COVID-19 acelerou transformação digital mas falta de competências digitais continua a preocupar

Há vários indicadores digitais a crescerem em Portugal, fruto dos efeitos causados pela COVID-19. O surto pandémico fez aumentar acessos à internet, compras online e a presença das empresas na Web. Um “novo normal” que deve acelerar ainda mais e que está para durar. O tema esteve em discussão no Portugal Digital Summit’20.

 

Portugal tem vindo a evoluir nos últimos anos em termos de penetração internet no sentido da convergência para os grandes indicadores. Em 2019 já revelava essa aproximação, com três quartos dos portugueses a ter acesso à grande rede e a expectativa é que, no final do ano, com o efeito pandemia, o número alcance os 80%.

«A pandemia foi um acelerador, em mais do que um contexto. Temos mais pessoas a usarem a net, mais pessoas a usarem com mais frequência, mais portugueses a diversificarem as atividades que realizam online e mais portugueses a fazerem compras a partir de casa e com mais frequência», referiu Alexandre Nilo Fonseca, na sessão de abertura do Portugal Digital Summit.

«Numa evolução normal o número de utilizadores de internet que faz compras online estaria agora a rondar os 50 e poucos por cento, e atualmente está perto dos 60%», referiu o presidente da ACEPI, citando alguns dos dados revelados no mais recente Estudo da Economia Digital, divulgado hoje durante o Portugal Digital Summit.

«Este é um novo normal que não deverá mudar», acredita Alexandre Nilo Fonseca. Até porque a grande altura de compras do ano se aproxima e a questão nem será apenas entre a mera escolha de comprar a partir de casa ou no local. «As lojas físicas não vão comportar tantas pessoas como era habitual nesta época. A alternativa natural será fazer compras online».

 

Empresas portuguesas responderam bem ao desafio
A par das pessoas, um outro indicador importante de evolução é a presença das empresas na internet que passou de apenas 40% em 2019, para os 60% agora observados. «O cenário reverteu-se completamente num relativo espaço de tempo», em resultado dos efeitos da pandemia, mas também de iniciativas no terreno, como é o caso do Programa Comércio Digital, promovido em parceria com o Estado português.

O crescimento do digital entre as empresas é igualmente atestado no campo do registo de domínios. O .pt revelou-se o domínio de topo preferido pelos portugueses para registarem os seus sites durante este período, e de forma acentuada.

Em Março e Abril o crescimento do número de novos domínios face ao ano passado rondou os 80%. «Continuamos com um crescimento acumulado de 26%. Continuamos a crescer muito mais do que no ano passado», referiu Luísa Ribeiro Lopes, presidente do .PT, durante o painel Accelerating a digital nation.

 

Falta de competências digitais continua a preocupar
Se por um lado as empresas souberam reagir e apostaram numa maior presença online e no .pt, por outro lado Luísa Ribeiro Lopes mostra preocupação com a questão das competências digitais dos portugueses. A presidente do .PT considera que a transformação para o digital é também uma questão de educação e de competências «e aí estamos muito aquém do que poderíamos estar».

Esse é precisamente um dos pilares do Plano de Acção para a Transição Digital, apresentado em Março pelo Governo. «Para sermos uma nação digital temos de trabalhar todas as dimensões do digital, e foi isso que nos propusemos fazer desde a apresentação do plano de ação para a transição digital e que prevê trabalhar esses três pilares da transformação: as pessoas, as empresas e a AP. Se não trabalharmos todas as dimensões juntas não vamos conseguir fazer de Portugal uma digital nation», sublinhou Vanda de Jesus.

A directora executiva da Estrutura de Missão “Portugal Digital” sublinhou que «Portugal tem dimensões em que está menos bem e admitiu que uma delas é a parte da capacitação, da preparação das pessoas», em que se juntam a infoexclusão, as competências básicas em TIC e mesmo a competências mais elevadas.

Na dimensão das empresas também será importante trabalhar a visão holística do digital, «sempre com uma grande preocupação em redor da inclusão».

Os serviços da Administração Pública são a vertente em que comparamos melhor com os dados europeus, salientou a responsável pela Estrutura de Missão.

Há uma fatia do investimento do Plano de Recuperação e Resiliência para a economia portuguesa que vai para a digitalização e que está alinhado com os pilares importantes das Pessoas, Empresas e Administração Pública, sublinhou António Lagartixo. «Aquilo que vai fazer diferença para o futuro é a maneira como vamos aplicar estes fundos. No que diz respeito às empresas vai ter de ser feito todo um trabalho de detalhe, de como é que vamos agarrar nos fundos disponíveis e os vamos colocar ao serviço das empresas», considera o presidente executivo da Deloitte Portugal.

Por outro lado, António Lagartixo também considera que não vamos conseguir ter um país mais digital se culturalmente – ou educacionalmente – não olharmos para a tecnologia no dia a dia de uma forma “normal”.

«Existe um trabalho enorme por fazer para o grosso do tecido empresarial das empresas de menor dimensão e aí os fundos que vão estar ao dispor podem desempenhar um papel absolutamente determinante», sublinhou o presidente executivo da Deloitte Portugal. «Temos de olhar para a digitalização do país como a integração da tecnologia em tudo aquilo que é o nosso modus operandi normal».

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