Flash Talk: «A felicidade implica sucesso, mas o inverso não se verifica.»

O que têm em comum as pessoas bem-sucedidas? Que estratégias podemos usar para alcançar o sucesso? E será que podemos educar o cérebro para a felicidade? Felicidade e sucesso andam sempre de mãos dadas? Nestas duas dimensões, que liderança temos em Portugal? Descubra a resposta a esta e a outras perguntas na entrevista ao especialista Marco Meireles.

 

Por Ana Leonor Martins

Marco Meireles, autor, consultor e speaker nas áreas da Liderança, Alto Desempenho e Felicidade, que dia 29 de Setembro vai fazer a apresentação oficial do seu novo livro, “Plano A”, explica, com base nas ciências, como podemos alcançar o sucesso e a felicidade.

Que estratégias podemos usar para ser bem sucedidos a nível profissional?
Para existir performance tem de haver um sistema, fechado de preferência. Não podem haver pontas soltas nem elementos aleatórios. Tive oportunidade de trabalhar com milhares de executivos, facto que me permitiu encontrar elementos comuns que, em conjunto, contribuem para a obtenção de resultados previamente estipulados. Felizmente, com apenas 5 elementos, qualquer resultado pode ser influenciado. Assim, qualquer sistema que implique concretização de objectivos tem obrigatoriamente os seguintes elementos:
1. Objecto do desempenho (o leitor);
2. Expectativa (os seus objectivos);
3. Métrica (como vai analisar o progresso);
4. Comportamento (acção inevitável para progredir)
5. Avaliadores (as outras pessoas).

E se forem considerados apenas alguns desses elementos?
Se, de alguma forma, um ou mais elementos deste sistema não forem considerados, poderão ser corridos riscos desnecessários no que diz respeito ao sucesso de qualquer cruzada, incluindo a profissional.
Partindo destes elementos e do pressuposto inequívoco de que, para concretizar os seus objectivos, terá de perceber onde está – fazendo um diagnóstico honesto da situação actual -, para onde quer ir, vai iniciar, obrigatoriamente, um caminho de progresso (comportamento). Ideal, e teoricamente, o progresso seria realizado em linha recta e em velocidade de cruzeiro. Mas, na verdade, não é isso que acontece.

Porquê?
Neste caminho, é obrigatório haver desenvolvimento pessoal e aprendizagem, pois se já dominássemos os recursos, as ferramentas e as habilidades de todos aqueles que já têm o sucesso que desejamos, não precisávamos do caminho, iríamos directamente para a meta. O progresso é, essencialmente, o tempo que demoramos a preparar-nos, a aprender e a criar as oportunidades para concretizar aquilo a que nos propomos. É fundamental ter em conta que a aprendizagem só acontece quando é mesmo necessária.
Nesse trajecto, entre o ponto de partida e o de chegada, vamos encontrar obstáculos que vamos ter que ultrapassar, forçando uma aprendizagem, seja ela qual for.

Que obstáculos são esses?
Com base no trabalho de Elite Coaching que tenho desenvolvido com centenas de líderes corporativos, agrupei em oito categorias os milhares de obstáculos que os meus clientes encontram nos seus caminhos, até à concretização dos resultados que ambicionam. Todos os obstáculos da mesma categoria têm antídotos similares. Isto poupa-lhes tempo, energia e dinheiro. E a mim, facilita-me imenso a vida. Se alguém quer algo e não consegue concretizar, o que é que o está a impedir? Aposto que estará relacionado com um dos seguintes factores críticos de sucesso:
1. Energia;
2. Estado emocional;
3. Crenças;
4. Motivação;
5. Informação;
6. Habilidades;
7. Tempo;
8. Pessoas (comunicação e grupos de influência)
Concretamente, cada um destes factores críticos de sucesso implica rituais de aprendizagem e de treino regulares. Alguém extremamente bem sucedido domina estas oito dimensões.

O que mais têm em comum as pessoas de sucesso?
Existem padrões comuns às pessoas bem-sucedidas. Quando abordo o tema sucesso, faço-o sempre numa perspectiva de longo prazo, ou seja, parto do pressuposto de que alguém bem-sucedido tem resultados consistentes ao longo de muitos anos.
Assim, aqueles que experienciam este tipo de sucesso sabem exactamente o que querem, bem como os resultados que pretendem atingir; têm muito bons rituais de recuperação, apresentando-se sempre em muito boas condições físicas, mentais e emocionais; trabalham continuamente a confiança e a auto-estima; são curiosas e adoram aprender. Tendem a ser humildes, a ouvir bastante, a assumir os erros e a corrigi-los rapidamente. São organizadas e disciplinadas. Normalmente deixam uma boa primeira impressão e dão importância e cultivam boas relações. As relações nas pessoas de sucesso assumem particular importância, pois ninguém é bem-sucedido sozinho. Ao longo dos anos as pessoas bem-sucedidas conquistaram outras que as ajudaram a atingir, degrau a degrau, o cume da montanha que decidiram escalar.

Sucesso e felicidade andam sempre de mãos dadas? Ou seja, um implica o outro?
A felicidade implica sucesso. O inverso já não se verifica. Num estudo bastante famoso os investigadores quiserem perceber, em alunos finalistas do ensino universitário, que factores fariam a diferença no sucesso e na felicidade, quando entrassem no mundo real.
Perceberam que parte dos estudantes tinha aspirações extrínsecas como enriquecer ou ter fama. Outros tinham aspirações intrínsecas como ajudar os outros a tornarem as suas vidas melhores, desenvolverem-se ou mesmo garantir um elevado nível de conhecimento ou de performance. Depois dos alunos terem vivido no mundo real, sensivelmente dois anos, os investigadores analisaram como se estavam a sair.

E a que conclusões chegaram?
Os que tinham aspirações intrínsecas – objectivos ligados ao sentido e ao propósito – achavam que estavam a alcançá-los e reportaram níveis mais elevados de satisfação e bem-estar do que quando foram analisados dois anos antes, ainda na universidade. Reportaram também níveis muito baixos de ansiedade ou depressão. É natural que ache que não há nada de surpreendente. Os ex-estudantes tinham estabelecido um objectivo significativo e sentiam que estavam a alcançá-lo. Tudo certo. Neste tipo de situações, a maior parte das pessoas sentir-se-ia bem.
No entanto, os resultados obtidos pelos ex-alunos cujos objectivos eram materiais foram bem mais modestos. Aqueles que diziam estar a alcançar os seus objectivos – começavam a acumular riqueza e prestígio – não demonstraram níveis de satisfação, amor-próprio e bem-estar superiores aos que tinham quando eram estudantes. Estavam a alcançar os seus objectivos mas isso não os deixava mais felizes. Pior, demonstraram aumentos consideráveis de ansiedade, depressão e outros indicadores negativos.

Então, alcançar os objectivos tornou-os menos felizes ou, até, infelizes…
As conclusões do estudo foram muito claras: perseguir e alcançar um certo tipo de objectivo, neste caso, materiais, não só não tem qualquer impacto no bem-estar, como ainda contribui para o mal-estar.
Para os investigadores, estes resultados significam que, mesmo que alcancemos o que queremos, nem sempre o que queremos é aquilo de que precisamos. As pessoas mais orientadas para alcançar objectivos extrínsecos, ligados à riqueza, têm maior probabilidade de os alcançar, sem dúvida, mas nem por isso deixam de ser infelizes.
Com a apresentação destas conclusões, não estou a insinuar que os aspectos extrínsecos não têm a sua importância. No entanto, não são, de longe, os mais importantes motivos para o desempenho. Se considerarmos os feitos mais importantes da história – ciência, tecnologia, saúde – apercebemo-nos de que a chama que manteve os criadores a trabalhar ininterruptamente, com entusiasmo e alegria, foi o propósito e o sentido que atribuíram ao que estavam a fazer, muito mais do que aos aspectos materiais. O sucesso que obtiveram foi uma consequência agradável e inevitável do mérito. Pessoas com mérito acabam por ser recompensadas financeiramente. Algumas delas ficam famosas e, no entanto, não era nada disso que perseguiam.

Diria que os nossos líderes são felizes? E bem sucedidos?
Temos líderes bem-sucedidos, no entanto, muito poucos são felizes. A felicidade é que permite que o sucesso e os resultados sejam sustentados ao longo dos anos, sem grande desgaste físico, mental e emocional. Acontece com muito mais frequência do que a maior parte das pessoas imagina, líderes perderem performance, desgastarem a imagem, minarem as relações e perderem o compromisso das suas equipas, independentemente de terem sido bem-sucedidos em determinado período.

Por que é que isso acontece?
A felicidade implica o desenvolvimento de competências que infelizmente são descuradas pelas pessoas em geral, e muito particularmente pelas organizações. Há princípios no funcionamento e no exercício da liderança da esmagadora maioria das organizações que estão obsoletos e, por isso, completamente errados.
Uma definição simples, mas muito acertada, indica que liderança é: “levar as pessoas para um lugar que não conhecem”. Liderança implica movimento. E como é que as pessoas vão com alguém para um lado que não conhecem? Têm que confiar. E como é que confiam? Têm que se sentir bem tratadas, seguras e especiais. Têm que percepcionar que o seu trabalho e as suas opiniões contam. Esta realidade, infelizmente, não é muito comum nas organizações do nosso país.

Quais as características de um bom líder?
Há três características que saltam à vista num líder efectivo. É visionário, comunica eficazmente e é exemplar, ou seja transforma em comportamentos, a filosofia e os valores da organização. Nos dias que correm já ninguém lidera equipas: lideram-se indivíduos, utilizando uma comunicação totalmente individualizada e adaptada a cada um deles.
Os gestores, mais vezes do que desejaríamos, apesar de quererem produzir comportamentos positivos, empáticos e interessados, não o conseguem fazer e acabam muitas vezes por fazer exactamente o contrário. Em vez de elogiarem um trabalho bem feito, encontram defeitos; em vez de ensinarem as pessoas, gritam com elas; em vez de se interessarem pelas pessoas, responsabilizam-nas; em vez de darem a cara pelas suas pessoas, e oferecerem um feedback imediato, específico e na primeira pessoa, deixam arrastar situações e tratam dos problemas nas suas costas. Apesar destes comportamentos pronunciarem muito maus resultados, enganamo-nos se pensarmos que a maioria dos líderes os têm propositadamente. Na maior parte das situações, os líderes, devido ao seu estado emocional, não conseguem ter uma perspetiva positiva da realidade em que estão inseridos e, por muito que desejem, não conseguem estar ao seu melhor nível, ou seja, felizes. Mas é importante aprenderem, pois a felicidade, para além de ser mais agradável, dá muito dinheiro. Que o digam empresas como a Google e a McDonald’s.

O que considera ser mais urgente mudar nos líderes portugueses?
Uma célebre experiência levada a cabo por dois investigadores, Jim Kouzes e Barry Posner, teve como finalidade identificar o factor crítico para o sucesso de um gestor. Nessa experiência identificaram que um resultado elevado em termos de afecto, quer expresso, quer desejado, distinguia significativamente os gestores do quartil superior dos do quartil inferior.
Identificaram também que os gestores com melhores resultados a médio/ longo prazo demonstraram ser mais calorosos e simpáticos para com os outros do que os gestores incluídos nos 25% inferiores. Estes gestores são mais próximos das pessoas e têm uma abertura significativamente maior para partilhar pensamentos e emoções do que os seus pares com desempenhos inferiores.
A última conclusão deste estudo, acredito que todos nós já tínhamos intuído: em circunstâncias semelhantes, trabalhamos mais arduamente e com maior eficácia para as pessoas de quem gostamos. E gostamos delas na proporção directa de como nos fazem sentir.
A questão é que, muitas vezes, por muito que desejem, os gestores não conseguem estar ao seu melhor nível. Mas deviam aprender, porque a felicidade desenvolve-se. Está tudo dito.

Como podem as ciências ajudar a alcançar a felicidade?
O método científico exige verificação. Nenhuma teoria pode ser aceite sem ter sido demonstrada. Desta forma, a ciência rompe com a subjectividade, tão comum quando se aborda um tema como a felicidade.
Para além da avaliação subjectiva por parte dos indivíduos, hoje, a felicidade, é medida objectivamente por resultados de análises hormonais e de exames de ressonância magnética funcional. Sabe-se que as pessoas mais felizes têm mais actividade relativa no córtex pré-frontal esquerdo, um fenómeno denominado de espessamento cortical.
A evolução dos meios de diagnóstico permitiu à comunidade científica ligada a esta área, realizar estudos, muitas vezes com milhares de participantes, cuja validação teórica está dependente dos resultados hormonais e do registo da actividade cerebral. É uma avaliação tão objectiva que nem merece discussão. Quando a métrica da felicidade está bem definida torna-se mais fácil testar a forma como pode ser impactada objectivamente.
A ciência, mais concretamente centenas de estudos de várias áreas da ciência – Fisiologia, Bioquímica, Psicologia, Sociologia e Neurociências – é que me permitiram encontrar estratégias e protocolos, como os que apresento no meu novo livro, “O Plano A”, fáceis de integrar no dia-a-dia e que rapidamente começam a produzir resultados, com enorme impacto na motivação e na alegria de viver.
Todo o meu trabalho na área da felicidade nas empresas, mas também nas áreas da liderança e do alto desempenho é completamente baseado nas mais recentes descobertas científicas.

É possível educar o cérebro para a felicidade?
Totalmente. Em primeiro lugar é fundamental definir felicidade. Há muita especulação em relação a este tópico, mas muito poucas definições. No meu conceito, a objectividade é absolutamente crucial até porque a felicidade é uma competência que se desenvolve.
De uma forma simples, a felicidade é um estado. As pessoas estão ou não estão felizes e quando estão felizes, não estão sempre na mesma medida. Filosoficamente são considerados dois tipos de felicidade: hedónica e eudaimónica. Que é similar a felicidade momentânea e felicidade duradoura.
As pessoas sentem várias vezes felicidade hedónica. Revela-se quando acontece algo exterior que lhes dá prazer. A compra de uma casa, o nascimento de um filho, desfrutar de um pôr do sol incrível ou mesmo de uma conversa com o amor da vida, podem despertar um estado de plena felicidade. Esta felicidade é muito importante, mas passageira.
A felicidade eudaimónica é o desígnio natural da vida humana. Implica uma visão e uma prática de vida que desperta uma felicidade que perdura.
Claro que os dois tipos de felicidade são importantes. A momentânea implica ter expectativas, concretizar objectivos e conquistar sonhos. Isso está nos nossos genes. O sistema de recompensa no nosso cérebro funciona a um nível que é difícil de controlar. É mais profundo que a nossa consciência e até que as nossas emoções. É ele que garante o foco, a concentração e a motivação para progredirmos em relação aquilo que queremos ou necessitamos. No entanto, se nos mantivermos presos apenas a esta forma de obter satisfação, vamos ter mais momentos negativos do que positivos, pois este tipo de felicidade passa, a partir do momento a que nos habituamos à recompensa. Este é um processo biológico fundamental para a nossa sobrevivência enquanto espécie. Não há muito que possamos fazer a esse respeito.

Mas como podemos “educar-nos” para a felicidade?
Podemos educar o cérebro para a felicidade com protocolos e exercícios específicos que afectem a estrutura e a química cerebral de forma a favorecerem as boas emoções. Desenvolvi conteúdos, exercícios e protocolos que funcionam e ministro-os e treino-os nos meus cursos, nomeadamente no curso “Ciência da Felicidade”.

Quais as dimensões/ pilares estruturantes da felicidade?
A felicidade assenta nas seguintes dimensões:
– Nutrição;
– Actividade física;
– Repouso;
– Atenção plena;
– Propósito;
– Evolução pessoal;
– Relações – amor e amizade;
– Autonomia;
– Planeamento.

Dia 29 será a apresentação oficial do seu novo livro, “Plano A”. E quando o plano A não funciona?
A esmagadora maioria das pessoas já está a viver os planos B desta vida. O plano A funciona sempre. Porque é a vida que desejamos viver e o único plano que nos pode trazer felicidade, sucesso e bem-estar.

Como podemos, afinal, viver uma vida mais feliz e mais bem sucedida?
Seguindo o modelo racional, objectivo e científico que desenvolvi e que podem encontrar no livro ‘O Plano A’. Garantido.

 


Plano A

A apresentação oficial do mais recente livro de Marco Meireles, “Plano A”, realiza-se dia 29 de Setembro, na FNAC do Colombo, em Lisboa, pelas 19h00. A introdução será da responsabilidade de Manuel Pinto Coelho, médico, diplomado em medicina anti-envelhecimento e doutorado em ciências da Comunicação. É também o autor do best-seller “Chegar novo a velho”.
Segundo o autor, «é um livro que nos encoraja a perseguir e a conquistar a vida com que sempre sonhámos: o nosso Plano A. Apresenta ferramentas simples, práticas, objectivas e totalmente validadas pela ciência e que. em pouco tempo, nos pode conduzir a uma vida muito mais compensadora e gratificante, sem a espiritualidade duvidosa de tantos livros de autoajuda mas, sim, através de um modelo racional e objectivo», garante.
É um livro que resulta de um conjunto de estratégias oriundas de várias áreas da ciência, desde a Fisiologia à Bioquímica, passando pela Sociologia, Neurociências, entre outras.

Mais informações sobre Marco Meireles no site do autor.

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