Espelho, espelho meu! A importância do autoconhecimento na liderança

A liderança é um tema muito atraente, o que se evidencia pelo número de artigos publicados em revistas científicas e de conhecimento generalizado ou em jornais, pelo número de pessoas que procuram programas de formação, pela forma como o tema enche auditórios, pelo número de modelos existentes…

Por Catarina Quintela, director of Corporate Solutions na Porto Business School

Muitas pessoas procuram cargos de liderança (embora cada vez menos), mas será que todos estão preparados ou, mais do que isso, se conseguem manter preparados? No contexto organizacional, acontece as equipas questionarem‑se sobre alguém: “Como é possível? Não tem jeito nenhum para lidar com pessoas.” Pois é… liderar é uma função humana (por enquanto) e que implica envolver e motivar pessoas. A resposta a esta questão é: há sempre quem esteja no lugar errado e há quem esteja no lugar certo, mas por razões erradas.

Em parte, o interesse pelo tema deve-se ao facto de o desempenho organizacional estar muito dependente dos líderes, numa lógica top-down. E porque deste depende o desempenho das pessoas. Se considerarmos que liderar é levar as pessoas a resultados com brilho nos olhos, a abordagem de liderança a seleccionar vai depender do líder, da pessoa liderada, do momento da equipa, da cultura organizacional e do contexto mundial. Não existe certo, nem existe errado, existem opções que podem fazer mais ou menos sentido num determinado momento. Sendo a liderança (ainda) uma função humana, sabemos que é imperfeita por natureza.

Cabe ao líder, num determinado momento, escolher entre as abordagens Liderança Situacional, Liderança Transformacional, Liderança Servente, Liderança Autêntica ou outra…

É neste processo de tomada de decisão que o autoconhecimento assume particular relevância, pois permite que os líderes compreendam melhor as suas próprias motivações, valores e crenças. Isso facilita a tomada de decisões conscientes e alinhadas com os seus princípios. Ao mesmo tempo, líderes que se conhecem bem são mais capazes de comunicar efectivamente com as suas equipas. E conhecer forças e fraquezas permite que os líderes compreendam melhor as necessidades e aspirações das equipas, o que facilita a construção de relações mais fortes e a promoção de um ambiente de trabalho colaborativo, com a confiança necessária para assumir a vulnerabilidade e serem autênticos. O autoconhecimento é a base da autenticidade, permitindo que os líderes sejam fiéis a si mesmos e aos seus valores, o que, por sua vez, inspira confiança e respeito no seio da equipa.

Por outro lado, conforme os líderes ascendem na hierarquia, a obtenção de feedback honesto e construtivo pode tornar o autoconhecimento mais desafiador. Cultivar o autoconhecimento incentiva uma mentalidade aberta para feedback e melhoria contínua, mas exige um esforço proactivo, recorrendo a várias fontes e estratégias. É frequente conhecermos pessoas com “um espelho” desajustado relativamente à forma como os outros as vêem. É importante que os líderes se rodeiem de pessoas sinceras (até mesmo) antipáticas e daquelas que dizem o que pensam e o que não querem ouvir.

Neste enquadramento, é importante ir colocando a si mesmo algumas perguntas: o que será que as pessoas acham e que não me dizem? Dou abertura às pessoas para me dizerem o que realmente pensam a meu respeito? Como reajo perante críticas? Comunico o que quero comunicar? Quais os fundamentos para as certezas que tenho sobre mim? Faço as pessoas à minha volta crescerem? Que impacto tenho nos outros? Que tipo de liderança gosto mais de assumir e porquê? Conheço bem as pessoas à minha volta?

Ao mesmo tempo, e sempre que falamos em negócios, os números devem ser indicadores. Algo que não é menos verdade na liderança. Onde estávamos e onde estamos? Onde estamos e onde poderíamos estar com outro tipo de liderança? Quantos dias andamos a trabalhar para a concorrência por causa de não sermos líderes eficazes? Em relação ao valor desses dias, é impossível medi-los, mas seria muito interessante fazê-lo.

Quantas vezes se questionou e procurou feedback nos últimos meses? Tem isso como prioridade na sua agenda? Coloca perguntas à sua equipa sobre a sua liderança?

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