Inteligência Artificial Generativa: um super-poder ao alcance de todos

A encerrar a XXVI Conferênia Human Resources, Ricardo Parreira, CEO da PHC Software, baseou a sua intervenção na pergunta: “Revolução IA: a contratação de 2024?”. A resposta surge inequívoca quando a palavra que mais repetiu foi “super-poder”. É assim que vê a inteligência artificial generativa, como um super-poder, ao alcance de todos. Fazer rápido e bem não há quem? Há.

Por Ana Leonor Martins | Foto NC Produções

 

Ricardo Parreira, sendo o último orador do programa da XXVI Conferência Human Resources – que se realizou ontem, dia 24 de Outubro no Museu do Oriente, em Lisboa, tendo como como tema “Human Skills: A resposta da Gestão de Pessoas à Inteligência Artificial (e não só)”  – constatou que houve uma ideia muito referida nas intervenções anteriores: o medo. E começa com um disclamer: «vou falar do oposto». Assumindo-se como um entusiasta de como a tecnologia pode ajudar as pessoas – e estando constantemente à procura disso para, a partir daí, ajudar as empresas – não tem dúvidas de que a inteligência artificial (IA) vai «mudar para sempre a forma como pensamos o trabalho».

Claro que há desafios. E o fundador e CEO da PHC Software identificou três, que têm um ponto em comum: para as empresas, relacionados com aumento das vendas, operações sem falhas e pessoas; para os líderes e chefias intermédias, que tem «das funções mais desafiantes, pois têm de incorporar a estratégia do negócio com a preocupação pelas pessoas», relacionado com performance, entrega e pessoas; e os Recursos Humanos, a quem é pedido atracção e retenção de talento, manter a cultura organizacional, o bem-estar das pessoas. «O ponto comum a estes desafios é evidente, são as pessoas.»

E qual o grande desafio relacionado com as pessoas? «O tempo, o seu bem mais precioso», afirma Ricardo Parreira. «E conseguirmos ter mais tempo – conseguir fazer melhor, mais rápido, parece quase um super-poder. E a inteligência artificial generativa (Gen AI) traz-nos esse super-poder. Não vai substituir as pessoas, vai ampliar as suas capacidades», confia o responsável.

Concretiza com uma analogia, explicando antes que a IA Gen é uma «subscategoria da IA, que ficou conhecida pelo ChatGPT, mas que é só uma forma de a ver na prática». A analogia é com uma bibliotecária, a Cris, e uma biblioteca gigante que contém todo o conhecimento que existe no mundo, em todas as áreas. «A magia acontece quando a Cris, a qualquer pedido ou pergunta, de qualquer pessoa, consegue ir buscar o conteúdo certo. É um super-poder que está ao alcance de todos nós.»

Ninguém contestará que «fazer tudo melhor e mais rápido é o sonho de qualquer empresa, líder ou profissional». E é isso que a Gen AI permite. O responsável comprova-o com números: de acordo com um estudo feito em Março de 2023, pelo MIT Economics Research, o ChatGPT permite fazer 37% das tarefas mais rápido e 20% com mais qualidade. «Imaginem fazer em três dias o que se fazia em cinco, é um ganho revolucionário», afirmou.

E se estes números já são impressionantes, os do estudo da Harvard Business School feito em Setembro de 2023, a 758 consultores, considerando 18 das suas tarefas habituais, revelou uma execução 25% mais rápida e mais 40% mais qualidade. «Não é a máquina, são as pessoas; é um ganho para as pessoas, é para elas que temos de aproveitar a tecnologia», enfatizou.

 

Um sonho: IA para todos

Se, no início da sua carreira, Bill Gates dizia sonhar que houvesse “um computador por pessoa”, Ricardo Parreira diz sonhar com “um assistente de gestão por pessoa”. «E temos todas as condições para fazer isso», garantiu, sublinhando o «papel crucial dos Recursos Humanos» para esse desiderato.

Porque nem todos estarão familiarizados com a Gen AI e as suas potencialidades, o CEO da PHC Software trouxe o exemplo da plataforma que usam, apresentado à audiência a Cris, ressalvando que «a IA brilha quando tem dados, contexto». Por isso, a Cris não é mais do que o interface entre o software PHC e o ChatGPT, «porque o ChatGPT democratizou esta tecnologia. A vantagem é aproveitar os dados que já existem. E os ganhos que traz são uma autêntica revolução», reiterou.

Ricardo Parreira mostrou então como estes super-poderes podem funcionar na prática, dando vários exemplos: avaliação da equipa, permitindo identificar imediatamente os pontos de melhoria, podendo o líder ter uma conversa mais produtiva com cada pessoa; avaliação de pares, ajudando a própria pessoa a ver os seus pontos fortes e fracos, e onde melhorar – «isto não é automação, é ampliar a nossa capacidade» –; estruturar reuniões de equipa e analisar os seus outputs; fazer anúncios e job descriptions e publicá-los online, mesmo sem conhecimento de HTML – «já não é preciso pedir ajuda, a IA faz, só é preciso saber perguntar» –; fazer perguntas para entrevistas; conhecer técnicas de segurança psicológica – «dicas de gestão de conflito e para ter conversa difíceis, identificando os prós e contras de cada ideia –; fazer emails de cobranças – «e até ajusta o tom da comunicação, para ser mais assertivo, se o pedirmos».

Depois dos diversos exemplos, o responsável enumera algumas das muitas potencialidades da Cris: «É assistente de gestão, coordenadora de RH automatizada, analista de dados inteligente, assistente de recrutamento, planeadora de férias e organizadora de agenda eficiente, criadora de conteúdo adaptável, estrategista de desenvolvimento de equipa, facilitadora de comunicação interna, consultora de desempenho automatizada… Ou seja, permite fazer melhor e mais rápido.»

Ao longo da intervenção de Ricardo Parreira é impossível ficar indiferente à paixão e entusiasmo com que fala do tema e apresenta as suas potencialidades, mas faz uma ressalva: «A IA não é sempre inteligente, também existe estupidez artificial. É preciso o humano “validar”.» Mas, com as devidas precauções, de uma coisa não tem dúvidas: «Vem aí um mundo novo e esse mundo é espectacular!»

Outra certeza que o CEO tem é que esta é uma «oportunidade incrível para os Gestores de Pessoas, para tomarem a dianteira. E não é habitual poderem fazê-lo quando o tema é tecnologia, mas podem mudar as regras do jogo», acredita, reconhecendo no entanto que «é mais fácil dizer do que fazer». Mas identifica o que, na sua opinião, precisam de fazer para o conseguir: dominar a ferramenta; ensinar as pessoas a aproveitá-la, a fazer as perguntas certas; e liderar o processo.

Recapitulando a sua intervenção, Ricardo Parreira resume: «as pessoas são o desafio, o desafio está concentrado na velocidade e qualidade, mas a boa notícia é que chegou um super-poder, um super-poder que, acima de tido, vai ampliar as pessoas. Quando pensarem em inteligência artificial, não pensem em máquinas, pensem em pessoas. Esta é uma das tecnologias mais claras para ampliar as pessoas. Mas surge sempre a dúvida, será que a IA é amiga ou inimiga dos Recursos Humanos? Será que vai levar os empregos? É uma reflexão interessante, mas a resposta é simples: Sim. Vai levar os Recursos Humanos, mas acima de tudo para outro patamar; o patamar onde podem fazer a diferença, onde podem dar super-poderes às pessoas. Por isso, aproveitem o que pode ser a melhor contratação de 2024. Falamos tanto de falta de talento, por que não aproveitar o talento que temos?»

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