Como podem as mulheres desbloquear o seu potencial? Há barreiras externas mas também internas
Se as barreiras externas podem levar mais tempo a mudar, estás nas nossas neutralizar as barreiras internas.
Por Rita Ribeiro da Silva, CEO & cofundadora da Skoach*
É importante distinguir dois tipos de barreiras à maximização do nosso potencial: externas, como sermos percepcionadas de forma diferente, mesmo quando nos comportamos de forma igual ou não termos tanto acesso ao “boys club”; e internas, restrições que subconscientemente nos impomos (mesmo que, muitas vezes, sejam resultado do nosso contexto). Hoje, vou focar-me nas barreiras internas.
Apesar de saber que todas as mulheres são diferentes e que muitas das barreiras que enfrentamos são tão humanas como femininas, estatísticas levam-me a acreditar que certas barreiras, em média, se manifestam mais nas vidas de mulheres.
Refiro-me ao nosso conforto para:
- Negociar: os homens pedem aumentos quatro vezes mais do que as mulheres e, quando estas os pedem, pedem, em média, montantes 30% menores do que os homens. (Linda Babcock, Carnegie Mellon University, co-autora de Women Don’t Ask);
- Fazer networking: depois de alguns estudos mostrarem que as mulheres criam redes menos eficazes para seu benefício profissional, um estudo de 2018, sobre 37 executivas alemãs, aponta uma causa: as mulheres sentem-se moralmente pouco confortáveis em explorar essas redes para sua vantagem, o que é exacerbado pela própria subestimação do seu valor profissional. (SAGE);
- Ser confiantes: num estudo de 2011 perguntou-se a chefias britânicas se se sentiam confiantes no que faziam – 50% das mulheres evidenciaram pouca confiança comparado com perto de 30% dos homens. (Institute of Leadership and Management).
Escrevo conforto e não capacidade, porque acredito que todos temos a capacidade de aprender a ser fortes nestas três frentes. Para mim, o que mais desbloqueia o potencial humano é perceber que o nosso cérebro é um músculo e que, com ele, podemos treinar todas as competências que quisermos, incluindo a capacidade de negociação, networking e ter confiança.
Para o fazer, é preciso ter acesso a ferramentas e treinar repetidamente, tal como se fossemos ao ginásio. O cérebro vai absorvendo estímulos repetidos e vai se reorganizando até que conseguimos que novos comportamentos se tornem a norma, porque criámos esse músculo.
Tudo começa na consciência de que podemos sempre melhorar, que podemos crescer com os obstáculos, aprender com os erros – o conhecido growth mindset.
A partir daí, é adquirir ferramentas e gerir os pensamentos que nos levam a não agir como gostaríamos. Gerir pensamentos é crítico, porque eles definem o que sentimos e isso define como nos comportamos.
Por exemplo:
- Na negociação, estudos mostram que o desconforto das mulheres desaparece, se tiverem de negociar em nome de mais pessoas, o que aponta para uma barreira autoimposta (Program on Negotiation – Harvard Law School). Uma forma de ultrapassá-la é pensar que estamos a representar um grupo (família, equipa, organização, alguém em situação semelhante, etc.).
- No networking, uma experiência controlada mostrou que quando sentimos que temos mais para dar, ficamos mais confortáveis para fazer networking, ou seja, se abrirmos o espectro do que pensamos que temos para oferecer, como por exemplo, gratidão, reconhecimento ou mesmo oportunidade de sermos mentores, podemos mudar a forma como vemos e usamos o networking.
- Na confiança, muitas vezes é impensável replicar o diálogo que temos internamente com um(a) amigo(a). Se repetidamente validarmos se o que dizemos é verdade e se o diríamos a uma amiga, começaremos a ter diálogos mais saudáveis e mais fortalecedores da confiança.
O cérebro aceita as limitações que lhe impomos. Os novos recordes muitas vezes duram pouco tempo porque se tornam possíveis aos olhos de outros: Depois de Sir Bannister bater o recorde de correr 1 milha em menos de quatro minutos, oito outras pessoas conseguiram o mesmo resultado nesse ano.
Devemos todas (e todos) estar conscientes das limitações que possamos impor-nos e focar-nos em eliminá-las para sermos melhores e mais felizes.
* Skoach – your skills coach, lançado por Rita Ribeiro da Silva e João Ferreira, visa ajudar pessoas a ganhar novos hábitos que desbloqueiam o seu potencial e também o da sua equipa.