Eco-ansiedade: da excentricidade à realidade

Por Vanda Vieira, Psicóloga Especialista em Psicologia do Trabalho, Social e das Organizações; em Psicologia da Educação; em Psicologia Vocacional e do Desenvolvimento da Carreira

O conceito de eco-ansiedade é emergente, mas não é novo, remonta a 2017. A forma como o interiorizamos, como o gerirmos, é que pode ser diferenciada, depende de cada um de nós, das consequências psicológicas implicadas (mais ou menos graves) e do nosso posicionamento enquanto pais/mães, líderes organizacionais, trabalhadores/as e até “ativistas cidadãos/ãs”.

Desde logo, um aspeto salta à vista: as alterações climáticas são uma realidade. Aqui não existe lugar para negacionismos; pode haver algum ceticismo, mas as evidências são factuais, algumas sentimo-las no nosso dia-a-dia.

Para a APA – American Psychological Association, a eco-ansiedade é “o medo crónico de sofrer um cataclismo ambiental que ocorre ao observar o impacto, aparentemente irrevogável, das mudanças climáticas gerando uma preocupação associada ao futuro de si mesmo e das gerações futuras”. A eco-ansiedade vai desde os sintomas associados a quadros leves de ansiedade (stress, dificuldades no sono), até aos casos mais graves, que se traduzem na sensação de asfixia ou depressão. E isto não são excentricidades, são dados reais e comprovados cientificamente.

Os efeitos da eco-ansiedade podem ser colmatados, de diversas formas, entre elas: 1) procurar transmitir casos de sucesso, com resultados positivos dentro dos factores de contexto; trabalhar a regulação emocional perante impulsos, por vezes contraditórios; desenvolver a resiliência face às adversidades; 2) desenvolver a consciência ecológica; reduzir sentimentos de culpa perante as nossas escolhas e o que deixamos para as futuras gerações; promover estilos de vida sustentáveis. Elementar mesmo é esclarecer e disseminar os bons exemplos, melhor que ignorar ou ridicularizar.

Também nas empresas, as práticas organizacionais sustentáveis são cada vez mais salientes. Temos bons exemplos sectoriais e transectoriais de empresas preocupadas e a atuar a nível da redução dos consumos de energia e de água; a melhorar o tratamento e a redução dos resíduos; a investir na economia circular, apenas para dar alguns exemplos. E tal como foram criadas nas organizações as condições para a existência de Planos para a Igualdade, de Planos para a Responsabilidade Social, é urgente sensibilizar os decisores para atuar e prevenir situações associadas a fenómenos de eco-ansiedade.

Por último, as empresas podem usar as melhores práticas de gestão de recursos humanos para promover este conceito de eco-ansiedade: apoiando os seus trabalhadores quando os sintomas emergem; sensibilizando-os e formando-os para enfrentar estes desafios ambientais de forma esclarecida, pesando prós e contras, sem medo, a partir de casos concretos, numa lógica organizacional e de posicionamento do negócio, congruente com os valores partilhados, assentes em lideranças fortes, em que a sustentabilidade seja percecionada e adotada a nível das práticas verdes e socialmente responsáveis.

Para mais informação: https://www.apa.org/monitor/2021/03/ce-climate-change 

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