Excelência ou ansiedade?

Por Diana Silva, Functional consultant na Create IT

 

Que empresa nunca teve (ou tem) alguém que parece prever o futuro? Aquela pessoa que consegue percepcionar situações que a maioria não poderia imaginar, nomeadamente antever possíveis “worst case scenarios”?

Olá, chamo-me Diana Silva e sofro de ansiedade.

Parece estranho alguém se declarar “ansioso” quando essa condição nos remete para a ideia de alguém que simplesmente tem urgência em resolver as coisas.

A ansiedade vai além disso. No âmbito profissional, aquela pessoa que se pressiona sempre a fazer mais e melhor, que prevê os piores cenários e se antecipa em criar medidas para resolvê-los ou preveni-los, que está atenta aos possíveis erros dos colegas (não por maldade mas por um mecanismo de defesa do bem comum), que se mostra muitas vezes intolerante aos erros próprios… Enfim, poderia escrever 500 linhas para descrever esse tipo de pessoa, mas, resumindo, essa pessoa geralmente é reconhecida pelo excelente trabalho e está sempre exausta e “indesligável” por causa da ansiedade.

A ansiedade patológica tem muitas nuances e podem passar despercebidas mesmo para quem é alvo dela. Parece-nos natural prever as coisas más que podem acontecer num projecto ou numa equipa, querer superproteger as pessoas à nossa volta, ter um grande medo de coisas que só acontecem em 1% dos casos. Parece-nos natural estar em alerta e pensar que não somos tão bons quanto dizem, mas sim que os outros não se esforçam o suficiente.

Resultado desse nosso excelente trabalho, muitas vezes reconhecido, é um estado de exaustão e frustração que parece não ter forma de ser tratado. Os cenários catastróficos que a nossa mente cria nunca acabam e com eles os nossos esforços em tentar prevê-los e resolvê-los antes que aconteçam. Mas, na maior parte das vezes, nunca vão acontecer.

A difícil jornada do ansioso é dar-se conta do problema quando “o problema” parece ser um dom para manter o equilíbrio das coisas.

No meu caso específico, só pude perceber o que era a ansiedade e o quanto ela consumia em vão a minha energia, quando passou a manifestar-se em crises de pânico por situações do âmbito pessoal que a maternidade me impôs e que realmente eram incontroláveis e imprevisíveis.

Fui procurar ajuda psicológica porque sentia que estava a enlouquecer.

Com as sessões cheguei à conclusão de que estava a viver em função da ansiedade desde sempre. E o passo mais difícil é desligar o “modo catastrófico” e aceitar que as coisas vão correr bem.

A jornada não é fácil. Aprender a limitar a mente a ver o que é a realidade das coisas e aceitar que não podemos controlar ou prever tudo, não por ser impossível, mas por ser um esforço desumano, é lutar contra a própria natureza.

Há um ano que faço terapia, tenho desacelerado e de início sentia grande frustração por achar que já não fazia aquele excelente trabalho. Mas, mais uma vez, era algo só da minha cabeça porque mesmo desacelerando e tendo considerado que a minha produtividade estava muito abaixo do que eu julgava ideal, tive um grande reconhecimento por parte da empresa e dos colegas de equipa.

Teria sido óptimo ter descoberto isto muito mais cedo e ter trilhado uma jornada profissional mais tranquila e igualmente gratificante.

Para aqueles que se reviram neste texto fica a dica de se observarem com mais carinho e procurarem ajuda mesmo que não achem ser preciso.

Há coisas que serão sempre incontroláveis ou imprevisíveis e algumas delas serão maravilhosas justamente por isso.

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