Empatia

Por Diogo Alarcão, Gestor

 

O que é a empatia?

O que significa ser empático?

É a empatia uma ferramenta de gestão?

Procurarei responder a estas três questões sem qualquer pretensão técnico-científica, mas apenas baseado no que tenho observado e procurado praticar como gestor. Antes, porém, começarei por ir à origem da palavra para a compreender na sua evolução histórica e depois interpretá-la à luz do Presente, fazendo uma leitura pessoal do que significa para mim e para a forma como me relaciono com os outros.

A palavra “Empatia” tem origem no termo grego empatheia que significa “em emoção” ou “em sentimento”. Aristóteles atribui-lhe um significado que considero admirável porque apela a uma dimensão espiritual. O filósofo usa o termo en pathein no sentido de “animação do inanimado”. Parece que quando agimos en pathos (com empatia) podemos fazer renascer algo que tinha perdido vida ou, pelo menos, voltar a dar movimento a algo que estava parado ou inanimado. Pode ser ânimo, energia, coragem, força, esperança… Quantos de nós já não sentimos a necessidade de o fazer junto das nossas equipas, sem saber bem como agir? Provavelmente, bastaria agirmos em empatia.

Parece-me, pois, que a empatia não é um sentimento ou um afeto em si, mas uma capacidade ou uma competência a partir da qual conseguimos sentir a emoção ou o sentimento como sendo nossos, embora mantendo-nos distintos do outro. Não é sentir a dor, a dificuldade, a emoção ou o entusiasmo do outro como sendo a nossa dor, dificuldade, emoção ou entusiasmo. É sentir essas emoções e sentimentos como se fossemos o outro, perceber as suas causas e ajudar a superá-las ou celebrá-las, sem deixarmos de ser nós próprios.

Significa que posso ter empatia com a minha equipa, líder ou pares sem, contudo, ter os seus sentimentos e emoções? Acredito que sim. Aliás, em contexto profissional, as pessoas dizem por vezes que sentem que estamos próximos e disponíveis quando partilham connosco uma dificuldade ou um receio sem, contudo, nós próprios estarmos a sentir essa dificuldade ou receio. Acredito que ao falarmos com as pessoas conseguimos pensar e aconselhar com base na capacidade de sentir essas emoções como se fossem nossas, embora na realidade não sejam.

Esta constatação pode implicar a necessidade de garantir uma coerência nas diferentes vertentes da nossa vida. O líder que consegue ser o mesmo em contexto profissional e social (isto é, a pessoa que age da mesma forma quer esteja entre colegas ou entre amigos e família) estará provavelmente mais capacitado para estar en pathos com os outros. Parece-me, pois, que ser empático não significa representar um papel (ou como um amigo meu costuma dizer, representar um “boneco”), mas sermos nós próprios. Já fui empático com alguém que sofre sem eu próprio estar em sofrimento. Já fui empático com alguém feliz e celebrante, sem me sentir eu próprio feliz ou com vontade de celebrar.

Podemos então considerar a empatia como uma ferramenta de gestão? Acredito que sim porque pode ser uma poderosa ferramenta de resolução de conflitos, superação de dificuldades e celebração de realizações. Parece-me, no entanto, que pode ser mais do que isso. A empatia pode ganhar uma outra dimensão se a enquadrarmos no conceito desenvolvido por António Pinto Leite quando foi Presidente da ACEGE: O Amor ao Próximo como critério de gestão. Não quero com isto dizer que a empatia é ou que se deve associar ao amor. Estaria a contradizer-me pois referi há pouco que a empatia não é um sentimento ou afeto. Se trago o “Amor como critério de gestão” para esta reflexão sobre empatia é porque acredito que há nesse conceito uma premissa muito simples, mas muito poderosa, que pode potenciar a empatia: Tratar o Outro como gostaria de ser tratado se estivesse no lugar dele. Isto é, quando interagimos com os outros numa organização, antes de decidirmos ou darmos uma resposta, devemos perguntar-nos o que gostaríamos que fosse a decisão ou a resposta se o destinatário fossemos nós.

Ao longo dos anos, nomeadamente quando tenho que lidar com situações delicadas ou tomar decisões difíceis, procuro fazer este exercício. Acredito que ao fazê-lo estou a munir-me de uma ferramenta nova que, acredito, me ajuda a criar a empatia necessária para ouvir, aconselhar ou decidir.

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