Falta de mão-de-obra qualificada impulsiona aumentos de custos no sector da construção

A falta de mão-de-obra qualificada está a fazer subir os preços praticados pelo sector da construção, que não está a conseguir dar resposta ao aumento da procura por remodelações e obras de requalificação nas casas dos portugueses, revela uma análise da plataforma de contratação de serviços Fixando, que inquiriu dezenas de empresas do sector.

 

A indústria da construção em Portugal reconhece que a dificuldade em contratar pedreiros, carpinteiros, canalizadores ou electricistas, cria entraves às empresas do sector, que se traduzem numa subida dos custos da sua operação que, por sua vez, se traduzem em aumentos nos preços praticados junto dos clientes.

«A tendência, enquanto não existir mais mão-de-obra qualificada e diminuição dos preços das matérias-primas, será do aumento paulatino dos preços de construção e remodelação», avança o arquitecto Ricardo Dias.

De acordo com a análise da Fixando, esta escassez de profissionais da construção está a limitar a capacidade das empresas de responder a um aumento da procura, que, para além dos custos mais elevados, tem resultado também em atrasos nas obras.

A Fixando avança que, desde o início do ano, os pedidos recebidos para obras em habitações subiram 11%, comparativamente com o período homólogo, e, em 2023, a procura por estes serviços já tinha crescido 29% face ao ano anterior.

A justificar este aumento na procura por remodelações e obras de requalificação nas casas dos portugueses, estão a preocupação crescente das famílias com a eficiência energética, a necessidade de adaptar os espaços residenciais ao teletrabalho e ainda o interesse em recuperação das casas para posterior venda, tratando-se assim de investimentos estratégicos no mercado imobiliário.

«O problema da pobreza energética está muito presente nas famílias portuguesas que vivem em imóveis mais antigos. Casas frias e húmidas, sem vidros duplos nas janelas, com maus isolamentos são problemas muito comuns e que levam a uma procura crescente por obras de requalificação», explica Alice Nunes, directora de novos negócios da Fixando.

A mesma responsável acrescenta que os actuais preços elevados dos imóveis têm também motivado muitos proprietários a remodelar casas para venda, com o objectivo de entrarem no mercado imobiliário, onde o retorno financeiro é garantido.

Por outro lado, a tecnologia também está a influenciar o crescimento do sector, com a adopção de soluções automatizadas e sistemas inteligentes de gestão habitacional. No entanto, a integração dessas tecnologias também apresenta desafios, especialmente em termos de custo.

«A nova tendência para a domótica e a implementação de sistemas inteligentes, como estores eléctricos ou climatização automatizada, são requisitos incontornáveis para empresas de construção. É um panorama que nos exige uma adaptação às novas tecnologias e uma actualização técnica contínua para responder às expectativas de um mercado em constante evolução. Tudo isto envolve mais custos para as empresas», avança um responsável da construtora Atitude Benévola, do Porto.

Perante estes desafios, é praticamente unânime dentro do sector que o investimento em formação técnica e desenvolvimento profissional na área da construção é uma necessidade evidente e urgente.

«Parcerias entre o sector público e privado podem ser fundamentais para desenvolver iniciativas de formação que atendam às necessidades das empresas e que proporcionem aos trabalhadores acesso a formação de qualidade e oportunidades de especialização mediante as lacunas no mercado da construção», afirma Alice Nunes.

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