Entrevista a Nuno Gomes, Mercan Properties: «A batalha pela atracção de talento é travada a nível global»

Presentes em Portugal desde 2015, integram o canadiano Mercan Group e operam em sectores – turismo e imobiliário, na vertente de reabilitação urbana – que competem a uma escala global, pelo que quando falamos de atracção de talento, é uma “batalha” que envolve outros países, fora do continente europeu. A Human Resources conversou com Nuno Gomes, director de Recursos Humanos da Mercan Properties.

Por Tânia Reis

 

A Mercan Properties desenvolve projectos imobiliários em Portugal, criando oportunidades com recurso ao investimento estrangeiro, e conta actualmente com um portefólio de 19 projectos em localizações como Porto, Vila Nova de Gaia, Matosinhos, Lisboa, Amarante, Évora e Algarve. Este ano, no espaço de três semanas abriram três hotéis, dois no Porto e um em Matosinhos, representando um investimento de 57 milhões de euros.

 

A Mercan Properties está em Portugal desde 2015, que marcos destaca no vosso percurso?

Desde a nossa chegada a Portugal que temos distintos momentos importantes para a empresa. Naturalmente que um dos mais significativos foi a abertura do Hotel Casa da Companhia, na cidade do Porto, que foi a nossa primeira abertura no país. Esta abertura mostrou ser um forte sinal da nossa ambição e resiliência enquanto empresa criadora de riqueza, de dinamismo económico e de emprego em Portugal, sobretudo tendo em conta as conjunturas incertas e voláteis que vivíamos.

Destacaria também a abertura de três hotéis, no espaço de três semanas, em 2022, o Sé Catedral Hotel Porto, Tapestry Collection by Hilton, o Four Points Sheraton Matosinhos e o Fontinha Porto, Trademark Collection by Wyndham, todos eles associados a marcas internacionalmente reconhecidas, que demonstraram, da melhor maneira possível, não apenas as competências e a capacidade de concretização da Mercan Properties enquanto grupo, mas também a qualidade e competência dos nossos colaboradores.

 

Quais os principais desafios do mercado actualmente?

Como temos testemunhado em Portugal, mas também em muitos outros países, são vários os desafios que se colocam às empresas, nomeadamente no que diz respeito à atracção e retenção de talento, à competitividade salarial com o mercado global e à transformação digital. A todos estes, somam-se ainda a adaptação aos novos modelos de trabalho que emergiram com a pandemia, vieram para ficar, e que irão trazer sérios desafios para as empresas que não se adaptem e que não tenham em consideração as novas ambições dos trabalhadores nesta matéria.

 

E que oportunidades antevê?

Graças ao esforço e dedicação dos nossos colaboradores e ao sucesso dos nossos investimentos desde a chegada a Portugal, a Mercan Properties dispõe hoje de uma robustez financeira que nos posiciona numa situação mais confortável para enfrentar os desafios e o contexto inflacionário actuais. Claro que esta conjuntura nos afectou directamente, sobretudo ao nível dos custos de produção na construção, mas o facto de termos conseguido manter o caminho de crescimento que trilhamos desde 2015, cria mais e novas oportunidades de carreira para os nossos colaboradores, assim como novas aprendizagens.

Além destas oportunidades, outras serão criadas graças ao investimento que temos vindo a fazer ao nível da digitalização dos nossos serviços. Tirando partido da automatização, poderemos gerir da forma mais eficiente os nossos processos, nomeadamente em matéria de Recursos Humanos.

 

A escassez de talento é uma realidade. Quais considera serem as principais causas?

Primeiramente, há que ter em conta que os sectores em que operamos, turismo e imobiliário, na vertente de reabilitação urbana, são sectores que competem a uma escala global, pelo que no que concerne à atracção de talento, há aqui uma batalha que travamos com outros países e que não se cinge somente ao continente europeu.

Em segundo lugar, o facto de Portugal ser um hub em diversos sectores e de testemunharmos, cada vez mais, a consolidação de empresas multinacionais no nosso país, vem também dificultar o contexto de atracção e retenção de mão-de-obra qualificada, pois a oferta é vasta e cada vez mais diversificada, o que nos obriga a ser competitivos nas condições que garantimos aos nossos colaboradores.

Por último, e ainda que existam muitas outras variáveis que impactam esta realidade, diria que a crescente valorização, por parte dos colaboradores, entre o equilíbrio pessoal e laboral, continuará a impactar substancialmente a gestão de talento.

 

E que soluções acredita que poderiam colmatar essa escassez?

Acredito que as melhores soluções para fazer face a este problema passam por adaptar os modelos de trabalho das empresas, sempre que possível, às necessidades específicas de cada trabalhador. Nomeadamente, por assegurar modelos de remuneração salarial atractivos e pela aposta na formação diversa e contínua, com maior capacidade para a requalificação de competências. Acredito ainda que, especialmente para o nosso mercado, é importante facilitar a integração de mão-de-obra estrangeira no mercado de trabalho português, sobretudo em áreas que não conseguimos, de momento, satisfazer.

 

Quantos colaboradores integram hoje a Mercan Properties? 

No que concerne às nossas áreas de Corporate e Escritórios, temos, de momento, aproximadamente 90 colaboradores.

 

Que características procuram num profissional?

Existem diversas características que fazem de um colaborador um bom profissional, mas, se tivesse de destacar os critérios que considero mais importantes, diria a capacidade de adaptação a uma realidade que é cada vez mais dinâmica, a ética de trabalho, a experiência multicultural, o espírito de equipa e a proactividade.

 

O que vos diferencia enquanto recrutador?

Somos uma empresa que vive e cresce através do trabalho dos nossos colaboradores e este é um valor que, independente da hierarquia, rege a forma como trabalhamos com o mercado, com os clientes, mas também dentro da organização e entre equipas.

Considero, por isso, que somos uma empresa muito focada e consciente do valor do capital humano, sendo uma preocupação constante da Mercan Properties que os nossos colaboradores disponham de boas condições de trabalho, que lhes permitam viver e trabalhar de forma positiva e saudável em todos os aspectos. Os nossos sucessos são fruto do trabalho dos nossos colaboradores, daí que seja imprescindível que se sintam realizados e que estão na empresa certa.

 

Que medidas/iniciativas levam a cabo para captar os melhores profissionais?

Hoje em dia, para atrair o melhor talento, uma empresa tem de assegurar a satisfação profissional dos seus colaboradores nas suas várias vertentes, que vão muito além das condições salariais oferecidas. Bem-estar no local de trabalho, flexibilidade, uma relação saudável entre vida pessoal e profissional, surgem como elementos decisivos na hora de formalizar o vínculo laboral. É por essa razão que apostamos nos benefícios extra-salariais, como forma de satisfação e realização pessoal de todos os nossos colaboradores, para que cada dia ao lado da Mercan Properties seja vivido de forma positiva e plena.

Entre estes benefícios, oferecemos sessões de massagem laboral para todos os colaboradores uma vez por semana, estadia gratuita (noite) nos nossos hotéis e seguro de saúde, aos que se acrescem ainda benefícios flexíveis através da plataforma Coverflex. Além destes benefícios, procuramos fortalecer o espírito de união e das equipas através da comemoração de datas específicas, da realização de actividades de team building a cada três meses e de um programa de referenciação de novos colaboradores.

Além disso, apostamos ainda em reforçar o sentido de propósito dos nossos colaboradores através de acções de responsabilidade social, nomeadamente através da aplicação Upndo. Este método inovador combate o sedentarismo através da medição do movimento dos nossos colaboradores, traduzindo-o em valores monetários por cada vez que estes optam por um estilo de vida mais activo. O montante que acumulam é depois doado pela empresa a instituições de solidariedade social à sua escolha, o que permite aos nossos profissionais transformar o mundo num lugar melhor sempre que dão um passo.

 

E de que forma conseguem reter esses colaboradores?

Tentamos fazer uma avaliação e uma monitorização constantes do desenvolvimento e bem-estar dos nossos colaboradores. Acreditamos, por isso, que é um trabalho contínuo e que passa por diferentes fases, dependendo do grau de longevidade do colaborador na empresa, ou do departamento que integra.

Na fase de onboarding, por exemplo, existem momentos de feedback ao fim de 15 e 45 dias de entrada na empresa. Numa fase posterior e em todos os nossos departamentos, existem avaliações periódicas, em que se discute com os colaboradores melhorias dos nossos processos de trabalho e de integração nas respectivas equipas, além de uma reunião mensal que envolve todos os colaboradores na qual partilhamos as conquistas de cada departamento.

Acreditamos que, ao envolver ao máximo os nossos colaboradores no processo de decisão, tomando em consideração as suas opiniões e implementando, de facto, as suas sugestões de melhoria, lhes damos voz, valorizamos, e fazemos com que se sintam integrados e satisfeitos por trabalhar connosco.

 

Como investem na capacitação das vossas pessoas?

O mercado de trabalho actual é dinâmico, e também muito competitivo, daí que seja importante treinar e apostar em novas ferramentas e no reforço de competências dos nossos colaboradores de uma forma contínua. Para libertarmos o máximo potencial dos nossos colaboradores, e tendo presente que a liderança é fundamental para que estes possam desenvolver as suas capacidades, convidamos todos os nossos managers a frequentar sessões de coaching, que muitas vezes se estendem às suas equipas. Além disso, apostamos ainda em programas de formação contínua em língua inglesa e outras formações em tarefas e ferramentas colaborativas.

 

Pretendem contratar até ao final ano?

Sim. De momento, temos mais de uma dezena de vagas em aberto para diferentes áreas, nomeadamente investor relations, hosting, finance, HR, IT e no departamento legal, com expectativas de incorporarmos mais de quarenta novos colegas em diversos departamentos da área Corporate em 2023.

 

Que tendências de futuro prevê para a gestão de pessoas no vosso sector?

Acredito que a valorização do capital humano é a tendência dos próximos anos. Os trabalhadores e o mercado são cada vez mais conscientes acerca da necessidade de os colaboradores se sentirem bem nas tarefas que realizam e este ponto vai tornar-se, de facto, um imperativo das empresas, independentemente do sector em que operam. Acredito que será muito importante incentivar uma cultura de trabalho que promova o entusiasmo e o bem-estar pleno e constante dos trabalhadores.

Além disso, o binómio talento e tecnologia vai tomar um peso significativo no que toca à gestão de recursos humanos neste sector e acredito que as empresas que proporcionem uma formação constante à sua força de trabalho vão destacar-se das demais. Vejo-o de uma forma inevitável, até porque, como vemos, o mundo é cada vez mais disruptivo e os ecossistemas de trabalho requerem uma adaptação, quer das empresas, quer dos seus trabalhadores, às novas realidades e necessidades que impactam a actividade que desenvolvem.

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