Lições da sétima arte (de candidatos aos Óscares): Um “Tetris” de ideias

Na lista das nomeações aos Óscares aparecem, por vezes, surpresas, e este filme poderá ser um desses casos. Baseado numa história real, “Tetris”, de Jon S. Baird e com Taron Egerton e Nikita Efremov nos principais papéis, narra as múltiplas peripécias que tornaram possível que o jogo Tetris seja, ainda hoje, um dos mais jogados e mais lucrativos desta indústria.

 

Por Paulo Miguel Martins, professor da AESE Business School e investigador nas áreas de Cinema, História, Comunicação e Mass Media

 

Em 1988, Henk Rogers, um neerlandês residente nos Estados Unidos da América (EUA) e a trabalhar para uma empresa de jogos electrónicos, vai até Las Vegas para uma feira na área de produtos para computadores, software e electrónica. De repente, vê o Tetris a funcionar, fica estupefacto e depressa percebe o potencial daquele jogo, por ser intuitivo, de fácil compreensão e de simples execução.

O protagonista lança então um plano de acção que é uma autêntica lição para quem se dedica aos negócios: identifica os objectivos e desenha uma estratégia por etapas para alcançar essas metas. Define como prioridade conseguir os direitos desse jogo e depois desenvolvê-lo, comercializá-lo e distribuí-lo em larga escala através de alguma empresa que acreditasse no produto de forma tão sincera como ele.

Paralelamente, descobre que o autor do Tetris é Alexei Pajitnov, um russo que trabalha em Moscovo para uma empresa da União Soviética. Decide ir até lá para falar com ele e resolver tudo “cara a cara”, pois uma companhia britânica ligada ao magnata dos mass media Robert Maxwell também estava interessada em ficar com o jogo em sua posse.

A sua ida à Rússia em pleno período da Guerra Fria vai ser um desafio, que consegue vencer graças às conversas que insiste em manter. Quando fala com o criador do jogo, dá-se conta de que ambos partilham das mesmas ideias. Ganham a confiança um do outro, e só juntando os esforços ultrapassam os obstáculos criados pela polícia secreta, o KGB, conseguindo a concordância do responsável da empresa estatal.

Além disso, Henk Rogers decide ir também ao Japão falar com o CEO da Nintendo. Explica claramente a sua visão. É genuíno e franco. Ao saber que a empresa se prepara para lançar uma novidade, o Game Boy, sugere que se coloque no aparelho o Tetris. Arrisca e a sua proposta é aceite. O sucesso é imediato e avassalador!

Para que todo este êxito seja possível, o filme revela dois factores que podem parecer menores, mas que serão decisivos: o primeiro é o próprio Henk contar com o apoio da família. Ela estimula-o a continuar, apesar das falhas, motivando-o a tentar reforçar a vida familiar através do projecto profissional, e é graças à sua mulher que consegue no início um financiamento importante; o segundo factor é o saber fazer aliados onde menos seria de esperar, tratando as pessoas com respeito. Neste caso, uma funcionária do regime soviético, maltratada e humilhada pelas chefias, não hesitará em apoiar Henk ao constatar que o que ele pretende é honesto e, além disso, sabe que ao ajudá-lo levará à queda dos seus superiores, afastando esses corruptos do país.

No final, ainda consegue que Alexei Pajitnov venha viver com a sua família para os EUA. A partir daí, lançam-se em mais iniciativas.

Se algo fica patente neste filme é o valor das ideias. Por isso, num diálogo há uma frase que é essencial: as ideias não têm fronteiras. Com efeito, contando com as pessoas certas, adquirem asas para voar.

 

Este artigo foi publicado na edição de Dezembro (nº. 156) da Human Resources, nas bancas.

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