Alexandra Sequeira de Carvalho: «Estamos a construir uma nova era de gestão organizacional»
Alexandra Sequeira de Carvalho, Directora de Recursos Humanos da Sport TV sublinha que «nestes últimos meses, as organizações com melhores resultados têm conseguido alcançar maiores níveis de agilidade interna, em razão de ter sido necessário e urgente adaptar-se a um contexto essencialmente novo, marcado por uma profunda incerteza e por volatilidade».
«Os impactos da crise epidemiológica estendem-se para lá da esfera da saúde, recaindo também sobre as realidades social, económica e financeira da sociedade, organizações, famílias e indivíduos. É um momento especialmente desafiante para todos nós porque, entre outras razões, todos os dias somos chamados a tomar decisões, a vários níveis, num contexto de elevadíssima incerteza e volatilidade. Há, contudo, uma certeza: não sairemos os mesmos desta crise.
A expressão “novo normal”, que tanto temos usado, poderá ser redutora. Isto porque menospreza o enorme potencial de evolução que estes desafios podem representar para as pessoas, organizações e comunidades individualmente e colectivamente consideradas. A título de exemplo, a perspectiva de uma empresa deveria ser a de assimilar e garantir o lastro do que se tem vindo a aprender nos últimos meses, procurando não apenas resistir à adversidade, mas sobretudo ser um agente activo dos novos paradigmas. Neste sentido, parece-me muito interessante que mais de um terço dos participantes do Barómetro anteveja impactos nas suas organizações num horizonte temporal superior a um ano.
Nestes últimos meses, as organizações com melhores resultados têm conseguido alcançar maiores níveis de agilidade interna, em razão de ter sido necessário e urgente adaptar-se a um contexto essencialmente novo, marcado por uma profunda incerteza e por volatilidade. Esta agilidade é, cada vez mais, uma capacidade organizacional verdadeiramente estratégica, na medida em que é precursora da inovação. E, neste momento em que as empresas se vêem forçadas a adaptar fortemente os seus modelos de negócio, nunca foi tão crítico inovar, e a um ritmo cada vez mais acelerado.
Ainda de acordo com o Barómetro, na gestão dos Recursos Humanos o impacto antevê-se em dois grandes temas: mudar as formas de trabalho e acelerar a transformação digital. Estes dois focos estão de facto muito interligados, sendo hoje a prioridade de cerca de 86% das empresas participantes. Este mero facto impele-nos a encarar o fenómeno das novas formas de trabalho como algo muito mais profundo que o mero conceito de “trabalho remoto”.
Urge, quer na perspectiva da empresa, quer na perspectiva do colaborador, rever por isso a forma como se organiza o trabalho, implementando estruturas mais ágeis, onde o processo de conceptualização, implementação, aprendizagem e adaptação de soluções seja de facto acelerado.
Paralelamente, há pelo menos mais um factor que eu acredito ser estratégico para as organizações e que ainda não está a surgir no topo das suas prioridades: a redefinição do papel da liderança (e, com isso, das equipas). Como gestores, temos hoje a oportunidade de fazer parte de um momento de transformação único, que implica enormes mudanças. Estamos efectivamente a construir uma nova era de gestão organizacional, na qual os líderes a todos os níveis são os actores principais.»
Este testemunho foi publicado na edição de Julho da Human Resources, no âmbito da XXXI edição do seu Barómetro.