Conversas de qualidade
Por Anabela Silva
Directora de Comunicação e Marketing da BP Portugal
Quando foi a última vez que teve uma conversa de qualidade?! Alguns terão tido uma experiência recente, mas muitos, certamente, não conseguem recordar a última vez que fizeram uma pausa para ouvir com atenção o que o colega, amigo ou familiar tinha para dizer.
Desafio o leitor a parar e pensar qual a última vez que teve uma conversa de qualidade e escolher o melhor caminho para manter ou iniciar essas conversas.
Aos profissionais de hoje é exigida, cada vez mais, uma multiplicidade de tarefas que não chegam para as horas disponíveis. Acresce o facto de ser quase imperativo termos uma presença constante online, que contamina tudo e todos os nossos meios de comunicação, como se não houvesse amanhã. Queremos agora, hoje, e não amanhã!
Pois é justamente devido a esta pressão crescente, de responder a tudo e estar sempre disponível para “comunicar”, que urge emitir um alerta a todos os profissionais para que tenham conversas de qualidade. Ser capaz de ouvir atentamente aqueles que nos rodeiam, e em particular aqueles com quem trabalhamos, é um bem essencial na Gestão de Pessoas e, naturalmente, na gestão de um relacionamento com os outros. Um ambiente que permita a ambos os comunicadores falarem para além do essencial permite entender, muitas vezes, as verdadeiras razões de frustrações, a falta de performance e evitar conflitos gerados frequentemente pela falta de uma comunicação clara.
A simplificação das mensagens, associada aos meios de comunicação “modernos” como emails, chats, sms e afins, coloca em causa, por diversas vezes, a qualidade dos diálogos, porque nos focamos no superficial e não aprofundamos o essencial, hipotecando o tempo de qualidade para entender a verdadeira origem de determinados comportamentos.
Ter tempo de qualidade para conversar com um colaborador é ter a capacidade de cuidar da relação com quem nos rodeia e, muitas vezes, evitar situações de conflito. Este tempo de qualidade traz consigo a capacidade de estabelecer uma escuta activa e a capacidade de questionar – ambos instrumentos da Gestão de Pessoas que permitem entender as verdadeiras motivações para determinadas acções ou estados emocionais. A escuta é activa porque ouvimos com a abertura suficiente para permitir suspender o julgamento das ideias, pois frequentemente ficamos agarrados aos preconceitos que nos levam ao julgamento imediato de atitudes e comportamentos, sem antes ter oportunidade de entender a razão dos mesmos. É muito difícil fazê-lo, mas quando de forma consciente nos esforçamos para que tal aconteça, enriquecemos a nossa capacidade de interagir com os outros. E a capacidade de questionar, porque é através de perguntas abertas que vamos ter a possibilidade de ter uma conversa em profundidade, explorar a razão dos comportamentos adoptados e dar oportunidade aos outros para expressar a suas opiniões, para assim melhor compreendermos as suas atitudes, promovendo ao mesmo tempo o sentimento de inclusão.
Em resumo, investir um pouco do nosso tempo em conversas de qualidade com aqueles que nos rodeiam é um investimento seguro na promoção de um melhor ambiente de trabalho. Pois, ainda que o tempo seja um bem escasso para todos, se o soubermos aproveitar bem teremos a capacidade de gerir a abundância dos benefícios das nossas escolhas.
Artigo de opinião publicado na Revista Human Resources n.º 88 de Fevereiro de 2018.