
Há profissionais a recusar-se a voltar ao escritório (e a perder o emprego)
As empresas estão a levar a sério os requisitos presenciais. A Amazon vai exigir que os trabalhadores se apresentem nos escritórios cinco dias por semana a partir de 2 de Janeiro. A UPS, a JPMorgan Chase e a Boeing também chamaram pelo menos alguns dos seus colaboradores de volta ao escritório todos os dias, avança o The Wall Street Journal.
Os despedimentos por incumprimento do regresso ao escritório são aparentemente raros, ou pelo menos tratados discretamente, mas o espectro é real. Em Outubro, de acordo com vários relatos, a Publicis Media despediu dezenas de colaboradores que desrespeitaram as exigências de presença no escritório.
A Starbucks notificou os trabalhadores de escritório que podem ser despedidos se não comparecerem três dias por semana a partir do próximo mês. E empresas como a Roblox e a Grindr ofereceram pacotes de indemnização aos colaboradores que se recusaram a estar em modo presencial com a frequência necessária
Segundo o The Wall Street Journal, algumas pessoas que passaram por perdas de emprego relacionadas com o regresso ao escritório, ou que acreditam que este pode estar iminente, disseram que ser despedidas não é a pior parte. Mais difícil de encarar é a percepção de que talvez nunca mais consigam um acordo de trabalho remoto ou híbrido tão bom como o que tinham.
Stephanie Pittman revela que perdeu o seu emprego remoto como directora de gestão de fornecedores de uma empresa de manutenção de edifícios no mês passado. Trabalhava a partir de casa no Kansas desde que se juntou à empresa com sede na Califórnia, no ano passado.
A empresa começou a chamar os colaboradores de volta à sede e a contratar pessoas que pudessem trabalhar pessoalmente. Pittman, uma advogada de 51 anos, aceitara o emprego para escapar à pressão de um anterior empregador para voltar ao escritório e, no Kansas, tem quatro filhos, o trabalho do marido como juiz e pais idosos que vivem a um quilómetro de distância.
O seu antigo emprego está agora publicado como uma posição presencial. Como prestadora de serviços de trabalho jurídico a tempo parcial, Pittman manteve o rendimento no mês desde a sua demissão, mas as perspectivas de outro emprego remoto bem remunerado são desanimadoras, como comprovam as mais de 100 candidaturas até agora. «É muito frustrante e desmotivador.»
“Um banho de sangue”
Muitos chefes acreditam que já não têm de tolerar resistência ao regresso ao escritório (RAE), diz Dan Kaplan, Senior partner da consultora Korn Ferry.
«À porta fechada, os CEO são da opinião de que “estou cansado destas queixas sobre o regresso ao escritório. Já cedemos o suficiente e, se não atingir os mínimos, avançaremos sem si”», afirma.
Embora muitos trabalhadores não tenham aparentemente outra escolha senão cumprir as regras de RAE, Kaplan prevê que muitos recusarão de qualquer forma e prevê um “banho de sangue” em 2025, sem que nem os empregadores nem os empregados recuem. Algumas pessoas contam com as poupanças do boom pós-pandemia e podem dar-se ao luxo de ficar desempregadas durante algum tempo; outros estão optimistas quanto ao facto de o mercado de trabalho voltar a aquecer e a capacitá-los novamente para negociar acordos de trabalho flexíveis.
Há algumas evidências de que os que ganham mais estão a começar a recuperar a vantagem. A Ladders, uma plataforma de emprego para funções muito bem remuneradas, refere que 10,4% dos cargos que pagam 250 mil dólares ou mais foram anunciados como remotos no terceiro trimestre deste ano, acima dos 8,8% no segundo trimestre.
Mudança de carreira
Apenas 8% dos empregos publicados no LinkedIn são remotos, afirma a empresa, abaixo dos 18% no início de 2022. Estas funções são ultra-competitivas, atraindo 40% das candidaturas apresentadas através do LinkedIn.
O site de emprego Indeed refere que a quota de vagas remotas na plataforma também é de cerca de 8% e afirma que as faixas salariais publicadas para cargos remotos aumentaram no ano passado. Isto pode indicar que os empregadores estão a tentar pagar menos aos trabalhadores que vivem longe de cidades costeiras caras, embora a Indeed afirme que não existem dados suficientes para o comprovar.
Kendelyn Chilton juntou-se à Amazon durante a onda de contratações em 2021, enquanto vivia no Tennessee, onde a empresa estava a construir um novo escritório. Quando a Amazon interrompeu a construção no ano seguinte, Chilton estava a divorciar-se e recebeu autorização para se mudar para mais perto da família no Louisiana, uma vez que já estava a trabalhar em modo remoto.
À medida que a empresa intensificou o seu esforço para trazer os colaboradores de volta aos escritórios, foi despedida em Julho de 2023. Pessoas em funções semelhantes que podiam ir regularmente aos escritórios foram poupadas, diz ela.
Em vez de procurar outra oportunidade remota em vão, decidiu mudar de carreira. Entrou para a empresa de construção do pai, passou cerca de um ano a assentar pavimentos de madeira e a instalar isolamento e, por fim, obteve a licença de empreiteira. A sua experiência na avaliação de candidatos a emprego ajuda-a a detectar bons e maus subcontratados, e diz que está mais feliz sem o medo de uma chamada de regresso ao escritório ou a angústia de uma procura de emprego.