Descartar os pais no trabalho?

Se está à espera de um artigo de opinião que fale de parentalidade pode fechar esta página. As próximas palavras só reflectem a inquietação de quem está apreensiva com os estereótipos e preconceitos relacionados com a aparente idade limite no local de trabalho.

Por Joana Russinho, People Enthusiast, head of Human Resources e autora de “Eu e os Meus rh

Ora vejamos (esta extrapolação): tipicamente um jovem licenciado entra no mercado de trabalho com 22 anos e se aos 47 (estarei a ser simpática?) ficar desempregado, ou procurar uma mudança profissional, são poucas as portas que se abrem. Reparem, trabalhou 25 anos, faltam-lhe 20 para a reforma e já vai para o fundo da lista de curricula a triar.

Segundo a Psicologia, entre os 40 e os 50 anos, muitos são os que vivem uma maior estabilidade emocional em comparação com os mais jovens, tendo uma melhor compreensão sobre quem são e o querem para as suas vidas.

Do ponto de vista profissional, algumas pessoas estão no auge das suas carreiras, fortalecidos com competências técnicas e outras, experienciando um aumento de responsabilidades no trabalho, o que as pode levar a sentir a necessidade de uma mudança profissional ou a procurar novos desafios.

Então, porque é que negligenciamos aspectos como a estabilidade emocional, o autoconhecimento, a experiência, a maturidade, o saber fazer e estar, a capacidade de transmissão de conhecimento e descartamos os pais chamando-lhes avós?

Optamos por povoar os open spaces com uma maioria de filhos, jovens, que cresceram numa era digital em que o imediato impera; que nos dizem ser mais permeáveis à flexibilidade e adaptabilidade; que nos presenteiam com criatividade e ideias inovadoras; que revelam um forte interesse por questões sociais e ambientais e pregam a importância da aprendizagem contínua, estando muitas vezes dispostos a investir em oportunidades de desenvolvimento profissional para ganhar mundo e novas competências e que cresceram a ouvir falar de diversidade e inclusão.

E optamos bem, desde que não abramos mão do outro lado da moeda: o lado dos que têm um contexto económico e social baseado não só no que lêem, mas também no que viveram; os que sabem que a mudança é uma inevitabilidade da vida e que já tiveram de se adaptar variadíssimas vezes (deixem-me só destacar a escrita à mão, a procura de respostas que não estão à distancia de um clique; a mudança de uma moeda e as novas tecnologias que aprenderam para continuarem actualizados); que podem ser criativos e ainda ter muitas lições aprendidas úteis para agilizar decisões; que provavelmente não deram tanta relevância às questões ambientais porque, na altura, os media também eram mais discretos sobre o assunto; que nunca pararam de aprender, muitas vezes numa lógica autodidacta, e que se não proclamam tanto a tolerância é porque não compreendem o idadismo.

É importante acautelar que cada indivíduo é único, e as características que extrapolei não são únicas nem exclusivas e que variam. Também eu estou a estereotipar. No entanto, aproveitar o que os jovens trazem de bom, acomodando os que já cá andam há mais tempo, é, a meu ver, a combinação de sucesso para acompanhar os desafios de hoje e os de amanhã. Teremos:

  • Visões e abordagens novas doseadas por outras que já foram experimentadas e que permitiram um aumento de eficiência operativa e de tempo;
  • Inconformismo saudável regado com sensatez, sempre relevante na análise de riscos;
  • Impaciência própria de uma juventude que ganha se acompanhada por exemplos de resiliência;
  • Abertura à mudança e flexibilidade a dobrar, uma vez que ninguém quer estagnar;
  • Vontade de aprender, e de ensinar, mútuas, perfeito para estreitar laços e o trabalho em equipa;
  • Transmissão de conhecimento on the job, tantas vezes mais produtivo de que apenas “escutar”;
  • Inquietude e paciência, uma mistura explosiva que se traduz em soluções integradas;
  • Equipas mais ricas, mais completas, mais humanizadas que cultivam uma cultura de bem-estar;
  • Lideranças legitimadas pelo exemplo de diversidade com que gerem o negócio;
  • Clientes satisfeitos por sentirem que existe a tentativa de uma visão completa para os seus desafio.

E não é no equilíbrio que se encontra a solidez?

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