Empresas familiares, famílias empresárias, famílias investidoras: uma realidade social e económica incontornável

As últimas décadas trouxeram para o debate público, para a Academia, para o nosso dia-a-dia o tema das empresas familiares. Sobretudo deram-lhe notoriedade e visibilidade.

Por Luís Parreirão, administrador do Family Office da Família Mota, advogado e autor do livro “Empresas Familiares-Famílias Empresárias: Onde Está o Substantivo?”

 

O que bem se compreende se tivermos presente a relevância social e económica das empresas familiares – famílias empresárias – famílias investidoras.

Podemos assumir que, à escala global, dois terços das empresas existentes são empresas familiares e, no seu conjunto, representarão cerca de 70% do PIB não público e cerca de 50% do emprego. Na União Europeia são responsáveis por cem milhões de empregos. Bem se entende, por isso, o seu crescente estudo e a necessidade que a sociedade sente de as conhecer um pouco melhor.

Assinale-se que nelas se cruzam duas realidades sociais complexas – empresas e famílias. E se aquelas vêm mantendo há largo tempo estruturas semelhantes, já estas se encontram em mudança. Mudanças que, nas últimas décadas, atiraram para o caixote do lixo, conceitos, estruturas, costumes que perduraram por séculos.

Por muitos anos as empresas familiares, a sua direcção, a manutenção da titularidade do seu capital e a sua transmissão hereditária determinaram as relações nas famílias. A propriedade sobrepunha-se aos afectos!

Nos tempos actuais uma maior afirmação da individualidade de cada membro da família e uma maior diversidade de interesses conduziu a que os afectos se afirmassem, deixando a sua manifestação e exercício de ser condicionados pela propriedade.

Esta realidade impõe que empresas e famílias se autonomizem, tenham regras e percursos autónomos e, a nosso ver, conduzirão a que as decisões sejam centradas na família. A preservação dos investimentos empresariais conduzirá a que as empresas familiares sucedam as famílias empresárias e, a estas, as famílias investidoras. Para tanto, deverão promover a institucionalização da coexistência e interacção dos níveis (i) família, (ii) investimento, (iii) gestão e (iiii) governance.

Este Family Hub é a “casa comum da família”, o ponto de encontro e decisão, o guardião das tradições e dos valores, o gestor dos activos. E será, sobretudo, o instrumento que “cola as duas realidades” – família e capital. A diversidade e pluralidade da nossa sociedade actual impõe novas respostas e, desde logo, novas respostas organizacionais.

Por isso, ganha cada vez mais sentido que “cada família, e cada família empresária/investidora, seja o seu próprio legislador”.

Ponto é que encontre – e é condição de sobrevivência enquanto tal – a capacidade e a vontade colectivas de organização e autovinculação, viabilizando o conjunto família-empresa-investimentos. Para tanto, tem de encontrar os instrumentos adequados, instrumentos que, em nossa opinião, poderão ser um Family Hub concebido à medida de cada família e que integre um Family Office.

Por fim, e não como conclusão, mas como desafio de reflexão, diríamos que se há muitas empresas iguais ou muito semelhantes, não há duas famílias iguais.

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