Entrevista Joe Mull, BossBetter Leadership Academy. Employalty: Como manter os colaboradores comprometidos
Para Joe Mull, escritor, fundador da BossBetter Leadership Academy e com uma longa carreira em Recursos Humanos, atrair e manter os colaboradores numa organização depende dos empregadores. No seu mais recente livro, “Employalty: How to Ignite Commitment and Keep Top Talent in the New Age of Work”, partilha o segredo.
Por Tânia Reis
Como não havia nenhuma palavra que o transmitisse, Joe Mull inventou-a. Pode pensar-se que “Employalty” tem que ver com “employee loyalty”, mas o escritor revela que é uma mistura das palavras “employer loyalty” e “humanity”. E, num momento em que assistimos a um “recalibrar” da forma como as pessoas querem que o trabalho encaixe nas suas vidas, Joe Mull acredita que o presente e futuro do mundo do trabalho vai depender desse Employalty.
Que análise faz da actual realidade do mundo do trabalho?
Sabemos muito sobre a natureza humana, independentemente do local onde vivemos e trabalhamos, e o que esta nos diz é que as pessoas tendem a fazer um excelente trabalho quando acreditam que têm um excelente emprego. Por isso, no mundo do trabalho, se queremos que as pessoas entrem nas empresas, fiquem por muito tempo e que o seu comprometimento a nível emocional e psicológico se reflicta no seu trabalho, temos de criar as condições para que os profissionais adorem o que fazem e com quem o fazem. Claro que há diferenças culturais, mas, na maioria dos países, esta é a realidade.
Mas, muitas vezes, o que os colaboradores e as empresas consideram um “bom trabalho” são duas coisas completamente diferentes…
Com certeza. E aqui entram as influências culturais. O que um trabalhador norte-americano considera um bom salário é diferente da opinião de um profissional português, por exemplo. No que diz respeito às diferentes perspectivas do que é um bom trabalho, o que sabemos, pelo menos nos Estados Unidos da América (EUA) – e também noutros países desenvolvidos –, é que estamos a assistir a um “recalibrar” da forma como as pessoas querem que o trabalho encaixe nas suas vidas.
Sabemos que os trabalhadores tomam mais decisões que dão prioridade à qualidade de vida, querem passar mais tempo com as suas famílias, e não querem um volume de trabalho que os faça sentir-se constantemente sobrecarregados, esgotados e stressados.
Existem diversas percepções do que constitui um bom emprego, em parte, porque muitos empregadores andaram demasiado tempo a sobrecarregar os colaboradores. Os profissionais estão a dizer “estou cansado e quero que o trabalho ocupe a minha vida de uma forma diferente”. E em organizações que, actualmente, se debatem com temas de atracção e fidelização de talentos, os empregadores estão a ser obrigados a olhar e a pensar no trabalho de forma diferente.
Quais considera ser os principais desafios que as empresas enfrentam hoje, no que diz respeito à Gestão de Pessoas?
Creio que é perceber como podem manter-se produtivas e lucrativas, enquanto têm de contratar mais pessoas para trabalhar menos. Parece difícil de entender, mas, no fundo, é exactamente isso, não maximizar o lucro às custas da employee experience.
Sabemos que em organizações onde os administradores estão dispostos a partilhar a sua prosperidade com os colaboradores, estes vão permanecer por mais tempo e trabalhar melhor. Em inúmeros países, as lideranças de topo recebem salários significativamente superiores aos restantes trabalhadores, e claro que, seja por formação, competências ou experiência, essa discrepância vai existir sempre, mas o fosso cresceu tanto ao longo dos anos que os colaboradores abaixo estão a dizer que não querem continuar assim, que precisam de melhores salários e mais flexibilidade no trabalho.
A meu ver, estes são os grandes desafios que as empresas enfrentam hoje, compreender que condições podem atrair os profissionais, fidelizá-los e fazê-los crescer.
E o que mais preocupa os trabalhadores no actual mercado de trabalho?
Está relacionado com o que mencionei anteriormente. Vou conseguir sustentar a minha família? Vou poder ter uma vida além do trabalho? Mas, também, se vão ter um emprego que os satisfaça, que seja interessante e com significado? E num local que maximize os seus talentos, com um grupo de pessoas com quem gostem de trabalhar e que os aceite e reconheça?
Este ano lançou o livro “Employalty: How to Ignite Commitment and Keep Top Talent in the New Age of Work”. O que significa “Employalty”?
É uma palavra inventada que pretende transformar o complexo em algo simples. E quando olhas para a palavra, achas que tem que ver com “employee loyalty”, mas é uma mistura das palavras “employer loyalty” e “humanity”. Employalty é um compromisso que os empregadores assumem para uma employee experience mais humanizada, porque é isso que gera comprometimento no trabalho. Se tratamos os colaboradores como uma mera “mercadoria” que traz benefícios, e esquecemos que têm vidas, objectivos e necessidades fora da empresa, não estamos a criar um ambiente do qual eles queiram fazer parte. Porém, se criarmos uma employee experience mais humanizada, que não os trata como “mercadoria”, mas sim como seres humanos, e decidimos minimizar os impactos negativos que o trabalho pode trazer às suas vidas, então estamos a criar condições atractivas para os profissionais.
Acha que esse é o segredo?
Acho que sim, em termos de filosofia que devemos ter presente e praticar. Os empregadores têm de decidir que conjunto de problemas vão enfrentar. Posso maximizar o lucro e minimizar a equipa, mas vou ter problemas de turnover, retenção, moral e esforço. Ou posso colocar essa humanidade ao serviço dos trabalhadores, pagar-lhes melhores salários, dar prioridade à qualidade de vida – o que não é fácil de conseguir. Mas neste cenário vou ter pessoas que vão querer fazer parte da empresa, que vão falar sobre ela, e não haverá problemas de retenção e turnover.
Para escrever este livro, analisámos mais de 200 estudos e artigos sobre os motivos que levam as pessoas a ficar ou sair das empresas, e descobrimos que é muito mais fácil encontrar e manter trabalhadores comprometidos se três áreas da employee experience estiverem asseguradas: emprego ideal, trabalho com significado e um bom chefe.
Leia a entrevista na íntegra na edição de Dezembro (n.º 156) da Human Resources, nas bancas.
Caso prefira ler online, tem disponível a versão em papel e a versão digital.