACE model, desenvolvido pela AQAI (https://www.aqai.io) para mensurar e analisar dimensões-chave que explicam como, em que grau e porquê alguém se consegue adaptar. Afere um primeiro conjunto de características como coragem, flexibilidade mental, mindset, resiliência, e capacidade aprender/ desaprender – essencialmente, competências que se podem desenvolver. Um segundo grupo que avalia a amplitude emocional, o nível de extroversão, a esperança e os estilos motivacionais e de pensamento – traços mais estáveis; e, por fim, uma análise do “meio”, que mede o suporte da organização, a saúde mental/ emocional, a cultura de apoio da equipa, o ambiente de trabalho e níveis de pressão e stress – representando os fatores de influência do ecossistema de trabalho de qualquer indivíduo ou equipa. E, com a ajuda da AI (inteligência artificial), essas variáveis podem ser analisadas numa perspectiva individual ou coletiva. Tal permitirá a qualquer indivíduo, equipa ou organização avaliar seu status actual, definir planos de desenvolvimento (reskilling) e melhorar de modo consistente a sua adaptabilidade.

Em suma, nos seus modelos de competências e de gestão de desempenho e na gestão estratégica do seu talento, as organizações (empresariais e outras) deverão colocar a Adaptabilidade como foco essencial dos seus investimentos.

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