Consultora EY identifica os principais desafios de Portugal para a segunda metade de 2021

Mais de um ano após o início da pandemia COVID-19, a EY lança a segunda edição do estudo “Conhecer os desafios ajuda a encontrar o caminho?”, que faz uma antevisão dos principais desafios para Portugal e para os portugueses na segunda metade do ano.

Olhando para sectores tão diversos como a banca, o turismo, o retalho e a mobilidade, esta publicação – dividida nos capítulos Crescimento e ESG – traça as principais dificuldades que enfrenta o tecido empresarial português, identificando, ao mesmo tempo, as ligações com os temas e tendências que marcam o ‘novo normal’ e que vão ter impacto na agenda de crescimento – o comércio eletrónico, o foco na sustentabilidade, entre outros.

«Para muitos sectores, a retoma da procura internacional e a agilidade das empresas permitiu já o regresso a níveis de actividade e de exportações muito expressivos. Para as actividades mais dependentes dos fluxos de turismo e da proximidade com os clientes, a realidade é dura e a recuperação vai ser lenta», aponta João Alves, Country Managing Partner da EY Portugal.

Apesar da incerteza que continua a atrasar a retoma, o responsável da EY sublinha que«“já é seguro dizer que a realidade pós-pandemia será diferente da que conhecemos no passado: as preferências dos clientes mudaram, o modelo de atracção e retenção de talento mudou e a gestão de risco terá de ser necessariamente diferente em toda a organização».

1. Crescimento
A pandemia COVID-19 afectou, de forma transversal, a forma de fazer negócios em todos os sectores da economia, criando um novo normal que deverá sobreviver à crise pandémica. Segundo a análise da EY, «algumas alterações serão passageiras, mas outras alteraram estruturalmente os hábitos e os modelos de trabalho, e terão por isso de ser contornados ou mitigados pelas empresas e outros agentes económicos, ou mesmo aproveitados, no caso dos que geram novas oportunidades».

No caso da banca, por exemplo, os especialistas da EY consideram que a saída dos colaboradores dos escritórios e a menor afluência de clientes nas agências constituem uma oportunidade de reduzir os custos imobiliários e de consumíveis, mesmo que isso crie desafios noutras áreas como o apoio à força de trabalho à distância, a tecnologia e a experiência do cliente.

Embora não antecipando fusões transfronteiriças, a EY assinala que a consolidação no sector também oferece oportunidades de sinergias reais e reconhece que o apetite para fusões e aquisições no mercado já está a aumentar.

Além da gestão dos custos, os bancos vão enfrentar desafios e requisitos regulamentares mais complexos e ter de dar resposta à mudança na procura: os clientes empresariais estão a procurar apoio para reinventar modelos de negócio, incluindo aconselhamento sobre parcerias industriais, prevenção de fraudes e cobertura de riscos, enquanto os clientes individuais querem cada vez mais serviços de subscrição, seguros de rendimento e produtos de gestão de risco.

No que respeita ao turismo, o estudo indica que o retorno aos níveis de actividade pré-pandemia só deverá acontecer a partir de 2023, implicando grandes desafios em matéria de solvabilidade e liquidez, que exigirão a continuidade dos apoios públicos. «O final da pandemia está no horizonte, mas o sector do turismo será talvez aquele em que a recuperação será mais lenta. A existência de medidas de apoio ao sector será fundamental para assegurar a existência de capacidade no pós-pandemia e o reforço da competitividade do sector», refere a análise da EY.

Em jeito de sugestões para os hotéis mitigarem os efeitos da pandemia, o estudo destaca: salas equipadas com equipamentos melhores do que os normalmente disponíveis em casa ou em ambientes empresariais menos sofisticados; alternativas racionais para realização de eventos ou reuniões de empresas; e a conversão de espaços de grandes dimensões em ambientes mais pequenos e informais.

Independentemente da área da actividade, a análise identifica a pandemia como uma oportunidade única para um dos pilares fundamentais da economia nacional – as empresas familiares – reavaliarem os seus modelos de negócio. Devem considerar como fundamental a liquidez, a diversificação e a robustez do financiamento, assim como o planeamento de sucessão e o envolvimento das gerações mais jovens.

Olhando para o papel do Estado na mitigação dos impactos da crise, a EY considera que as políticas fiscais e financeiras e as linhas de crédito disponibilizadas foram um balão de oxigénio durante a pandemia, mas que é necessário antecipar o efeito do fim das moratórias no segundo semestre e implementar medidas de otimização da carga fiscal das empresas. Até porque, preveem os especialistas, «as operações de M&A (fusões e aquisições) no mercado português irão continuar a crescer», depois de terem atingido 3,1 mil milhões de euros até Maio, de acordo com o Transactional Track Record.

2. ESG
Ainda que não tenha inaugurado conceitos como a transição energética e o desenvolvimento sustentável, a pandemia empurrou essas temáticas para o topo da agenda de governos, reguladores e empresas, e induziu mudanças nas atitudes e formas de consumo dos cidadãos.

Prova disso é a nova proposta de Directiva sobre o Reporte de Sustentabilidade Corporativo ou Corporate Sustainability Reporting Directive (CSDR), publicada pela Comissão Europeia em abril, que exige que todas as empresas partilhem informação não financeira de forma mais direccionada, fiável e facilmente acessível. Segundo a EY, é uma oportunidade única para aumentar a transparência das empresas portuguesas, que «devem estabelecer planos de descarbonização que incluam projetos e ações enquadrados nos objectivos dos investimentos abrangidos no PRR, para, assim, maximizarem a captação de investimentos destinados à transição climática no período de 2021 a 2026».

Do ponto de vista do consumidor, assiste-se a uma mudança de comportamentos. O EY Future Consumer Index (Fevereiro de 2021) mostra que 64% dos inquiridos planeiam prestar mais atenção ao impacto ambiental do que consome e 56% consideram o impacto ambiental de um produto nas suas decisões de compra.

Paralelamente, o reforço do comércio eletrónico veio para ficar, exigindo ao retalho que ofereça uma experiência de compra personalizada, fácil, e partilhável, com os consumidores a esperarem agora que as marcas entreguem de forma rápida e preferencialmente gratuita.

Alinhado com o maior foco na sustentabilidade está também o crescimento das vendas de veículos elétricos em Portugal, que representaram 15,5% do total nos primeiros cinco meses do ano. Contudo, a autonomia e o carregamento continuam a ser barreiras à adopção. «É fundamental continuar a existir uma política de incentivos em prol da transição automóvel sustentável, nomeadamente na aquisição de viaturas elétricas, para além da implementação eficaz de uma rede de postos de carregamento de viaturas eléctricas ou híbridas plug-in, de Norte a Sul do País, algo que ainda se encontra muito longe de se concretizar.», refere o estudo. «Alcançar a sustentabilidade nos transportes rodoviários exige proporcionar aos utilizadores alternativas mais baratas, acessíveis e limpas do que os seus atuais hábitos de mobilidade. Caso contrário, corremos o risco de tentar apanhar moscas com vinagre, ficando aquém do objectivo audaz da Comissão da tão ambicionada neutralidade climática já em 2050».

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