Como a COVID-19 mudou os processos de recrutamento?

A pandemia do coronavírus trouxe transformações sem precedentes, sendo que no mundo do trabalho não foi apenas o dia-a-dia nas empresas que mudou, também os próprios processos de recrutamento e a forma como se atrai talento sofreram alterações.

Por Munique Martins, responsável pelo campus de Lisboa da Ironhack

 

No início do confinamento, muitas empresas foram obrigadas a parar repentinamente os seus processos de recrutamento e seleção de candidatos. Num contexto de teletrabalho e de incerteza, foi assim necessário repensar a forma como as empresas recrutam, bem como que competências necessitam recrutar. Neste sentido, será que a Covid-19 alterou para sempre os processos de recrutamento como os conhecemos?

Em primeiro lugar, assistimos à necessidade de digitalizar todo o processo de recrutamento. Para as empresas que ainda dependiam de um processo presencial a adaptação foi mais difícil, ao contrário das empresas que já utilizavam softwares de recursos humanos antes da COVID-19. No entanto, todas as empresas não tiveram outra alternativa senão adotar o recrutamento virtual, desde a utilização de chamadas de vídeo para entrevistas, a ferramentas tecnológicas mais avançadas que permitem a gestão do processo de seleção de pessoas de forma digital. A verdade é que, apesar do desafio, estas mudanças trouxeram vantagens ao libertar os recrutadores dos processos manuais tediosos que ocupam demasiado tempo útil de trabalho, bem como ao tornar o processo mais rápido e eficaz.

Por outro lado, também assistimos a uma mudança nas necessidades e exigências das empresas na hora de contratar. Enquanto determinados sectores sofreram uma queda no recrutamento, outros registaram um crescimento substancial, sobretudo em áreas ligadas ao retalho e tecnologia. Com tantos negócios a precisar de sites e novas plataformas para chegar aos seus clientes e a terem de transitar para o online em tempo recorde, as empresas foram obrigadas a criar novos postos de trabalho e começaram a dar uma maior prioridade a perfis com competências ligadas à tecnologia.

Já o teletrabalho e a necessidade de rápida adaptação a imprevistos, fez com que a procura por soft skills estratégicas ganhasse uma nova importância: acredito que a capacidade de trabalhar num ambiente totalmente digital, competências relacionadas com resolução de problemas, criatividade e inovação e capacidade de adaptabilidade e resiliência em momentos de disrupção serão competências cada vez mais essenciais para as empresas garantirem o seu sucesso e crescimento.

Ainda dentro deste ponto, devido à transição das operações para o online, a localização também deixou de ser um factor limitativo ou uma exigência para o recrutamento de talento. Se antes a procura pelo candidato perfeito estava limitada à geografia da sede da empresa ou a orçamentos de realocação, agora, com o teletrabalho e sua flexibilidade, muitos dos recrutadores têm a oportunidade de ter acesso a uma pool de talentos muito maior.

Por fim, do lado dos candidatos, assistimos a uma maior exigência na hora de escolher um novo emprego. Enquanto os incentivos monetários, as vantagens ou prestígios corporativos estão a deixar de ser suficientes para atrair um candidato, agora a cultura, os valores e o alinhamento ético da empresa tornam-se cada vez mais importantes. Quando se fala em cultura da empresa, o local de trabalho físico deixa de ser tão relevante como antes, o que significa que uma mesa de pingue-pongue no escritório ou uma despensa cheia de fruta não substitui o cultivo de uma cultura clara e valores duradouros dentro da organização. Depois de uma pandemia, os candidatos querem cada vez mais encontrar um trabalho com um propósito, bem como a flexibilidade e o teletrabalho que o ano passado trouxe.

Neste sentido, um ano depois de mudanças e desafios sem precedentes, acredito que, no que toca aos processos de recrutamento, será difícil andar de novo para trás e regressar ao contexto que conhecíamos. A maneira como as empresas recrutam, contratam e retêm talento mudou definitivamente. Como tal, a forma como as empresas reagem a este contexto fará uma grande diferença.

É hora de se concentrarem na cultura da empresa e definirem os valores sob os quais operam, de serem mais transparentes sobre as suas ofertas de emprego e digitalizarem os seus processos, de se tornarem mais flexíveis em relação ao teletrabalho e promoverem a segurança pública.

Aquelas que se conseguirem adaptar ao novo normal, conseguirão recrutar talento com sucesso.

 

 

 

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