Autodoc: Um novo começo e bons motivos para escolher Portugal

O conflito armado na Ucrânia acelerou o processo de realocação e a Autodoc deu início a uma nova etapa em Portugal. Em entrevista à Human Resources Portugal, o CEO da empresa em Portugal explica os detalhes desta mudança.

 

Depois do início do conflito armado na Ucrânia, em Fevereiro de 2022, a Autodoc viu-se obrigada a encontrar um novo local adicional para a empresa. Na origem da decisão, esteve a necessidade de encontrar um local seguro, dado que um dos maiores centros tecnológicos da empresa, com mais de 1000 colaboradores, está localizado em Odessa.

Face ao cenário de incerteza, o conselho de administração avaliou as condições de vários países com potencial para a realocação dos colaboradores afectados pela guerra, em diferentes localizações da empresa. Neste processo, foram considerados critérios como a segurança, potencial de talento disponível, clima, custo de vida, oportunidades gerais para as pessoas e a qualidade de vida. «O principal objectivo foi oferecer a todos os colaboradores afectados pela guerra na Ucrânia um local de trabalho seguro, incluindo também as pessoas da Moldávia e Rússia», explica Dmitry Zadorojnii, CEO da Autodoc & General Manager da ATD Portugal.

Como opções seguras para um processo de realocação, o profissional refere que foram ponderados vários países, mas que a empresa acabou por optar pelo território lusitano. Em Julho de 2022, foi inaugurada a ATD Portugal e os primeiros colaboradores, contratados em Outubro desse ano, começaram por trabalhar a partir de casa ou em espaços de coworking. A inauguração do novo escritório no Lagoas Park, em Oeiras, ocorreu em Maio de 2023.

 

A opção por Portugal
«Não poderíamos estar mais felizes com a nossa decisão». Foi esta a forma encontrada pelo responsável da Autodoc para descrever a escolha de Portugal como destino para realocar a empresa. Neste caso particular, o nosso país destacou-se pelo elevado nível de talento e pela sua atractividade para os especialistas das Tecnologias de Informação. Outros factores que também estiveram relacionados com a escolha foram «a mentalidade empreendedora dos portugueses, a qualidade e o bem-estar do País».

Em relação aos factores mais importantes a ter em conta, o CEO da empresa diz que podem existir mudanças no responsável directo, no perfil ou cargo a desempenhar pelo colaborador ou até mesmo nos salários. Na fase inicial, os «recém- -chegados» devem estar cientes de que vão lidar com imensa burocracia e vão ter de recorrer a várias entidades para tratarem de papéis. Além disso, o director-geral também alerta para a barreira linguística, que pode ser um entrave nos primeiros meses.

O processo de realocação da empresa é gerido internamente e «todos os colaboradores que desejam ou precisam de ser realocados podem entrar em contacto com a chefia directa ou com o gestor de projecto ». De acordo com o executivo, é oferecido apoio e orientação jurídica e, assim que o processo esteja definido, são disponibilizados pacotes de realocação, também extensíveis aos familiares directos. «Acreditamos que um processo organizado e o envolvimento da família tornam a mudança para Portugal muito mais fácil, fazendo com que os colaboradores estejam perfeitamente preparados para uma nova e desafiante experiência», explica.

Actualmente, mais de 20 pessoas, provenientes da Ucrânia, Moldávia e Rússia, já concluíram a mudança para Portugal. Para a maioria, a principal razão para a deslocalização é a guerra em curso na Ucrânia e o medo em relação ao futuro das suas nações. No início do próximo ano, prevê-se que cheguem a Portugal mais 30 colaboradores com as suas famílias e animais de estimação. Existem ainda outros processos de realocação que dependem dos próprios colaboradores, dos gestores, do acordo sobre a oferta salarial e da evolução dos processos junto das autoridades de imigração.

 

Acompanhamento, apoios e desafios
Qualquer processo de realocação acarreta desafios específicos para as empresas e a Autodoc não foi uma excepção à regra. A guerra na Ucrânia acelerou consideravelmente este processo e, segundo o profissional, Portugal acabou por ser o destino eleito. No entanto, por ser o país mais ocidental da Europa, refere que «está muito longe dos locais de negócios no Leste Europeu». Apesar da guerra e da insegurança, realça que «os colaboradores muitas vezes têm dificuldade em abandonar a sua casa». Portanto, também deixa claro que a empresa pretende garantir a segurança dos colaboradores e ajudar no processo de transição.

De modo geral, «pode ser um verdadeiro desafio para as empresas ter uma visão geral e entender os requisitos de cada tipo de visto. O processo de visto, por vezes, pode atrasar o processo de realocação e causar frustração», sublinha. A título de exemplo, lembra que o gestor de projecto de realocação da Autodoc está em Portugal e «tem sentido dificuldades para conseguir marcações junto dos serviços competentes, sobretudo após a transformação dos serviços de migração».

Em linha com a adaptação ao país e com o lema «pessoas em primeiro lugar», a empresa ajuda não só os colaboradores com a documentação legal, como também oferece um pacote de realocação que inclui os custos dos voos para funcionários e até três familiares, além dos custos de legalização e seguro de saúde. Adicionalmente, também são pagos os três primeiros meses de renda aos colaboradores e, quando necessário, são disponibilizados alojamentos temporários. Além disso, todos os colaboradores têm acesso à assistência de bem-estar e saúde mental do Instituto Fürstenberg, que se encontra disponível 24 horas por dia e sete dias por semana. Uma medida que, na perspectiva de Dmitry Zadorojnii, se tornou relevante após a maioria dos colaboradores ter sido afectada pelo conflito armado no território ucraniano. A saúde mental tornou-se, inevitavelmente, uma das prioridades da Autodoc, e abriu caminho para este projecto.

Já sobre a forma como é feito o acolhimento em Portugal, o CEO da empresa refere que «não existe um processo padronizado », uma vez que os colaboradores não vêm para trabalhar apenas na capital. Têm também a opção de trabalhar remotamente noutras regiões portuguesas, como, por exemplo, a cidade do Porto. De um modo geral, a integração no país e na empresa compete ao gestor do projecto e à respectiva equipa, nomeadamente no que diz respeito ao fornecimento de orientações sobre a organização ou métodos de trabalho.

Após o acompanhamento durante o processo de realocação, o profissional deixa a garantia de que os colaboradores continuarão a beneficiar do apoio da empresa. «Não deixaremos os nossos colaboradores sozinhos com os seus problemas. Vamos apoiá-los nas questões organizacionais que inevitavelmente surgem quando se mudam para outro país. Os nossos colaboradores sabem que as nossas portas estão sempre abertas», esclarece.

Com mais de 5000 colaboradores e mais de 60 nacionalidades, a Autodoc sempre teve programas de deslocação para o estrangeiro. A título de exemplo, no Tech Hub, em Lisboa, a empresa está actualmente a instalar a sede das equipas de desenvolvimento de software e outras funções relacionadas com a tecnologia. O principal produto digital é a Plataforma Digital ATD, que visa capacitar toda a indústria de reposição automóvel.

 

Vantagens e categorias de realocação
Os processos de realocação mais comuns envolvem talentos e gestores que já trabalharam em empresas líderes na Europa e, portanto, trazem experiência e conhecimento. «Conseguimos reunir várias competências essenciais no novo Tech Hub. Isto inclui IT, gestão de categorias, operações de clientes, gestão de receitas, marcas próprias, negócios B2B, recursos humanos e funções corporativas. Na área de IT, procuramos especificamente talentos tecnológicos nacionais e internacionais para Engenharia de Software, Gestão e Análise de Dados, Gestão de Produtos e DevOps.»

Ao contrário da Ucrânia, onde a empresa só tinha acesso ao mercado ucraniano, em Portugal, tem acesso aos melhores profissionais de toda a Europa e, portanto, ao mercado global. «Neste momento, procuramos pessoas com diferentes níveis de grau académico, incluindo cargos júnior e sénior. Para atrair os melhores talentos locais e internacionais, oferecemos um pacote atractivo para os colaboradores », sublinha.

O director-geral deixa claro que, em qualquer processo de realocação, os objectivos da empresa são: a retenção de talentos na empresa; a promoção e o desenvolvimento das suas competências; e o aumento da diversidade das equipas, assim como a satisfação pessoal e profissional dos colaboradores. Para o CEO da empresa, estes são os principais factores que comprovam que um processo de realocação pode ser uma solução vantajosa, em vez de apenas contratar no país de destino.

Por um lado, esta estratégia ajuda os colaboradores mais talentosos a desenvolver novas competências através de novas funções, responsabilidades e experiências. Por outro, realocar um colaborador com um alto desempenho acelera significativamente o processo de expansão do negócio, o que pode ser crucial para a empresa. Paralelamente, realocar colaboradores de alto nível «pode ser menos stressante» para os departamentos de Recursos Humanos. Manter os colaboradores na empresa, quando estes se mudam, pode reduzir significativamente a carga de trabalho sobre o departamento.

Além da procura por uma melhor qualidade de vida no estrangeiro, o executivo também tem consciência de que «existem pessoas que gostam de novos desafios, de novas culturas, línguas e aprendizagens ». Por último, este processo de realocação também pode ajudar a melhorar a diversidade no local de trabalho. «A diversidade nas equipas de trabalho promove, de um modo geral, melhores resultados financeiros, já que as equipas são mais capazes de atender às necessidades dos clientes», conclui.

 

Este artigo faz parte do Especial “Relocation” publicado na edição de Dezembro (n.º 156) da Human Resources.

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