Entrevista à DRH da Renault: «A crise será longa e irá criar novos hábitos de trabalho e de vida em sociedade»
Patrícia Pereira, directora de Recursos Humanos da Renault Portugal, partilhou com a Human Resources que acredita que a crise da COVID-19 vai criar novos hábitos de trabalho e de vida em sociedade, que se irão reflectir no futuro.
Quando e quais as medidas prioritárias adoptadas na Renault Portugal? Como foi traçado o plano de contingência?
As primeiras medidas começaram a ser delineadas por volta do dia 5 de Março, numa altura em que a escalada da crise já aparecia como provável. O facto de sermos um Grupo internacional permitiu-nos ir acompanhando de forma regular a situação noutros países e iniciar a preparação para uma eventual situação similar em Portugal, o que veio a acontecer. As primeiras medidas tiveram dois objectivos: Proteger a saúde dos colaboradores aplicando as directivas e indicações emanadas pelas autoridades competentes; Preparar a empresa para a continuação da actividade num contexto em que alguns ou a totalidade dos colaboradores poderia ser obrigada a permanecer em casa. O plano de contingência integrou as recomendações emitidas pelo Grupo Renault e pelas autoridades locais, e foi adaptado à nossa realidade por uma célula de crise que existe em permanência na empresa.
Tinham todos os meios necessários para pôr em prática esse plano? Como e em quanto
tempo o implementaram?
No espaço de uma semana foram criadas as condições para que, por exemplo, todos os colaboradores, sem excepção, pudessem, de forma normal, desempenhar a sua actividade em casa. Esta já é a realidade que está a ser aplicada a 16 de Março.
O que foi mais difícil gerir? Assegurar os meios para empresa continuar a funcionar com a normalidade possível ou gerir a ansiedade criada nas pessoas?
A escalada da situação geral a partir dos dias 10 e 11 de Março criou ansiedade na sociedade, à qual ninguém ficou imune. De qualquer forma, e para limitar a ansiedade, foi de imediato aplicada a possibilidade de teletrabalho para pessoas com situações de risco ou com crianças a cargo. A 16 de Março foram efectuados os testes aos sistemas de informação com 100% das pessoas em regime de teletrabalho, que ficou efectivo a partir daí.
O que considera fundamental na gestão de uma situação de crise como esta?
Dar o máximo de informação sobre as precauções individuais que cada um deve ter e mostrar que a empresa se estava a preparar para uma situação mais extrema e excepcional. Numa crise com as características desta que vivemos é fundamental que os colaboradores percebam que as medidas estão a ser tomadas ou já em preparação.
Qual o papel que a Gestão de Pessoas assumiu na gestão desta situação?
A empresa possui, em permanência, uma célula de crise que deve ser accionada em circunstâncias excepcionais. A célula de crise obedece a um padrão definido pelo grupo Renault e onde cada um dos participantes tem um papel bem determinado. A forma como se comunica é evidentemente da maior importância em situações excepcionais. O plano específico para esta crise pretendeu fornecer o máximo de informação, com toda a transparência, de forma a que a totalidade dos colaboradores tivesse a certeza que a situação estava a ser devidamente monitorizada.
E quando a crise passar, já conseguem antever algumas consequências?
É relativamente fácil prever que, tal como noutras ocorrências excepcionais a que já assistimos, haverá um antes e um depois COVID-19. As consequências para a sociedade em geral são, apesar de tudo, difíceis de percepcionar numa altura em que esta crise apenas começou. Mas existem também as consequências económicas que também se vão fazer sentir de forma significativa e global.
Que lições acredita que os gestores vão poder retirar daqui?
Se tal fosse preciso, que a velocidade de reacção e de adaptação é crucial.
Inadvertidamente, acabou por se criar a maior experiência de trabalho remoto de sempre no mundo. Acha que, quando tudo passar, alguns hábitos vão mudar?
É possível que sim. A crise será longa (meses provavelmente) e irá criar novos hábitos de trabalho e de vida em sociedade, que certamente se irão reflectir no futuro.
Esta entrevista faz parte do tema de capa da edição de Abril da Human Resources, nas bancas.