IPQ: Tornar o valor da missão pública mais atractivo

Uma «baixa grelha salarial, mesmo para os mais qualificados», e as «dificuldades associadas à perspectiva de evolução de carreira» tornaram o sector público pouco apelativo. A aposta do Instituto Português da Qualidade na capacitação e na conciliação da vida pessoal, familiar e profissional quer mudar essa realidade.

 

Por Tânia Reis

 

Enquanto organismo público, e num contexto de livre circulação de bens, o Instituto Português da Qualidade (IPQ), criado em 1986, visa assegurar a qualidade de produtos e serviços em prol da sociedade e do aumento da competitividade das actividades económicas.

Em quase 40 anos de história, tem «vindo a investir não só na inovação e modernização dos processos, mas também na qualificação dos colaboradores, reforçando as suas competências, pessoais e profissionais, fomentando a motivação e o espírito de equipa, com foco nos resultados pretendidos». Quem o diz é Susana Santos, directora do Departamento de Administração Geral, que sublinha que, se «há décadas, as pessoas eram encaradas apenas como força de trabalho com meras obrigações e parcos direitos, hoje pretende-se o seu bem-estar físico e psicológico». E destaca como um dos principais marcos dessa evolução o «reconhecimento da implementação de boas práticas de conciliação, através da certificação do Sistema de Gestão da Conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal», a NP 4552.

Actualmente, do mapa de postos de trabalho do IPQ, constituído por 120 lugares, «apenas 108 se encontram ocupados. Este universo é constituído por 69 mulheres e 39 homens, com uma média etária de 52 anos», sendo que 71,6% dos trabalhadores possuem formação superior. Ainda que, no momento actual, o instituto não disponha de carreira de investigação, «dispõe de um conjunto de técnicos superiores muito qualificados, alguns com grau de doutoramento, que asseguram actividades de investigação e desenvolvimento no domínio da metrologia científica, na grande generalidade, em projectos de âmbito europeu e internacional», faz notar a responsável.

 

Os desafios de atrair e fidelizar talento
Para Susana Santos, a especificidade de perfis de que necessitam é um dos desafios que enfrentam «quando é necessário recrutar técnicos», levando a um forte investimento «na formação e no tempo que demora até que um técnico se encontre qualificado para determinada função».

Outro repto prende-se com a rotatividade e fidelização de profissionais. «A facilidade com que ocorrem os processos de mobilidade interna dentro da Administração Pública, faz-nos “arriscar” formar e qualificar pessoas, que facilmente se deslocam para outros organismos. Na verdade, investimos diversos recursos num determinado trabalhador, o qual pode não produzir efeitos e trabalho prático, no médio e longo prazo, na organização.»

A perspectiva de carreira é também uma dificuldade com que se deparam todos os anos, nomeadamente «na criação de oportunidades que concorram para o desenvolvimento de competências e para o crescimento e consolidação profissional dos trabalhadores». Áreas como metrologia, contratação pública, financeira, design e informática são aquelas onde sentem dificuldade em recrutar colaboradores, partilha a directora.

Para colmatar essa escassez de talento, o IPQ tem apostado em «procedimentos de mobilidade interna ou procedimentos concursais internos à Administração Pública» e no recrutamento de «pessoas com qualificações e/ou experiência profissional menos alinhadas com os perfis exigidos, apostando posteriormente em formação específica e intensiva, com períodos de qualificação superiores, de modo a assegurar que são adquiridas as competências necessárias ao desenvolvimento das actividades, com a autonomia pretendida». É disso exemplo o protocolo com a Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, que proporciona «a redução de propinas aos trabalhadores do IPQ na frequência de ciclos de estudos ao grau de mestre e doutor».

 

O foco na conciliação das três esferas
Além da promoção do desenvolvimento profissional e pessoal e aquisição de competências necessárias através de formação adequada, Susana Santos revela que a política de Recursos Humanos do IPQ assenta na motivação, pilar «directamente relacionado com a política de conciliação entre a vida profissional, familiar e pessoal implementada, e a capacidade de captar e de reter pessoas». Nesse sentido, disponibilizam «um conjunto de medidas promotoras do equilíbrio entre estas três esferas, certificado de acordo com a norma NP 4552».

Uma dessas medidas passa pela flexibilidade horária, modalidade que abrange a maioria dos colaboradores, com duas plataformas fixas. «Mensalmente, os trabalhadores com horário flexível dispõem de um período de 60 minutos que podem ser utilizados para justificar atrasos ou saídas antecipadas no início ou no fim das plataformas fixas, respectivamente», explica. Como forma de compensar os colaboradores pelo trabalho prestado para além das horas obrigatórias, em regime de horário flexível, as horas acumuladas no final de cada mês são consideradas crédito para o mês seguinte.

«Os restantes trabalhadores têm horários fixos, por exemplo, relacionados com licenças de amamentação ou aleitação, ou horário de trabalho específico e individual para aqueles com estatuto de trabalhador-estudante.» Recentemente, fruto da experiência positiva durante os períodos de confinamento e como resultado da auscultação aos colaboradores, «o IPQ passou a disponibilizar a possibilidade de se exercer as funções em teletrabalho, tendo publicado o respectivo regulamento» e disponibilizado computadores portáteis, com câmara, som e sistema telefónico integrado através do Microsoft Teams.

Nas instalações, existem ainda «duas salas equipadas com sistemas de videoconferência que permitem a realização de reuniões, nacionais e internacionais, evitando-se assim deslocações, o que tem impacto positivo», em matéria de conciliação e de impacto ambiental.

A dispensa no dia de aniversário, o incentivo ao gozo de férias em período idêntico aos cônjuges que trabalham no IPQ, e um dia de descanso compensatório remunerado, a gozar num dos três dias úteis seguintes, em caso de prestação de trabalho ao domingo, são também práticas laborais implementadas.

Todos estes temas ligam-se ao do bem-estar, onde se inclui também a saúde. Os colaboradores têm disponível um «serviço de medicina no trabalho uma vez por semana, que prescreve exames com determinada periodicidade, acções de formação, visitas aos postos de trabalho, entre outras». Existe ainda um protocolo celebrado com uma farmácia, que prevê, entre outros benefícios, «a realização de workshops de saúde e bem-estar» para os trabalhadores.

 

Leia o artigo na íntegra na edição de Setembro (nº.153) da Human Resources, nas bancas.

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