É uma tendência crescente: 70% dos empregadores estão a recrutar para empregos ou competências verdes
O “Green Jobs Report”, da ManpowerGroup, aponta as principais tendências em gestão de talento a considerar pelas lideranças organizacionais que visam um futuro de negócios mais alinhado com a economia verde.
Descubra as seis tendências:
Há um novo “colarinho” no trabalho e é verde
As alterações climáticas, com a subida do nível do mar e o aumento da frequência dos fenómenos meteorológicos extremos, têm gerado consenso entre consumidores, governos e líderes de empresas sobre a necessidade de rever os actuais modelos de desenvolvimento económico. Este movimento oferece também uma oportunidade de negócio para as empresas, já que a transição para uma economia mais circular permitirá aumentar a diferenciação, reduzir custos, melhorar a reputação de marca e impulsionar a criação de emprego nas comunidades locais.No entanto, para poder concretizar a oportunidade da transição para modelos mais sustentáveis, o talento é um factor crítico de sucesso e a luta pelo talento verde tem vindo a intensificar-se. Dados do ManpowerGroup Employment Outlook Survey indicam que 70% dos empregadores, a nível mundial, afirmam que estão actualmente a recrutar de forma activa para empregos ou competências verdes, ou planeiam fazê-lo.
Empregadores de todos os sectores a nível global estão especialmente interessados em recrutar para funções/competências verdes em funções técnicas especializadas, tais como Indústria e Produção (36%) e Operações e Logística (31%). No entanto, também procuram competências verdes para funções no domínio das TI & Data (30%), Vendas e Marketing (27%), Engenharia (26%), Administração e Apoio Administrativo (25%) e Recursos Humanos (25%).
Os empregadores precisam de optimizar a planificação estratégica da sua força de trabalho para poder atrair, contratar e fidelizar estes trabalhadores, num contexto de escassez permanente de talento e da crescente procura de talento verde.
A implementação das melhores práticas de ESG pode ajudar as empresas a melhorar a sua Proposta de Valor de Empregador (EVP), reforçando a sua capacidade de atrair talento. No entanto, reforçar a atracção de talento externo não será suficiente para responder às necessidades de competências verdes.
Os empregadores deverão também apostar no desenvolvimento do talento interno, mediante iniciativas de upskilling e reskilling, que devem ser amplificadas para responder, em escala, à actual escassez de competências verdes.
Há uma nova Geração Verde a exigir mais sustentabilidade
Particularmente acentuada na Geração Z, a preferência por produtos mais sustentáveis tem-se tornado um factor decisivo no consumo e mostra-se cada vez mais relevante para consumidores de todas as gerações. No espaço de um ano, 51% dos consumidores globais, de todos os grupos etários, afirmaram que a sustentabilidade se tornou mais importante para eles e, no mesmo período, 49% declarou ter pago um valor adicional por um produto, por este ser sustentável (dados do IBM Institute for Business Value).A sustentabilidade é, também, cada vez mais relevante nos processos de decisão de carreira, com 67% dos candidatos globais de todas as idades a afirmar estar mais dispostos a candidatar-se a empregos em organizações por si consideradas ambientalmente sustentáveis, e 68% a declaram-se mais inclinados a aceitar funções nessas empresas, segundo dados da mesma instituição.
Face a esta tendência, o estudo conclui, que a liderança em sustentabilidade será um factor crítico na gestão de talento, no futuro, permitindo às organizações obterem uma vantagem significativa ao nível da atracção e retenção de talento e criando mais oportunidades de diferenciação competitiva nas suas propostas de valor de empregador.
A acção governamental está a acelerar a transição nos modelos de negócio
Por todo o mundo aumentam as medidas de combate às alterações climáticas, impulsionadas tanto por advertências científicas, como por governos e reguladores, que têm vindo a apoiar, com investimentos históricos, os incentivos à transição das empresas para modelos sustentáveis.Planos de incentivos governamentais, como o Green Deal Industrial Plan da União Europeia, no valor de 225 mil milhões de euros, e o Inflation Reduction Act dos Estados Unidos, que disponibiliza 369 mil milhões de euros para a energia limpa, estão a estimular as empresas a adoptar compromissos de neutralidade carbónica e a promover a criação de emprego. De acordo com o Fórum Económico Mundial, o Inflation Reduction Act já promoveu cerca de 90 mil milhões de euros em novos investimentos e contribuiu para criar 100 mil novos empregos no sector da energia limpa.
Estes incentivos são, assim, um poderoso incentivo à criação de emprego e 55% dos líderes empresariais inquiridos prevêem que os investimentos na transformação verde das empresas e nas questões ambientais, sociais e de governação (ESG) ultrapassarão a tecnologia e outras megatendências como principais criadores de emprego nos próximos cinco anos.
Ao mesmo tempo, permitirão também acelerar os mecanismos de capacitação dos trabalhadores, mediante o financiamento de acções de upskilling e reskilling que permitirão reduzir o desencontro entre as necessidades de competências verdes e a base de talento disponível no mercado.
O ESG no foco dos líderes empresariais
O ESG está a evoluir rapidamente para um padrão global de actuação nos negócios e o estudo revela, por exemplo, que 58% dos CEO da Fortune 500 já estabeleceram objectivos ambiciosos de emissões líquidas neutras, de gazes com efeito de estufa, até 2050.No entanto, e apesar deste foco crescente nas questões de sustentabilidade, muitas empresas estão a ainda definir o momento em que querem chegar ao Net Zero e mais ainda estão apenas nas fases iniciais da descoberta do seu caminho para a redução da pegada de carbono.
Dados da Accenture, referidos no estudo, revelam que, enquanto mais de um terço (34%) das maiores empresas do mundo têm o compromisso de se tornarem neutras em carbono, quase todas (93%) não conseguirão atingir os seus objectivos se não duplicarem, pelo menos, o ritmo de redução das emissões até 2030. A cadência de adopção e execução dos planos de descarbonização necessita, por isso, de acelerar e as empresas precisam de talento para concretizar essas estratégias, o que representa um desafio adicional.
Efectivamente, e de acordo com o The Search for ESG Talent do ManpowerGroup, quase oito em cada dez organizações possuem já uma estratégia de ESG, ou estão em processo de a planear, mas 94% das empresas a nível global e 91% em Portugal carecem do talento necessário para implementar os seus objectivos. Perante este cenário, a aposta no upskilling é cada vez mais necessária, com o Fórum Económico Mundial a estimar que 61% da força de trabalho global precisará de formação adicional até 2027.
A adopção da tecnologia verde está a acelerar
A procura global de soluções de sustentabilidade tem, a par da evolução tecnológica, gerado novas oportunidades para as empresas que se posicionam na economia verde. A curto e médio prazo é de esperar que este crescimento acelere, particularmente em sectores como os da Energia, Construção e Automóvel, impulsionando um forte aumento na procura de talento.Dados analisados no estudo indicam que, recentemente, o investimento global na produção de petróleo foi já ultrapassado pelo investimento em energia solar, que atingiu uma média de mil milhões de euros/dia. Também a quota de veículos eléctricos nas vendas mundiais de automóveis está em forte crescimento, devendo alcançar perto dos 90%, até 2050.
Ao mesmo tempo, na Europa, 35 milhões de edifícios deverão ser renovados, para melhorar o consumo de energia antes de 2030, criando 160 000 novos empregos no sector da construção.
A transição verde está, assim, a gerar mais emprego, com o Fórum Económico Mundial a prever que, até 2030, cerca de 30 milhões de empregos serão criados, a nível mundial, no sector das energias limpas, eficiência e tecnologias de baixas emissões. No entanto, os empregadores receiam que a incapacidade de atrair talento e a falta de competências nos mercados de trabalho locais sejam os maiores obstáculos à transformação das suas empresas.Estes desafios no acesso às competências verdes vêm, uma vez mais, exigir estratégias diferenciadas na atracção e fidelização de talento, por parte das empresas, reforçando a importância da aposta na formação e no reskilling dos trabalhadores, como forma de as empresas criarem o talento capaz de suportar as estratégias de sustentabilidade.