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COVID-19. Empresários (e não só) pedem retoma da economia. E propõem 10 medidas para evitar nova vaga de infecções
De empresários a médicos, passando por advogados, professores ou músicos, foram, ao todo, 159 as personalidades portuguesas que subscreveram uma carta, enviada esta segunda-feira ao presidente da República, ao primeiro-ministro e ao presidente da Assembleia da República, a pedir uma estratégia gradual de retoma da actividade económica. Mas com novas (dez) medidas de contenção, para evitar uma segunda vaga de infecções pela COVID-19.
Entre as propostas feitas destacam-se duas: o uso generalizado de máscaras e a identificação e notificação automática, via SMS, das pessoas em risco.
Entre os subscritores estão nomes como Miguel Pinto Luz (autarca e ex-secretário de Estado do PSD); Pedro Santa Clara (economista e professor catedrático na Nova SBE); Jaime C. Branco (médico e diretor da Nova Medical School); António Saraiva (presidente da CIP); Carlos Silva (secretário geral da UGT); Luis Palha (presidente da Pharol); Manuel Rodrigues (docente em Finanças na King’s College London); Álvaro Covões (produtor de espetáculos); Ana Paula Martins (bastonária da Ordem dos Farmacêuticos); Mário Vaz (presidente da Vodafone Portugal); Miguel Almeida (presidente da NOS); Miguel Gameiro (músico); Pedro Proença (presidente da Liga Portuguesa de Futebol); Vítor Sobral (chef); Ricardo Mexia (Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública); Martins da Cruz (embaixador e ex-ministro dos Negócios Estrangeiros), entre outros empresários, médicos, enfermeiros, advogados, políticos ou professores.
Na carta endereçada a Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa e Eduardo Ferro Rodrigues, pedem que «em consonância com o parecer dos técnicos especialistas, o Estado de Emergência venha a ser levantado gradualmente com a mitigação da epidemia».
«Uma segunda vaga seria ainda muito mais difícil a todos os níveis, sobretudo a nível da confiança dos agentes», disse ao “Observador” o economista Pedro Santa Clara, um dos organizadores da iniciativa, sublinhando que, ainda assim, «temos de encontrar uma forma de, com total segurança do ponto de vista da saúde pública, retomar a actividade económica».
Assim, os subscritores defendem 10 medidas:
- Uso obrigatório de máscaras por parte de toda a população para reduzir a transmissão do vírus. No caso de se verificar a escassez de máscaras, as mesmas devem ser confeccionadas em casa seguindo as instruções do Conselho das Escolas Médicas Portuguesas e de entidades internacionais como o Centers for Disease Control and Prevention dos EUA;
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Diagnóstico precoce de Covid-19 testando todos os casos suspeitos num prazo máximo de 24 horas desde a manifestação dos sintomas, bem como a massificação da utilização de teste serológicos na população em geral;
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Para cada caso positivo, e sob a supervisão da comissão de protecção de dados, solicitação, pelas autoridades de saúde aos operadores de redes móveis, da lista dos cidadãos que terão sido potencialmente expostos a risco de contágio, nos 14 dias anteriores à realização do teste entretanto confirmado positivo (uma medida, que, segundo Pedro Santa Clara, as operadoras teriam capacidade de fazer). Os delegados de saúde deverão notificar (“SMS” ou contacto telefónico) cada cidadão em risco e consequentemente emitir um “certificado de isolamento profilático de 14 dias”, à semelhança do que já hoje é praticado;
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Isolamento obrigatório de todos os casos confirmados (positivos);
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Utilização de equipamento de protecção individual que confere protecção máxima para todos os profissionais de Saúde seja em zona Covid-19 seja em zona não-Covid-19 para evitar contágio de profissionais por doentes Covid-19 que não se enquadrem na definição de caso suspeito em vigor;
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Capacitação de profissionais de saúde e de grupos específicos (em escolas/empresas);
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Disponibilização de solução de base alcoólica em locais públicos com dispensador “contactless”;
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Manutenção de todas as medidas de distanciamento social que não tenham impacto económico, tais como o regime de teletrabalho sempre que possível;
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Ponderação individual do “phase-out” [abandonamento gradual] de cada medida de “lock-down”;
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A decisão de abertura, consubstanciada, em qualquer circunstância, num plano integrado a desenvolver e que passará por efectivar novos investimentos no SNS, reforçar a economia, potenciar o nosso tecido produtivo nacional, salvaguardar o nosso sistema de ensino, garantir a segurança interna, para além das medidas de contenção da epidemia que a cada momento se considerem necessárias.
Recorde-se que Portugal, onde os primeiros casos confirmados foram registados no dia 2 de Março, encontra-se em Estado de Emergência desde de 19 de Março e até ao final do dia 17 de Abril.