Flash Talk: a importância de um “não” positivo

Já quis recusar uma ideia ou oferta, mas teve medo das consequências na sua vida profissional ou na relação com os colegas? Aprenda a dizer “não” sem culpas. É o que António Sacavém quer ensinar-lhe. 

Por Diana Pedro Tavares 

 

O autor do livro “Aprenda a dizer não sem culpas” é partner, trainer e coach na António Sacavém Communication Academy e professor auxiliar na Universidade Europeia e no IPAM.

À revista Human Resources Portugal, explica como a experiência profissional que tem e os profissionais que ajuda o levaram a escrever este livro, o que pode aprender com ele, e como a vida profissional pode mudar com um “não” diferente.

A ideia para este livro surgiu porque, no dia-a-dia, encontra muitos profissionais com dificuldade em dizer “não”. Consegue estabelecer um perfil ou um padrão, nos profissionais que mais se debatem com esta dificuldade?

A dificuldade de dizer um “não” com competência surge, essencialmente, ligado ao tema da produtividade, da gestão de conflitos, da liderança, da negociação empresarial, do equilíbrio trabalho/família, etc. Por esse motivo, é um tema relativamente transversal nas empresas dado que se trata de uma questão relacional.

Porque acha que existe esta dificuldade, especialmente no mundo empresarial?

Repare, enquanto espécie, nunca fomos os mais rápidos, os mais altos ou os mais fortes. No entanto, tornámo-nos naquilo que somos hoje porque aprendemos a juntar-nos em tribos, a proteger-nos uns aos outros e a trabalhar em equipa. A nossa necessidade de pertencermos a um grupo mantém-se até ao momento presente.

Nas empresas, receamos dizer “não” pois sentimos que isso nos pode afastar dos outros e dos nossos objectivos. Podemos ter receio que o nosso chefe sinta que não estamos à altura, que o colega não aceite o “não” como resposta, de gerar um conflito, de correr o risco de perdermos uma oportunidade de progressão profissional, de prejudicar a relação com o chefe, etc.

Isso pode acontecer, de facto, no caso do “não-negativo” do tipo acusatório, que confunde o comportamento com a pessoa. No entanto, no caso do “não-positivo”, não corremos esse risco. Pelo contrário, até nos candidatamos a melhorar a qualidade da relação com as outras pessoas, enquanto nos mantemos focados naquilo que é mais importante para nós, ao serviço de algo mais abrangente.

Como é que este livro pode ajudar os profissionais? Partilhe dois ou três dos principais “ensinamentos”.

Os leitores vão aprender que existem três tipos de “não”, como podem aplicar eficazmente o “não-positivo” e o “não-assertivo”, e como podem evitar o “não-negativo”, que os afasta dos outros e dos objectivos.

As pessoas vão aprender, também, a lidar eficazmente com conflitos, a dizerem “não” ao acessório para dizerem “sim” ao que é realmente importante, a gerirem o sentimento de culpa e de ansiedade que um “não” pode trazer, a evitarem a manipulação num estágio inicial e a manterem uma relação saudável com o outro mesmo depois de terem dito que “não”.

Quando começou a escrever o livro, qual era o objectivo?

Acima de tudo, dar a conhecer um conjunto de ferramentas essenciais para as pessoas aprenderem a dizer um “não-positivo”, um não confiante, que lhes abre portas para o diálogo, que as vai ajudar a serem mais produtivas, a equilibrarem a relação trabalho/família e a sentirem-se mais felizes e realizadas.

Como é que a tecnologia e as redes sociais melhoram ou pioram esta questão?

Pegando no exemplo do email. Se existe um problema a resolver, as pessoas tendem a dar feedback mais “duro” por email, do que numa relação face-a-face. O nível de empatia tende a decrescer quando não estamos em contacto directo, ou seja, quando estamos privados de observar aquilo que o outro está a sentir, tanto através da face como do corpo.

É um “problema” que partilhamos com outras nacionalidades ou é mais evidente nos portugueses?

É um tema global. No entanto, os portugueses, comparativamente com outras culturas, tendem a ser mais avessos ao risco. Isto pode conduzir-nos a evitar o “não” como forma de protecção.

Há outros factores que jogam com esta temática? Gerações, género, cultura?

A minha experiência diz-me que é uma questão relativamente transversal, no que toca ao género.

O que é um “não positivo”?

O “não positivo” é um dos três tipos de “não”, que tem a vantagem de manter as pessoas focadas no objectivo, desejavelmente ao serviço de um bem maior, enquanto desenvolvem uma relação saudável com os outros. O “não-positivo” só pode existir se soubermos realmente aquilo que queremos.

Por isso, é tão importante no local de trabalho. O “não positivo” é um processo de três passos:

– Passo 1: inicie o diálogo de forma positiva e partilhe o quão importante é aquilo que está a fazer para benefício de algo mais abrangente;

– Passo 2: demonstre que entende aquilo que o outro sente e aquilo de que necessita no momento;

– Passo 3: empenhe-se em descobrir com o outro uma ou mais soluções habilitadoras que tenham em consideração a sua necessidade de se manter focado naquilo que é realmente importante, sem descuidar aquilo que são os sentimentos e as necessidades dos outros.

Como sabemos, como receptores deste não, que foi um “não positivo” em vez de um negativo? O que os distingue?

O “não positivo” procura uma solução habilitadora (win-win), para nós e para o outro, enquanto nos mantém focados no essencial. O “não negativo” afasta-nos dos nossos sonhos e do nosso talento, porque nos convida a trocar bons desafios, que têm o potencial para impulsionar a nossa transformação pessoal, pelo conforto daquilo que é simplesmente satisfatório.

Na interacção com clientes e parceiros é, naturalmente, de evitar. O problema é que, por vezes, quando nos “carregam em determinados botões” não conseguimos gerir eficazmente as nossas emoções e, no calor do momento, lá reagimos com um “não negativo” acusatório. Por isso, o livro também ajuda as pessoas a lidarem melhor com as suas emoções e com o diálogo interno “distrator”.

Como coach, que outras “dificuldades” percepciona nos profissionais que o procuram?

Tenho o privilégio de facilitar processos de coaching junto de executivos, empreendedores, celebridades, políticos, desportistas, etc. Existem temas que, na minha experiência, estão muito presentes nestes targets: o desenvolvimento de competências profissionais; a alavancagem do negócio; a gestão da mudança; o desenvolvimento de competências de liderança; a progressão profissional; a confiança; a superação pessoal e a produtividade; o equilíbrio trabalho/família; a gestão do tempo e da energia; a eficácia na comunicação interpessoal e na comunicação em público; o saber lidar com a rejeição; a motivação pessoal e de equipas; a construção do propósito, etc. Como pano de fundo encontro, geralmente, a transformação pessoal, a gestão das emoções e o desenvolvimento de equipas e da organização. Sinto, cada vez mais, que as pessoas procuram ser mais reais, fazerem aquilo que apregoam e criarem versões melhoradas dela próprias.

Já tem tema para o próximo livro?

Bela questão… Existe algo pensado, mas não quero adiantar para já. Prefiro focar-me em fazer acontecer logo que encontrar o momento adequado, procurando criar algo de novo e que acrescente valor. Sou apologista da máxima” falar menos e fazer mais”.

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