Agora e na hora da nossa morte… Sério? Hoje é Dia Internacional dos Recursos Humanos!

Mitos & Realidades sobre a morte anunciada da Gestão de Pessoas!

Por Pedro Ramos, CEO da Keeptalent Portugal

 

Muitos têm sido os momentos, desde há vários anos, em que se tem anunciado a morte da função RH nas empresas e, consequentemente, a “morte” dos Gestores de RH nas empresas, ao mesmo tempo que discursos formais perpetuam que a Gestão de Pessoas é uma área essencial nas organizações, por potenciar e gerir o capital humano (o mais importante das empresas!) de forma eficaz e estratégica…

Essas previsões são muitas vezes alimentadas pelas mudanças tecnológicas, pelas profundas evoluções no mercado de trabalho, mas, sobretudo, pelas transformações organizacionais que, ora transferem os “temas valorativos e fulcrais” para outros interlocutores na organização (que não os RH), ora “pulverizam” os mesmos sob a argumentação que todos na organização são gestores de pessoas e, por isso, são auto e hetero responsáveis pelas clássicas acções de tudo o que tem a ver com o desenvolvimento e o crescimento organizacional.

Para nós, gestores de Pessoas, lá se foram as (tais) funções ditas estratégicas e ficaram apenas as tarefas meramente administrativas de contratação, processamento e arquivo de tudo o que legalmente tem de ser tratado ao longo dos anos… Ah, para além de ser uma espécie de “caixa de reclamações” gigante para onde todas as chefias direccionam os seus colaboradores, numa lógica de que assuntos “sem solução à vista” são na porta do RH… E, neste quadro, poderíamos (quase) usar o título de um filme de pura comédia/fantasia… Afinal, gestores de Pessoas “A Morte Fica-Vos Tão Bem”!

A realidade, porém, tem contrariado essa morte anunciada e o que, na verdade tem acontecido ao longo destes anos, é uma espécie de gestores de RH que, tal como os gatos, afinal parecem mesmo “ter sete vidas”. Senão vejamos…

Deixem-me, pois, propor-vos uma viagem sobre mitos e realidades sobre as causas da anunciada morte dos gestores de RH/Pessoas nas empresas:

 

Mito 1 – A automação e (mais recentemente) Inteligência Artificial vai matar a gestão de Pessoas…

A introdução de tecnologias avançadas que permitem uma digitalização dos processos, os avanços da inteligência artificial (IA) e a automação, parecem anunciar que todos os processos e funções de RH serão substituídos por máquinas. Vejamos: ferramentas de recrutamento automatizadas, plataformas de análise de dados e sistemas de gestão de performance, desempenho e desenvolvimento baseados em IA prometem aumentar a eficiência e reduzir a necessidade de intervenção humana.

Realidade:

Embora a tecnologia tenha transformado muitas tarefas administrativas de RH, esta também está a criar novas oportunidades. Em vez de substituir os gestores de Pessoas, a tecnologia tem permitido que estes se concentrem em actividades mais estratégicas e de alto valor acrescentado, como o desenvolvimento de talentos, a gestão dos tão necessários upskilling e reskilling, a promoção e gestão de uma nova visão de cultura organizacional e o enorme desafio de fidelizar as Pessoas nas empresas.

 

Mito 2 – A estratégia organizacional não precisa do envolvimento da GRH e, desta forma, perde utilidade na empresa…

Em algumas empresas, a função RH tem sido criticada por não estar suficientemente alinhada com a estratégia organizacional. Existe, pois, uma percepção de que a gestão de Pessoas é apenas uma função administrativa e não estratégica e, desta forma, as tarefas de RH podem ser absorvidas por outras áreas das empresas.

Realidade:

A verdade é que, sobretudo durante e após a pandemia, o papel da gestão de Pessoas tem-se reinventado como uma área parceira estratégica, contribuindo activamente para o sucesso organizacional e de elevado impacto no negócio. Com a constante necessidade de se reinventar e realinhar os próprios modelos de negócio das empresas, novos produtos e serviços, novos modelos de organização, verificamos que tem sido a gestão de Pessoas a parceira privilegiada da alta direcção das empresas. Aliás, assiste-se cada vez mais (finalmente!) a DRH que passam a pertencer aos boards das empresas.

 

Mito 3 – As transformações no mercado de trabalho anunciam o fim da necessidade de uma área de gestão de Pessoas (dita) clássica…

As mudanças no mercado de trabalho, como o incremento do trabalho remoto e híbrido, da “Gig Economy” e a crescente expansão de novos modelos flexíveis de trabalho, são vistas como ameaças à função tradicional da GRH. A capacidade de os colaboradores trabalharem a partir de qualquer lugar e o surgimento de novos regimes e “trabalho temporário” (e não quero entrar nas “guerras” jurídicas, mas é uma realidade…) são vistas como razões para o declínio da necessidade de um departamento de RH formal.

Realidade:

A função de RH tem-se adaptado (e mais do que isso… tem adaptado) para gerir a complexidade do trabalho remoto e híbrido, desenvolvendo políticas que promovem a flexibilidade enquanto mantêm a coesão e o alinhamento das equipas. Além disso, a gestão de Pessoas está efectivamente a desempenhar um papel crucial na gestão de uma (nova) força de trabalho cognitivamente diversa e distribuída, garantindo que todos os colaboradores, independentemente de sua origem e localização (e até tipo de vinculação à empresa), sejam integrados, valorizados e ligados ao negócio.

 

Mito 4 – O actual foco no bem-estar e saúde mental das Pessoas veio dispensar os gestores de Pessoas e substituí-los por outros profissionais…

Sobretudo depois da pandemia, alguns críticos argumentam que a crescente relevância que o bem-estar, felicidade e saúde mental dos colaboradores está a assumir nas empresas poderá reduzir o papel da GRH, transformando-o numa função mais voltada para as áreas de suporte e, desta forma, menos estratégica.

Realidade:

O facto é que o foco no bem-estar e felicidade dos colaboradores tem, na verdade, fortalecido a posição da gestão das Pessoas dentro das organizações. Programas de bem-estar e saúde mental são agora vistos como componentes essenciais da própria estratégia das empresas; sendo que, tem sido a gestão de Pessoas a liderar e pilotar as iniciativas que, não só melhoram a qualidade de vida dos colaboradores, mas também impulsionam a produtividade e a melhoria da experiência dos colaboradores nas empresas e, consequentemente, potenciar a atracção e a fidelização dos colaboradores.

 

Mito 5 – A nova gestão DEI (Diversidade, Equidade e Inclusão) não é uma gestão da GRH mas de toda a empresa, logo, o RH é dispensável…

A complexidade e a sensibilidade das questões de diversidade, equidade e inclusão (DEI), como forma das empresas se diferenciarem da concorrência e se imporem nos mercados mais globais, é visto por alguns como áreas que poderiam superar a capacidade da GRH tradicional dentro das empresas, levando à terceirização ou ao estabelecimento de parcerias externas à organização, dessas funções deixando de ser nucleares no quadro interno da área de gestão de Pessoas.

Realidade:

A verdade é que a função RH tem-se tornado cada vez mais especializada em DEI, reconhecendo a sua importância crítica para o sucesso organizacional. Ao fim de vários anos, os gestores de Pessoas foram os primeiros a entender a importância de atraírem e agregarem pessoas que pensem de forma diferente de si próprios! A GRH está, desta forma, na vanguarda da criação e implementação de políticas de DEI, utilizando uma variedade de dados produzidos através do “casamento” das inteligências (artificial e humana) e estão a ganhar uma sensibilidade incrível para promover uma cultura inclusiva e equitativa dentro das organizações com foco nos resultados do negócio.

E poderíamos continuar a elencar uma longa lista de novos e renovados mitos sobre a eventual inutilidade da área de gestão de Pessoas nas empresas. Inclusive, e nem vou perder tempo com isso… a ideia de que a IA já produz todos os dados (People Analytics) necessários para a gestão das empresas… Vai uma aposta que é cada vez mais importante saber interpretar a multiplicidade de novos dados disponíveis?

Assim, apesar das previsões frequentes de uma morte anunciada, a função da gestão de Pessoas tem demonstrado uma notável capacidade de adaptação, transformação e evolução.

As transformações tecnológicas, as mudanças no mercado de trabalho e até os novos “protagonismos” assumidos pelos colaboradores das empresas (mas este era um tema que dava outro artigo completo!) têm, na verdade, impulsionado a GRH a tornar-se necessariamente mais estratégica, inovadora e focada nos temas de reconhecida importância, como o bem-estar, felicidade e experiência dos colaboradores.

Em vez de desaparecer ou “morrer”, a gestão de Pessoas nas empresas está em processo de transformação, reafirmando uma importância central no desenvolvimento e sucesso das organizações e o seu papel-chave com o negócio das empresas.

As “dores” e desafios enfrentados pelos gestores de Pessoas são, em última análise, oportunidades para reinvenção e crescimento, garantindo que a função RH permaneça integrada na dinâmica indispensável ao futuro do trabalho e das empresas.

Por isso, esqueça o título deste artigo e celebre: Vivam as novas vidas da Gestão de Pessoas nas organizações! Tenha um FELIZ DIA INTERNACIONAL DE RH!

Ler Mais