Escassez, sucesso e o cesto de maçãs

Por Isabel Moço, coordenadora e professora da Universidade Europeia

Todos sabemos – muitos o vivemos no dia a dia e outros tantos procuram reconfigurar-se para lhe dar resposta – que existe, de facto, uma enorme escassez de recursos e, se talento é o foco, pior o cenário. Vivemos tempos complexos em que as empresas procuram os melhores, focam-se no propósito e clarificam-no ao candidato, melhoram o seu branding de empregadores (nota: algumas apenas fazem o “lifting facial” e o efeito é curto), redefinem e agregam valor à sua proposta, incluindo recompensas, procuram alternativas de ajustamento nas condições de trabalho e no trabalho em si e, mesmo assim, envolvendo esforço e recursos, nem sempre alcançam bons resultados. Sabemos que, na atualidade, não são só as empresas que escolhem os trabalhadores, mas estes também escolhem os empregadores, e a equação complexifica-se a cada dia, sendo um dos maiores desafios da gestão de pessoas, felizmente com melhores estratégias e práticas, a cada dia que passa.

Vejamos o outro lado, o dos candidatos, e aqui foco-me muito nas gerações mais novas no mercado de trabalho. Estão a ingressar neste mercado de trabalho, os nascidos no novo milénio. Com eles trazem a programação para o sucesso, embora isso já se verificasse em gerações anteriores nomeadamente a partir da geração X, e uma experiência de vida que o sustenta. Muito foi proporcionado a esta gerações, não só por esforço das famílias, da sociedade em geral, e dos próprios também, com certeza. A evolução tecnológica das últimas duas décadas muito facilitou e contribuiu para que sejam – ou assim se sintam, informados, ágeis e atualizados. Quando se candidatam a um empregador, podem saber da empresa mais do que sabem muitos dos que, há mais anos do que eles têm, trabalham todos os dias nesse mesmo empregador. Mas esta projeção para o sucesso, e a própria forma como se manifesta no posicionamento face ao empregador e o mercado, como permite lidar com a frustração? Como acomodam, ou não, a serenidade, persistência e empenho necessários para que se construam profissionais grandes?

Agora a relação entre os dois parágrafos anteriores: Se por um lado vemos os empregadores pressionados para a atração e captação, em muitos casos vendo-se na contingência de “aligeirar citérios”, a “ceder” sob pena do insucesso ou da falta de capacidade de resposta, e a transformar os seus processos para serem mais atrativos, por outros vemos os candidatos com menor “esperança de vida no empregador”, pois a sua necessidade de experiências, novidades, estímulo, satisfação, recompensas e por aí fora, é cada vez maior. Talvez, e apenas refiro talvez porque não conheço que esteja já estudado este fenómeno, esta menor resiliência e capacidade de aceitação face ao empregador, esteja a produzir uma população ativa exigente – o que é bom e leva a acelerar tudo o que possa contribuir para uma boa experiência do colaborador – mas também pouco tolerante, recetiva a investir e aprender. Quando um colaborador, ao fim de seis meses de empregador, diz a quem tem mais de “20 anos de casa” que já não tem mais nada para aprender e evoluir, é, no mínimo, desafiante de compreender e difícil de gerir. Sobretudo porque sabe, que do outro lado da porta estará um outro empregador que o procura e que está na disposição de lhe oferecer o que ele procura – não obstante poder acontecer de novo em mais seis meses, e sabemos que este efeito “oferta/procura” é tão dinâmico quanto os seus agentes souberem/puderem/quiserem que seja.

Duas notas finais: Empregadores, não procurem a atração a qualquer custo, mas foquem-se na satisfação que a vida na entidade pode trazer, na experiência que proporcionam – o pior que pode acontecer é a “maça podre no cesto” e o efeito que pode trazer à sua volta, nomeadamente na sua imagem – não aligeirem critérios.   Trabalhadores, o mercado não estará sempre tão otimista e dinâmico como atualmente, aliás havendo quem vá indicando uma recessão para breve e que se refletirá necessariamente nos empregos e, sem voltar à ideia do “casamento para a vida” mesmo que não resulte, envolvam-se, desafiem-se e comprometam-se para além do prazo imediato, e os próximos empregadores valorizar-vos-ão mais ainda.