Hardiness people, hardiness culture

Por Isabel Moço, coordenadora e professora da Universidade Europeia

A pandemia de 2020 confrontou-nos com o facto, independentemente do acrónimo que se use ( VUCA, BANI ou outro), da incerteza da vida humana, da vida empresarial e do mundo em geral. De repente, é provável que tudo mude e a capacidade de o enfrentar, pode ser a diferença que faz a diferença. Neste cenário, empresas e pessoas têm que ser cada vez mais hardiness – embora se possa considerar como robustez de caráter, não existe uma expressão direta para traduzir o conceito de hardiness. Consideraremos aqui que se trata de uma competência, quer pessoal quer organizacional, de lidar com o stress e a incerteza, de resistência e relacionada com a resiliência associada à capacidade de enfrentar novas situações, de forma positiva e com resultados.

Face a cenários de incerteza ou stressantes, uma pessoa ou organização com elevada hardiness, consegue encontrar estratégias e desenvolver respostas positivas e eficazes. Se o gestor de pessoas é o guardião e promotor da cultura organizacional, será então ele que é responsável por desenvolver esta competência nas pessoas e na organização, pois será a forma de todos estarem capacitados e preparados para quando um imprevisto, ou situação adversa, possa ocorrer, tendo capacidade de resposta. Mas como desenvolver esta hardiness attitude?

  • Criar, estimular e reconhecer o desafio – a nível pessoal, profissional, coletivo ou mesmo para toda a organização, o ambiente deve ser de desafio permanente. Este desafio pode ser materializado com objetivos, por exemplo, mas devem cumprir todas as regras da definição dos mesmos – ser estimulantes mas alcançáveis, e se alcançados, deve o resultado ser reconhecido e recompensado. Também pode haver objetivos, e são já bastante comuns, partilhados e extra trabalho – por exemplo, contar os passos dados por uma equipa, comparando-os com outras equipas, numa espécie de ranking (o propósito com que as pessoas aderem a estas iniciativas, não é displicente);
  • Comprometimento – pessoas e empresas com atitude hardiness têm tendência para acreditar que influenciam e controlam o que pode acontecer. Essa atitude pode ser positiva e trazer capacidade de lidar com a mudança, mas precisa de realismo que só é trazido pelo envolvimento e comprometimento. Quanto mais comprometidas com a experiência, os outros, o negócio e a empresa, estiverem as pessoas, maior capacidade terão de antecipar e lidar com as situações. A gestão de pessoas também aqui tem um papel importante, e por demasia sabemos a importância que tem envolver e comprometer as pessoas nas organizações de trabalho. Para o conseguir, é necessário que as pessoas sejam realmente atendidas, enquanto seres humanos com necessidades desejos e expectativas, e não como mera força de trabalho. Talvez, possa afirmar, que pessoas mais comprometidas são pessoas mais hardiness, embora uma não seja diretamente causa e consequência da outra, pois muitos fatores, de foro pessoal e organizacional, possam contribuir para que mesmo com elevado grau de comprometimento, a resposta necessária face a situações e adversas, possa não ocorrer.
  • Controlo – pessoas e organizações hardiness acreditam que têm o controlo dos processos, pessoas, outputs, ocorrências e resultados. Promover esta atitude hardiness será então também propiciar mecanismos de monitorização, verificação e controlo. Por exemplo, ter analytics que permita a materialização dessa necessidade de controlo.

A promoção de uma atitude hardiness pode passar também por treino e experiência, pudendo constituir-se, colateralmente, como uma forma de proporcionar bem-estar, na medida em que se as pessoas se sentirem mais preparadas, mais capacitadas e mais resistentes para enfrentar possíveis fontes de tensão, ou stress, poderão viver mais tranquilamente.

Assegure-se em primeira instância o básico para a promoção de uma atitude hardiness, pessoal e organizacional. Dentro destes “básicos” teremos então: Promoção de uma cultura de aprendizagem contínua, growth mindset; treino e desenvolvimento de competências de resolução de problemas, criatividade e capacidade de lidar com a mudança; comunicar efetivamente em todos os sentidos, de forma aberta e clara, com mecanismos responsáveis de auscultação de todos os trabalhadores; apoio efetivo, institucional, às situações da vida pessoal dos trabalhadores, que tenderão mais tarde a devolver e reconhecer; promoção de um ambiente de trabalho seguro,  positivo, colaborativo, resiliente e gerador de satisfação a todos os níveis. Assegurem-se estas condições, e estaremos a promover uma hardiness attitude.