Habemus Lider!

Por Alexandra Barosa, directora executiva do Curso de Coaching Executivo da Nova SBE e Managing partner da ABP Corporate Coaching

Vivemos tempos estranhos. E não é só por ainda haver quem pense que “liderança” é sinónimo de “voz grossa” e “gravata bem posta”. São estranhos porque nunca vivemos um reality show global — onde políticos dançam no TikTok, citam Churchill no Instagram e prometem revoluções em 280 caracteres.

Se há uns anos conseguíamos identificar o perfil de um líder mediante traços específicos, hoje, com a idolatria de celebridades digitais, o exercício torna-se um pouco difícil. Temos figuras públicas que se tornaram líderes… só porque eram públicas. Há líderes de guerra com canais no YouTube, gurus de economia com filtros no Instagram e políticos saudosistas que querem regressar ao poder como se fosse um ex tóxico a mandar mensagem às três da manhã: “Só mais uma legislatura, prometo que agora é diferente”.

Em Portugal, estamos prestes a escolher novas lideranças. E o que nos oferecem? Candidatos que investem mais em reels do que em ideias. Que preferem ir a talk shows em vez de debates sérios. Que treinam mais para o teleponto do que para enfrentar um hemiciclo. E os media? Obcecados com o passado amoroso, o animal de estimação e o signo do candidato, em vez de fazer a pergunta-chave: “Mas esta pessoa sabe liderar ou só tem bons filtros do Lightroom?”

Pergunto-me: será que estamos perante uma nova e estranha forma de apresentar liderança? Ou será que estamos, coletivamente, a falhar enquanto seguidores?

Barack Obama disse: “A política é um reflexo da sociedade.” E, sinceramente, às vezes o reflexo parece um daqueles espelhos de feira: distorcido, bizarro… e um bocadinho assustador. Talvez não precisemos de líderes menos estranhos, mas de seguidores mais despertos. Mais exigentes. Mais capazes de pensar antes de partilhar memes e votar em sorrisos em vez de ideias.

Talvez esteja na altura de fazermos um Conclave dos Seguidores — sem precisar de trancar ninguém na Capela Sistina. Bastava um detox digital, um blackout temporário das redes, uma pausa para respirar e pensar: que sociedade queremos coconstruir?

E, atenção, isto não é utopia. Já há organizações que apostam em desenvolvimento para todos — não só para os “chefes”, mas para quem os segue. Programas de codesenvolvimento, coaching, momentos de pausa reflexiva. Porque preparar bons seguidores é tão importante como formar bons líderes.

Afinal, só com seguidores atentos, conscientes e exigentes é que poderemos, um dia, ver fumo branco. E gritar, com convicção:

Habemus Líder!

(E que não venha com o microfone de lapela ligado ao ego.)

 

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