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Há um factor-chave do qual depende a produtividade em teletrabalho. E não é tecnologia
A consolidação do trabalho remoto obriga as empresas a mudarem a relação com os colaboradores para manter o nível de produtividade. De acordo com a Robert Walters, os especialistas recomendam melhorar a comunicação em vez de usar meios para controlar suas tarefas à distância.
Nove em cada dez colaboradores querem trabalhar em casa quando a normalidade chegar porque, entre outras coisas, economizam tempo no deslocamento para o escritório, têm maior flexibilidade de horário e, afirmam, que são mais produtivos, segundo dados da consultora global de recrutamento Robert Walters.
Na verdade, 72% dos colaboradores atribuem a falta de produtividade às interrupções e ao ruído gerado no escritório onde trabalhavam, segundo a pesquisa fornecida pela consultoria. A pesquisa também estima um aumento de 20% no desempenho laboral durante o confinamento.
Mas manter esses números depois de mais de um ano de teletrabalho não é fácil. Na verdade, alguns empregadores (sete em cada dez, de acordo com a Robert Walters) preferem continuar com o modelo de trabalho tradicional por medo de que a produtividade da sua força de trabalho diminua.
Para evitar que isso aconteça, François-Pierre Puech, country manager da Robert Walters Portugal aconselha: «Fortalecer a comunicação e apostar na confiança e na independência do colaborador e descartando, caso não sejam estritamente necessárias, as novas ferramentas digitais para controlar o trabalho em todos os momentos, pode ser extremamente positivo.»
Comunicação fluente que faz a diferença
Segundo a Robert Walters, o principal pilar do teletrabalho é a comunicação, entre os trabalhadores e seus gestores. O que mais afecta a produtividade é a relação que liga os chefes de equipa aos seus subordinados, menos imediata neste modo de trabalho remoto. Por isso, é conveniente ter vários canais, instalados tanto no computador como no telemóvel. Programas específicos para chamadas de vídeo, email e chamadas telefónicas são os mais comuns.
Dependendo do tipo de mensagem, haverá canais mais eficazes e apropriados do que outros. O ideal é pedir conselhos a um consultor sobre os modelos de comunicação em que investir. Em geral, para informações formais ou importantes, como a entrega de um projecto, é preferível usar o email. Para discutir um problema, é sempre melhor usar o telefone ou uma vídeo chamada (não mais de 15 minutos). E para dúvidas ou notificações menos urgentes é preferível usar um chat, seja directamente para o destinatário ou para um grupo, onde estão os membros da equipa.
As ferramentas de controle: São sempre necessárias?
A preocupação de um chefe com o desempenho da sua equipa não se deve transformar em uso abusivo da comunicação que se materializa, por exemplo, no controlo contínuo através de chamadas e emails. François-Pierre Puech deixa claro que estar sempre em cima dos colaboradores é contraproducente, porque os colaboradores podem ficar sobrecarregados, sofrer de ansiedade e reduzir o seu nível de eficácia.
As empresas podem utilizar, conforme a lei, câmaras, programas de vigilância e sistemas de computador para controlo de tempo. Em muitos casos, são agrupados em plataformas digitais que medem o tempo de trabalho de cada colaborador, monitorizam (e registam em vídeo) o desempenho diante da equipa e realizam cálculos para optimizar a produção, avaliam as horas que cada projecto consumiu, as rotinas de seus trabalhadores.
François-Pierre Puech enfatiza que os empregadores podem contratar esses programas de vigilância e utilizá-los, mas sempre com os direitos do trabalhador pela frente. E refere-se ao artigo 20 do Estatuto do Trabalhador e 87 da Lei Orgânica de Protecção de Dados Pessoais e Garantia de Direitos Digitais, onde se especifica que os trabalhadores têm direito à protecção da sua privacidade e que as organizações apenas têm acesso a essas ferramentas para se certificar de que estão cumprindo suas obrigações de trabalho e não fazendo uso indevido do equipamento.