Fernando Matos, Closer Consulting: «A ética para trabalhar na indústria de dados é um dos temas quentes, desde a legislação à Inteligência Artificial»

Fernando Matos, partner e co-fundador da Closer Consulting, não tem dúvidas: vem aí uma revolução que vai levar o potencial e a necessidade dos dados nas organizações a um novo patamar. E acredita que, tal como as calculadoras não acabaram com os professores de matemática, à medida que algumas tarefas se forem tornando obsoletas, o mercado de trabalho também evoluirá de “saber fazer” para “saber perguntar” e esse será um dos impactos da IA.

Por Tânia Reis

 

A Closer Consulting tem como missão desafiar a complexidade. Para Fernando Matos, partner e co-fundador, mais do que um mote, é uma forma de estar. Disponibilizam a experiência acumulada e conhecimento na área dos dados e IA para facilitar a vida dos clientes, num mundo cada vez mais complexo e em constante mudança.

Actuam em Data Science e Inteligência Artificial desde 2006. Como analisa a evolução destas duas áreas desde então?

Quando fundámos a Closer, havia pouco conhecimento geral sobre as áreas que trabalhamos, e, naturalmente, a procura não era ainda significativa. Acredito que viemos mudar esse paradigma.  Desde aí, já desenvolvemos mais de 500 projectos muito relevantes, a nível nacional e internacional, o que nos permitiu acumular imensa experiência nestas áreas.

Actualmente, conseguimos perceber que a transformação digital, ou a vontade de a atingir, está a chegar a cada vez mais empresas. Primeiro, há uma necessidade crescente das empresas que tem acompanhado também o crescimento da Closer. Aliás, no ano passado tivemos um crescimento de 20% que reflecte não só um maior reconhecimento da nossa empresa como uma referência na área, mas também a consciência de que as empresas necessitam de dados e IA. A tão falada luta pelo talento do sector é também um reflexo de que este aumento de necessidade das empresas tem crescido mais rapidamente do que a capacidade de se formar quadros especializados.

Por outro lado, não tenho dúvidas de que vem aí uma revolução com a Inteligência Artificial e que levará a um novo patamar o potencial e também a necessidade dos dados nas organizações. Os ganhos serão enormes nesta área, e as empresas podem começar de diversas formas e com diferentes níveis de investimento. Falhar todos podemos falhar, mas a escolha dos primeiros use cases será muito importante para conquistar a confiança de todos.

 

Com uma equipa de 350 especialistas, qual o perfil-tipo dos vossos colaboradores? (género, idade, formação, nacionalidade, etc.)

É uma equipa com uma enorme diversidade, o que enriquece a forma como trabalhamos e como abordamos os desafios dos clientes. Só em Portugal contamos com 12 nacionalidades diferentes na Closer, desde angolanos, a brasileiros, franceses, indianos e russos. Recebemos pessoas de todo o mundo, com backgrounds muito diferentes. As idades variam, normalmente, entre os 30 e os 39 anos. E temos cada vez mais mulheres nas nossas equipas.

 

Quais os principais pilares da vossa estratégia de Gestão de Pessoas?

Estamos focados em ser uma empresa de referência na área tecnológica e para isso não há como fugir a três princípios-base: remuneração justa, crescimento constante e uma cultura na qual as pessoas se sintam integradas. É este o nosso caminho enquanto tecnológica e o que nos tem permitido construir equipas com níveis de motivação elevados e que conquistam a confiança dos nossos clientes.

 

Actualmente, quais considera serem os maiores desafios nesta área?

Há um desafio muito claro para nós, decorrente da falta de recursos no mercado, que é a contratação e retenção de perfis altamente especializados. Sabemos que este mercado é bastante competitivo, há uma “luta” muito grande por talento tecnológico qualificado. Sabemos que temos equipas de excelência na Closer e é importante garantir as melhores condições de trabalho e trabalhamos diariamente para que o nosso workplace seja excelente. Queremos que os profissionais da Closer se orgulhem em continuar connosco.

Adicionalmente, ainda que seja verdade que cada vez mais empresas querem acompanhar a transformação digital, existe muito espaço para aprofundar o conhecimento sobre dados, sobre aquilo que estes permitem alcançar, sobre como trabalhá-los. Ou seja, há um desafio grande em capacitar as empresas, e em particular os decisores de negócio, nesta área. Repare, uma empresa data-driven tem de o ser transversalmente – todos os profissionais com impacto directo no negócio têm de ter conhecimento tecnológico. Caso contrário, a implementação de projectos torna-se difícil.

 

Pretendem aumentar a equipa até ao final do ano. Que perfis procuram?

Somos uma empresa tecnológica em crescimento e cada vez mais robusta no mercado de projectos de dados e Inteligência Artificial. Já contratámos 60 pessoas este ano e a nossa intenção é reforçar a nossa equipa com mais 80 especialistas até ao final do ano. Estamos à procura, essencialmente, de pessoas com perfil tecnológico especializadas em data science e data engineering, business intelligence e desenvolvimento de software. Estas são as áreas onde temos um maior número de recrutamentos. Todas as vagas que temos disponíveis podem ser vistas aqui.

 

Quais as competências mais valorizadas?

Queremos pessoas apaixonadas pelo que fazem e com a ética necessária para trabalhar na indústria de dados. Acredite que a ética é um dos temas quentes da indústria, desde a legislação na regulamentação de dados até à discussão sobre a Inteligência Artificial. Temos um cuidado especial com este ponto. Mas, obviamente, que a questão técnica é incontornável para continuarmos a ter uma equipa que garante o nível de qualidade e segurança esperado pelos nossos clientes. A título de exemplo, o domínio de C#, Java, PHP, Angular, Typescript, SQL, Phyton, experiência em DevOps e metodologias ágeis, conhecimentos de Data Warehousing, ETL, Power BI, Tableau ou DAX Query, domínio de algoritmos e estruturas de dados, entre outras competências que são procuradas entre vários perfis que pretendemos incorporar na nossa equipa.

 

Vão investir no desenvolvimento dos vossos colaboradores, de que forma e em que áreas vão apostar?

A componente técnica, como as certificações e formação na área são uma das nossas principais apostas. Pretendemos ter sempre uma equipa de grande qualidade e actualizada com as melhores práticas na componente técnica. Temos também oferta formativa em componentes das chamadas soft skills, mas a parte técnica é algo pela qual a Closer se destaca no mercado e pretendemos que assim continue.

 

Que outras iniciativas desenvolvem no âmbito do cuidar dos colaboradores?

Existem três palavras-chave que fazem parte do nosso dia-a-dia e que orientam toda a nossa estratégia de gestão do bem-estar dos nossos colaboradores: empatia, ética e proximidade. As nossas iniciativas estão alinhadas com esta mentalidade.

Então, apostamos muito em acções que permitam a felicidade, a interacção com o resto da equipa, a criação de sentimento de pertença. Por exemplo, todas as semanas, às quartas-feiras, temos sessões de mindfulness, onde os nossos colaboradores são convidados a entrar num estado mental mais sereno e a fugir do stress habitual do trabalho. Promovemos também a ida dos nossos profissionais a locais de saúde e bem-estar e, para isso, temos protocolos com uma série de estabelecimentos como ginásios, centros de estética, entre outros. E, claro, temos os momentos pontuais de lazer, ao longo do ano, como as festas corporativas ou a nossa reunião de kickoff, onde debatemos resultados e estratégias de crescimento, de forma muito transparente.

Queremos, acima de tudo, que os nossos colaboradores se sintam bem e tenham orgulho em trabalhar na Closer. Tínhamos como objectivo ser uma das melhores empresas para trabalhar em Portugal e, no ano passado, conseguimos atingir esse ranking. Vamos continuar este caminho e ser uma das “vozes” das empresas tecnológicas sobre aquilo que de melhor se faz em Portugal, face ao bem-estar dos nossos colaboradores.

 

Que feedback têm recebido e quais as mais apreciadas por eles?

Recentemente, implementámos o que se chama “acções sintéticas”, que permitem que os colaboradores recebam dividendos sob os resultados da Closer. Temos recebido muito bom feedback desta iniciativa, que, além da compensação financeira para os colaboradores, aumenta também a identificação com a empresa e os níveis de compromisso.

 

Com a necessidade de perfis altamente qualificados, sentem dificuldades em contratar? Que razões aponta para tal?

Penso ser do conhecimento comum saber-se que o sector tecnológico tem menos recursos qualificados do que a necessidade que existe no mercado. É um desvio entre a oferta e a procura que se ensina nas primeiras aulas de economia, e ao qual nenhuma empresa de tecnologia consegue fugir. No entanto, temos conseguido atenuar esse efeito por meio de carreiras atractivas, com projectos relevantes e uma compensação justa. Penso que o tema da compensação justa deveria estar mais na agenda dos recursos humanos, sem isso não há bem-estar.

 

Como se pode contornar esta escassez de talento?

É essencial apostar na capacitação de pessoas com um perfil tecnológico, altamente analíticas, com sentido crítico e com ambição de crescimento em projectos com impacto.

Na Closer, estamos agora a promover a 7.ª edição do Closer Data Academy, um programa remunerado destinado a recém-licenciados nas áreas de matemáticas, físicas, engenharias ou estatísticas. Por reconhecermos o valor dos jovens nesta área e sabermos o seu potencial, queremos ajudá-los a desenvolver uma carreira em constante progressão, nestas áreas que são tão desafiantes, bem como garantir que eles têm acesso a formação contínua. A educação hands-on de excelência é a base para uma carreira promissora. As vagas estão abertas aqui, até dia 9 de Julho.

 

Que objectivos pretendem alcançar no futuro mais próximo?

Queremos continuar o caminho de afirmação da Closer como o parceiro estratégico de dados e inteligência artificial para as empresas, quer em Portugal, quer a nível internacional. Vamos continuar a especializar-nos nas nossas principais áreas de expertise, nomeadamente optimização de negócio, forecasting e aumento de produtividade e eficiência nas empresas. Estas áreas trazem valor aos nossos clientes e vamos continuar a usar os dados para tornar as empresas cada vez mais data-driven.

A internacionalização continua a ser, também, uma ambição. Já temos escritórios no Brasil e no Reino Unido e contamos com um elevado número de projectos internacionais já desenvolvidos. Vamos “batalhar” por mais, de forma a garantir que trabalhar na Closer é sinónimo de desafio. Só assim será possível continuar a reunir o melhor talento tecnológico, e o nosso tanto nos orgulha, e oferecer condições óptimas, equiparadas às internacionais.

 

Com os avanços da tecnologia e inteligência artificial, como vê o futuro do trabalho, nomeadamente na área da Gestão de Pessoas?

Não tenho dúvidas de que os dados têm, realmente, um grande poder de transformar negócios. Estão a ditar aquilo que será o futuro do trabalho.  A Gestão de Pessoas não foge à regra e é uma área desafiante, especialmente no sector tecnológico, que, como já referi, conta com uma escassez clara de recursos técnicos.

Acredito que a gestão de pessoas será cada vez mais analítica e com processos automatizados. Desde o resumo e revisão de candidaturas até algoritmos de previsão de saída de pessoas, hoje, já é possível colocar a tecnologia a fazer coisas que há uns anos seria impensável para a maioria dos recursos humanos das empresas. Mas o mais importante é saber colocar as perguntas certas, pensar exactamente o use case que temos em mãos e o problema que queremos resolver. Acredito que daqui nascerá mais do que o uso da tecnologia, mas também a importância de novas competências no mercado de trabalho para tirar partido da Inteligência Artificial.

A construção de use cases para saber pedir e definir problemas a serem resolvidos será uma competência crucial no mercado de trabalho, alicerçada pela hoje denominada prompt engineeering — ou seja, a capacidade de pedir “às máquinas” o que queremos que elas construam ou façam. Veja-se o exemplo do ChatGPT onde a qualidade dos resultados está muitas vezes ligada à capacidade que o utilizador tem em colocar as perguntas certas. As calculadoras também não acabaram com os professores de matemática, nem a nossa necessidade de fazer contas, mas à medida que algumas tarefas se vão tornando obsoletas, o mercado de trabalho evoluirá de “saber fazer” para “saber perguntar” – esse será um dos impactos

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