Ano Novo: Resoluções de um trabalhador

Mais do que festa, Ano Novo significa, para tantos, uma nova oportunidade de mudança e de recomeço. E, ao longo do ano, não são muitas as ocasiões em que gozamos desta possibilidade de, como numa folha em branco, reescrever as experiências e os desejos por conquistar. Por isso, é generalizado o sentimento de renovação e de esperança – porque é de esperança de que verdadeiramente se trata -, mesmo para aqueles que na última noite do ano não se deixam contagiar pela doença dos brilhos, dos foguetes e do brinde.

Por Margarida Rosenbusch, associada sénior de Direito do Trabalho & Fundos de Pensões da CMS Portugal

 

Por tradição, pede-se um desejo a cada badalada e é escrita uma lista de resoluções. O desafio, além de pensá-las, está em fazê-las durar.

No trabalho, também se esperam os tradicionais: saúde, paz, amor e dinheiro. E, assim, embora regressando das festas à vida de sempre, sentimo-nos mais felizes e é com um sorriso maior que, no meio de cumprimentos e abraços, revemos colegas e espaços de trabalho já tão sobejamente conhecidos.

Somos melhores. E queremos mostrar aos outros que pusemos de lado os defeitos, as inseguranças e incertezas que tanto, ou menos um pouco, nos atormentaram o ano anterior. Ainda não nos venceu o cansaço e a indiferença pelo desejo de agradar. De querermos que sejam os outros a fazer-nos o bem. E, por isso, começamos mais delicados e atentos ao outro, ciosos de um seu bem-estar físico e emocional no trabalho.

Ao desempenho das tarefas, também depositamos paixão. Nestes primeiros dias do ano faz-se sentir o amor à camisola, quando ousamos enfrentar prazos e outros desafios que, de tão pesados, deixámos por resolver no ano anterior. E as promessas de um renovado planeamento e calendário, também remetem ao esquecimento os longos serões de trabalho perturbadores da conciliação com a vida pessoal e familiar.

O planeamento do negócio também parece reinventado. Para uns é vencido o cansaço da necessidade de repetição de todo um ciclo. E outros, interrompem a monotonia de que se pode caracterizar a prestação de trabalho. O que supúnhamos estéril passa a borbulhar de ideias e planos inovadores, afastando a angústia de tantos outros projectos passados e que não construíram a nossa felicidade.

Também nos prometemos uma gestão mais atempada e eficiente. E uma utilização sensata daquilo que nos é oferecido. Esquece-se o que para uns se recorda, com conflitos e crises a concorrer com a promessa individual que o novo ano traz de melhoria à nossa situação financeira.

Estas até podiam ser as resoluções de um trabalhador para o Ano Novo que se inicia. E o difícil, como disse, está em fazê-las durar.

E angustia-nos o dia em que o empenho do outro não iguala o que nos prometemos cumprir. E em que reencontramos vícios e insucessos passados por ter falhado, também, o que pusemos do nosso comprometimento. Mas na medida em que também é de sofrimento que se faz a oportunidade de prosseguir, e porque temos a certeza de não poder evitar um ano seguinte, vamos recordando essas experiências e seguindo em frente.

Acontece que pode não ser a mudança de ano aquela que gera o verdadeiro comprometimento. E este até se pode fazer mais presente quando temos a sorte do refinamento às nossas intenções e desejos, por termos tido o azar de conhecer o insucesso, a doença ou o desemprego. Da motivação só temos a esperar o que nela depositarmos. E, por isso, vise a mesma um comprometimento interior ou a urgência na satisfação de uma realização pessoal, mude ou não o ano, o decisivo é que sejamos persistentes em fazê-la durar.

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