Empresas com políticas flexíveis de trabalho apresentam melhor desempenho nas receitas, revela estudo

Contrariados perante as ordens de regresso ao escritório, os colaboradores tentaram argumentar que o trabalho remoto está associado a uma maior produtividade, a benefícios para o ambiente com menos deslocações e melhoria da diversidade ao ampliar o conjunto de talentos. Agora, podem ter outro argumento para chamar a atenção dos CEO: aumento das receitas, avança a Forbes.

 

Um relatório recente da Scoop, startup híbrida de gestão de trabalho que também compila dados do Flex Index, feito em parceria com o Boston Consulting Group, inclui uma análise das políticas de trabalho remoto e crescimento de receita em 554 empresas públicas. E concluiu que a empresa pública média que dá aos colaboradores a escolha de irem para o escritório também teve um desempenho superior no crescimento das receitas nos últimos três anos em 16 pontos percentuais, em comparação com empresas com políticas mais restritivas.

«Esse gap foi realmente surpreendente para nós – e maior do que o esperado», afirma à Forbes Rob Sadow, CEO e cofundador da Scoop, cujo Índice Flex funciona como um “repositório” online de políticas de trabalho remoto para cerca de 7.500 empresas. A análise acompanhou o crescimento das receitas entre 2020 e 2022, normalizando antes os dados do desempenho da indústria para eliminar diferenças entre sectores de alto e baixo crescimento.

Poucos estudos compararam a relação entre o aumento das receitas e as políticas de trabalho remoto das empresas, revela Nicholas Bloom, economista, professor da Universidade de Stanford e também consultor da Scoop. Isso acontece em parte porque a maioria das ferramentas de pesquisa estudam as experiências dos indivíduos com o trabalho remoto, em vez de políticas corporativas. Combinados com pesquisas anteriores que conectam políticas de trabalho flexíveis ao crescimento do número de colaboradores, «colectivamente, pintam um quadro bastante forte», afirma sobre os dois relatórios do Flex Index, mesmo que os dados não sugiram que as políticas remotas realmente causem um aumento das receitas.

Porém, quer receitas mais elevadas levem as empresas a contratar mais rapidamente – e a escolher políticas flexíveis para o fazer – quer políticas mais flexíveis estejam a envolver os trabalhadores e a levá-los a fazer um trabalho melhor, «em alguns aspectos, isso não é tão relevante, mas se analiso isso enquanto gestor, a interpretação é semelhante. Práticas de emprego flexíveis vão ajudar no crescimento», diz Bloom.

Como a conversa à volta do tema de “trabalhar em casa contribui ou prejudica a produtividade?” permanece acesa, esta nova análise poderá acrescentar lenha à fogueira. «Há muito poucos dados e análises reais», diz Debbie Lovich, senior partner do Boston Consulting Group especialista no futuro do trabalho. «Existem muitas percepções e opiniões, mas poucas correlações reais como esta.»

O relatório mostra que a taxa de crescimento de receita de três anos de empresas que têm aquilo que a Scoop chama de política “totalmente flexível” – ou seja, permitem que os colaboradores escolham quando irão ao escritório ou se estão totalmente remotos – é de 21%. As empresas com políticas mais restritivas – por exemplo, aquelas que têm trabalho híbrido ou totalmente presencial – tiveram apenas uma taxa de crescimento de receita de 5% ajustada ao sector, concluiu a análise. Ao excluir a indústria tecnológica durante o mesmo período, as empresas públicas que eram “totalmente flexíveis” registaram um desempenho superior em 13 pontos percentuais.

Debbie Lovich, que trabalhou na análise com a Scoop, diz que o relatório ainda não mostra que políticas flexíveis provocam um maior aumento das receitas. Em vez disso, afirma que as políticas flexíveis são um “sintoma” provável de uma cultura que confia nos trabalhadores, tem outros benefícios atractivos e valoriza estratégias, tecnologias e ideias inovadoras. «Se forem menos restritivos nas políticas de trabalho [remoto], serão provavelmente mais pró-inovação, mais objectivos e mais engaging», o que, a seu ver, poderá levar a receitas mais elevadas.

Os dados do Flex Index da Scoop abrangem políticas de cerca de 7.500 empresas de todos os tamanhos, 554 das quais de capital aberto. O índice categoriza as políticas de trabalho remoto com base em regras corporativas, o que significa que alguns trabalhadores incluídos na categoria “totalmente flexível” podem estar sujeitos idas ao escritório a nível de equipa. Ainda assim, isso pode significar que o tempo de escritório é adaptado ao trabalho individual dos colaboradores, algo que Debbie Lovich diz ser importante quando se pensa em políticas híbridas.

«Quanto mais capacitarmos as pessoas para o seu trabalho, melhor será esse trabalho», garante. «Dizer aos colaboradores que é obrigatório vir ao escritório, é como se estivesse a dizer que não confia neles.»

Rob Sadow acredita que, mesmo que os resultados não mostrem uma relação causal, ajudam a contrariar um argumento cada vez mais comum de executivos e gestores. «Que as empresas que oferecem flexibilidade terão um desempenho inferior porque as equipas não estão juntas e que não vai permitir o engagement dos colaboradores», explica. «Os dados sugerem que, não só não é verdade em termos de diminuição de desempenho, mas também que pode realmente gerar um aumento de desempenho.»

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