Jorge Rebelo de Almeida, Vila Galé: «Para manter os talentos nacionais e atrair os internacionais, é preciso criar condições para isso, nomeadamente uma política de habitação»

Na XXVII Conferência Human Resources dedicada ao tema “A encruzilhada na gestão de Pessoas”, que decorreu ontem no Museu do Oriente em Lisboa, a Conversa de Líderes versou o impacto dos fluxos migratórios na gestão de Pessoas. Para Jorge Rebelo de Almeida, presidente do Grupo Vila Galé, a imigração é necessária mas uma política de habitação é fundamental.

Por Tânia Reis | Foto NC Produções

 

Tendo Portugal a mais alta taxa de população envelhecida da Europa, Ricardo Florêncio, CEO do Multipublicações Media Group, começou por questionar o presidente do Grupo Vila Galé sobre o consequente impacto na gestão de Pessoas. Jorge Rebelo de Almeida recordou que há um histórico e que, em tempos, Portugal foi um país de emigrantes. «Hoje importamos e exportamos muita gente» e isso acontece por uma simples razão, «porque precisamos». Analisando as baixas taxas de natalidade, o presidente do Grupo Vila Galé concluiu que a imigração é necessária, mas realça a importância de se analisar o tema de um ponto de vista não xenófobo, pois um dos principais riscos de a mesma acontecer descontroladamente tem a ver com não dar condições às pessoas que chegam ao nosso País.

«Temos de criar condições» para isso, defende. Infelizmente, a difícil situação pela qual atravessamos resulta numa incapacidade de produzir habitação, pelo que, poder manter os talentos nacionais e atrair os internacionais tem necessariamente de passar por uma política de habitação, defende. E essa é a maior dificuldade sentida pelos 5500 colaboradores que compõem o Grupo Vila Galé, garante Jorge Rebelo de Almeida.

«Muitos jovens vão embora porque não conseguem comprar casa», realçou e por isso vamos ter de «criar incentivos que estão relacionados com a estabilidade, o emprego e a casa». Recorrendo ao provérbio “quando vires a barba do teu vizinho a arder, põe a tua de molho”, o gestor reitera que o tema da imigração é sério, até porque «durante anos as remessas dos emigrantes equilibraram a nossa economia», mas hoje é fundamental «ver os problemas globalmente e procurar soluções de conjunto». No caso da habitação por exemplo, a solução passa por «concentrar energias e esforços em encontrar um conjunto de medidas que de facto produza resultados».

O presidente do Grupo Vila Galé alertou, contudo, para o facto de, actualmente, os jovens terem mais preparação, mas sente que «estão mais conformistas» e lhes falta ambição, «têm um desígnio que parece sobrepor-se a tudo o resto: conforto, não ir à luta, não puxar pela imaginação para fazer coisas».

No caso do grupo hoteleiro, referiu a Academia Vila Galé, que há largos anos disponibiliza formação contínua em parceria com o IEFP, e, ainda que não tenha sido fácil de implementar, estão agora a apostar na formação directa para jovens à procura do primeiro emprego. «Mas para isso também temos de criar atractividade nas carreiras, porque as empresas têm de analisar porque é que muita gente se vai embora», faz notar.

Ainda que considere importantes factores como o ambiente de trabalho, a aprendizagem, a ética e os valores da empresa, os temas «remuneração e a carreira» também são cruciais, pelo que há que criar condições. E exemplifica: «Neste sector fomos pioneiros em aumentar o salário mínimo para 960 euros e perguntamos “é suficiente para proporcionar uma vida boa às pessoas?” Não é e temos absoluta consciência disso.»

Para Jorge Rebelo de Almeida, a origem do problema é o facto de nunca se terem procurado soluções globais. «Se houver um problema na recepção de um hotel, se estiver a funcionar mal, não é por eu aumentar os quadros e pôr mais pessoas que vou melhorar o serviço, tenho de parar, ver o que está errado, reorganizar, corrigir e só depois vou ver se há necessidade de meter mais pessoas.» Hoje é um bocado o que se passa nos sectores da administração publica.

E termina com um apelo: «Os jovens têm de se envolver neste processo, tem de haver ambição, empenho, vontade. Não são os génios que resolvem os problemas do país, são os pequenos contributos de todos nós. E nas empresas é igual. São pequenos contributos que vão resolver e dar resultados importantes.»

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