Ana Gama Marques, Altice: Novos desafios aos modelos laborais, ao tecido económico e à sociedade

Ana Gama Marques, directora de Pessoas e Organização da Altice, afirma que «como consequência da digitalização, surgem novas formas de trabalho, nomeadamente a gig economy – que se apresenta como alternativa às formas tradicionais de contratação, sem horários definidos nem contratos de trabalho exclusivos ».

 

«O último barómetro pretende abordar e priorizar alguns dos temas que têm sido debatidos no âmbito da atracção e retenção dos colaboradores.

O desafio da atracção e retenção do talento intensificou- se em 2023 e continua em 2024, derivado da globalização do mercado de trabalho.

Ao nível da globalização, Portugal compete com os seus recém-licenciados ou trabalhadores no mercado global, pois as nossas competências são reconhecidas internacionalmente. No entanto, apesar de oferecermos desafios iguais aos que existem fora do nosso país e termos condições ímpares, a realidade é que Portugal tem um nível salarial mais baixo do que alguns países da Europa e a carga fiscal do trabalhador não é a mais atractiva.

Nesse sentido, o barómetro pretende avaliar como os inquiridos classificam as medidas aplicadas à taxa de IRS e aos impostos do trabalho, sendo que 53% responderam que as medidas foram as possíveis. Também se aborda o tema da isenção de contribuição e impostos sobre os prémios de desempenho até ao limite equivalente de um vencimento mensal, onde verificamos que a maioria dos inquiridos via a medida como bastante positiva (61%).

Outra questão abordada, ainda no mesmo âmbito, foi que em termos de políticas públicas, uma das questões mais prementes é o tema do imposto sobre o rendimento das pessoas singulares IRS (47%).

A par da retenção e atracção do talento, também se aborda o tema da produtividade e da distribuição do rendimento em função do mesmo, promovendo o mérito, o empenho e o foco nos resultados.

Se analisarmos a questão se o aumento do salário mínimo nacional devia estar indexado a um índice de produtividade do País, vimos que 78% dos inquiridos respondem que sim e também verificamos que mais de 72% concordam com a evolução do salário mínimo do País para 1000 euros.

Adicionalmente, também se aborda o tema da flexibilização de algumas políticas laborais, nomeadamente ao nível da contratação e do revisitar de alguns temas no âmbito da agenda do trabalho digno. Os desafios são contantes, potenciados pela adopção da inteligência artificial e pelas camadas mais jovens da população que procuram outros tipos de modelos de trabalho.

A todo o momento deve ser analisado o mercado e ir tentando dar resposta às novas necessidades. Para além da adopção de modelos mais flexíveis, no que respeita à contratação, mobilidade, horários de trabalho, trabalho híbrido – de que os jovens já não prescindem –, urge igualmente simplificar e adoptar modelos de trabalho que permitam responder aos novos desafios que a era digital e a integração de mecanismos de inteligência artificial nas relações laborais impõem.

Com esta nova realidade, e como consequência da digitalização, surgem novas formas de trabalho, nomeadamente a gig economy – que se apresenta como alternativa às formas tradicionais de contratação, sem horários definidos nem contratos de trabalho exclusivos e com possibilidade de múltiplos empregadores – e que se torna bastante atractiva para as gerações mais jovens.

Ora, este crescimento transformador acelerado traz novos desafios aos modelos laborais, ao tecido económico e sociedade em geral, nomeadamente em questões relacionadas com justiça laboral e à sistemas de protecção social, e na promoção de um mercado de trabalho mais justo, equilibrado e competitivo.»

 

Este testemunho foi publicado na edição de Junho (nº.162) da Human Resources, no âmbito da LIII edição do seu Barómetro.

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