Como lidar com o risco de burnout na organização e, ao mesmo tempo, manter o desempenho dos colaboradores? Estas dicas vão ajudar (e muito)

Há quem considere que ser produtivo significa passar mais tempo a trabalhar, até porque aparentemente quanto mais tempo despendemos em tarefas, mais podemos fazer. E são inúmeros os conselhos sobre como maximizar o tempo de trabalho. Para lidar com uma carga de trabalho cada vez maior, muitos profissionais optam por não almoçar e fazer horas extra.

Mas o preço a pagar por estar sempre ligado (e produtivo) é alto. De acordo com uma pesquisa recente da norte-americana Aflac, mais de metade dos profissionais (59%) revela sentir burnout e a taxa de engagement está a diminuir. Ambos os factores estão associadas a quebras de desempenho. Como lidar com um bem-estar em declínio e, ao mesmo tempo, manter o desempenho?

Desacelerar em vez de aumentar o ritmo pode ajudar em ambos os aspectos. Ao analisar mais de 80 estudos existentes sobre o tema, a Harvard Business Review (HBR) confirma que fazer pausas no trabalho ao longo do dia pode melhorar o bem-estar e também ajudar a trabalhar mais.

Por que fazer pausas é benéfico para o bem-estar e desempenho?

Tal como as baterias precisam de ser recarregadas, também temos um conjunto limitado de recursos físicos e psicológicos. Quando as nossas “baterias” estão fracas, sentimo-nos esgotados, exaustos e stressados.

“Esticar” o trabalho quando há pouca energia sobrecarrega o bem-estar e o desempenho. Em casos extremos, o trabalho ininterrupto pode levar a uma espiral negativa: um profissional tenta terminar as tarefas, apesar de estar esgotado, não consegue fazê-las bem e até comete erros, o que resulta em mais trabalho e menos recursos para lidar com essas tarefas. Isso significa que quanto mais trabalhamos, menos produtivos e mais exaustos podemos tornar-nos.

A boa notícia é que fazer pausas pode ajudar os profissionais a recarregar e interromper a espiral negativa de exaustão e diminuição da produtividade. No entanto, nem todas as pausas têm efeitos iguais.

Que tipos de pausas são mais eficazes para melhorar o bem-estar e o desempenho?

As pausas vêm em vários formatos como fazer exercício, navegar nas redes sociais, fazer uma caminhada curta, socializar, fazer uma sesta, almoçar etc. No entanto, nem todos são igualmente eficazes. Eis aqueles elementos que devem ser considerados:

Duração e tempo de pausa

Uma pausa mais longa não significa necessariamente uma pausa melhor. Afastar-se do trabalho apenas por alguns minutos, mas regularmente (micropausas), pode ser suficiente para prevenir a exaustão e aumentar o desempenho. Além disso, o momento da pausa também é importante – intervalos mais curtos são mais eficazes pela manhã, enquanto intervalos mais longos são mais benéficos no final da tarde. Uma vez que o cansaço piora ao longo do dia de trabalho, precisamos de mais pausas à tarde para recarregar as energias.

Localização das pausas

O local onde as pausas acontecem pode fazer uma grande diferença em termos de recuperação. Alongar-se ao lado da secretária ou sair para uma caminhada curta parecem actividades semelhantes, mas podem diferir substancialmente no seu potencial de “recarga”. Fazer uma pausa ao ar livre e aproveitar o espaço verde é muito melhor para energizar do que simplesmente ficar à secretária.

Pausas com ritmo

Actividade física durante uma pausa é eficaz para melhorar o bem-estar e o desempenho. O exercício é uma ferramenta de recuperação especialmente valiosa para trabalhos mentalmente exigentes. No entanto, os efeitos positivos desse tipo de pausa são de curta duração e os colaboradores precisam de exercitar-se regularmente para obter reais benefícios.

Apesar desses benefícios, o exercício não é o modelo de pausa preferido pelos profissionais. A análise da HBR mostra que navegar nas redes sociais é o mais comum (97%), no entanto, está provado que também pode levar à exaustão emocional, já que diminui a criatividade e engagement dos profissionais no trabalho.

Pausas com companheiros de quatro patas

Um estudo mostrou que as interacções com cães podem diminuir os níveis de cortisol, um indicador objectivo de stress. Ainda que os efeitos no desempenho não sejam claros, passar uma pausa com um companheiro peludo resulta com muitos profissionais. As interacções com animais de estimação podem aumentar substancialmente o bem-estar psicológico dos colaboradores, que, por sua vez, está fortemente ligado ao desempenho.

 

O que gestores e organizações podem fazer para incentivar as pausas?

Ainda que a existência de pausas faça parte, não quer dizer que os colaboradores as usem de forma eficiente ou as façam sequer. Como decisores e gestores de equipas estão numa posição importante para incentivar pausas de trabalho eficazes. Isso pode ser conseguido de várias maneiras:

Promover atitudes positivas em relação às pausas

Embora os colaboradores apreciem e reconheçam os benefícios das pausas, esse sentimento nem sempre é partilhado pelos gestores. Por isso, é fundamental que os gestores sejam informados sobre os benefícios das pausas no trabalho no desempenho. Por exemplo, os gestores de RH podem incorporar essas informações nos programas de formação de bem-estar da empresa. As organizações também podem considerar a implementação de “momentos de bem-estar”, durante os quais podem partilhar estratégias para fazer pausas eficazes e debater actividades divertidas.

Dar o exemplo

Os gestores podem comunicar a importância de fazer pausas dando o exemplo. Por exemplo, um gestor pode comunicar à sua equipa que vai fazer uma pausa para passear o cão num parque perto. Essa estratégia dará um exemplo positivo, mas também estabelece limites claros para não interromper as pausas. Liderar pelo exemplo ajudará a evitar o possível estigma e culpa associados às pausas.

Agendar períodos de pausa

A análise da HBR mostra que muitos colaboradores não conseguem fazer pausas regulares ou são dissuadidos de fazê-lo por causa do estigma; portanto, recomendam que os gestores e organizações programem horários de pausa, porém esses intervalos devem ser implementados com cuidado. Horários de pausa rígidos, como obrigar os colaboradores a parar de trabalhar apenas num determinado horário e por um período pré-determinado, reduzem a autonomia do profissional e podem até ter efeitos prejudiciais.

A HBR recomenda disponibilizar períodos de pausa com certa duração, como uma hora por dia, deixar as pausas ao critério do colaborador. Disponibilizar horários de trabalho flexíveis, iniciativas inovadoras de intervalos no local de trabalho, como actividades sociais ou físicas podem ser soluções eficazes.

Criar espaços para pausas

Como mencionado acima, a localização das pausas pode desempenhar um papel importante na maximização dos seus benefícios. Por exemplo, ter um pequeno jardim ou espaço verde interno pode ser indicador do compromisso da organização em facilitar as pausas no trabalho e aumentar os benefícios das pausas no que diz respeito ao desempenho dos colaboradores. Para tirar mais vantagens das pausas ao ar livre, também pode facilitar um parque para cães, onde os colaboradores podem interagir livremente com os animais. Isso também pode servir como ferramenta de recrutamento, pois a procura por locais de trabalho que aceitam animais de estimação está a aumentar e muitas empresas já adoptaram políticas semelhantes.

Organizações com colaboradores a trabalhar em casa também podem usar os espaços disponíveis organizando reuniões online no parque, nas quais os trabalhadores remotos possam participar num espaço ao ar livre. Em alternativa, podem alocar uma verba para que os colaboradores criem o seu próprio espaço, como comprar uma planta ou um tapete de ioga.

O desempenho dos colaboradores sempre foi uma preocupação para as organizações, e cada vez mais empregadores se esforçam para cuidar do seu bem-estar e as pausas de trabalho podem funcionar como uma ferramenta promissora para melhorar ambos.

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